Quando
nos defrontamos com obras que não obedecem as regras, há geralmente
desconforto. Leonardo Da Vinci disse que arte é mais do que pintar, a
arte requer genialidade humana. Hoje vemos os artistas como criadores, que usam
sua obra para expressar sua visão do mundo.
Durante
séculos o valor de uma obra era calculado com base nos materiais e no tempo de
criação. Hoje, algumas obras são vendidas por dezenas de milhões de dólares.
Em um
mundo, no qual, muita gente abandonou a religião, o público em geral e os
colecionadores tendem a elevar alguns artistas ao estatus de semi-deuses. Os
museus substituiram os templos no mundo moderno. A idéia de que a arte pode ser
um veículo para os valores espirituais não é nova. De fato, há quem acredite
que a arte primitiva servia principalmente como um intermediário entre o homem
e Deus.
O Poder
das Imagens
Os seres
humanos começaram a produzir arte, bem cedo na história. As esculturas mais
antigas, estatuetas de pedra ou marfim, têm mais de 30 mil anos de idade.
Mesmos nesses dias mais remotos, nossos ancetrais desenhavam nas paredes de
profundas cavernas. As pinturas em cavernas que sobreviveram melhor, são as que
estão em partes mais profundas. A temperatura e umidade são constantes o ano
inteiro, é como se tivessem um sistema maravilhoso de controle climático de
museus.
A maioria
das pinturas em cavernas mostra animais. Por muitos anos acreditava-se que
fossem usadas para ensinar os rudimentos da caça e para fins religiosos na
comunicação com os Deuses, mas ainda desconhecemos seu significado verdadeiro.
Os pintores tentaram recriar um rebanho de bisões no outono, quando há um
período em que se unem e fazem o que os especialistas chamam de chafurtar na
poeira. Eles rolam pela terra, é o ritual de fertilidade do bisão e isso está
reproduzido pelo artista no teto da caverna.
No antigo
Egito a arte tinha claramente um propósito religioso. Os egípcios acreditavam
que os espíritos dos mortos poderiam viver eternamente na arte. Essa crença
levou a produção de milhares de retratos durante quase quatro mil anos. Os
artesãos não tentavam ser marginais ou subversivos, eles obedeciam as ordens do
Faraó e dos dignatários ricos. Esse período determinou a relação entre arte e
dinheiro que existe até hoje.
Os
egípcios desenvolveram técnicas eficientes de retratar o corpo humano. Vamos
pensar na lógica das convenções egípcias, mesmo que nos pareçam estranhas. A
única maneira de saber como é o nariz é vendo-o de perfil. Os egípcios sabiam
disso e representavam a cabeça humana de perfil com os olhos voltados para a
frente. Queriam mostrar que a pessoa tinha belos e largos ombros, que são
representados de frente. Se estiver andando será representada dando um passo e
as pernas serão mostradas de lado. Tudo é muito lógico do ponto de vista
egípcio, mesmo que para nós pareça engraçado.
Ao
contrário dos egípcios, os gregos tentavam mostrar espaço e profundidade. Eles
inventaram os cânones, as regras da matemática usadas para demonstrar
movimentos e proporções ideais do corpo humano. Em meados do século V a.C. o
escultor Policleto criou Diadomenos especialmente para ilustrar
os cônones. Os gregos escolhiam belas garotas, belos jovens. Os modelos eram
sempre jovens. Os Diadomenos, de Polícletos, não é só glorioso,
ele tem ritmo. Os ombros, os quadris, os joelhos e os pés, têm ritmo e planos
constrastantes.Há uma ondulação, um movimento conhecido como ciência dos
planos. Mas se você ficar na frente do espelho e tentar reproduzir a posição
exata de Diadomenos, vai dar com a cara no chão, porque a posição não é
natural. Os gregos deram uma dose de intelecto para representar a beleza
natural e pura.
No século
I a.C, os romanos conquistaram a Grécia, mas sem dúvida uma antigo ditado uma
Grécia conquista sempre conquista o seu feroz conquistador. Todos os ricos de
Roma queriam réplicas de estátuas gregas. Nascia a indústria da reprodução.
Na Idade
Média nossa herança greco-romana desapareceu com a dissiminação do
Cristianismo. Os artistas criaram principalmente cenas da vida reliogiosa.
Os
concílios da igreja católica decretavam que certas partes do corpo não deveriam
ser mostradas. Na Nossa Senhora só é possível ver o rosto, não vemos as
orelhas, ela está coberta como uma freira, claro que os hábitos de freira
derivam desse estilo. Era a única forma das pessoas da família sagrada serem
mostradas. Uma contradição direta as representações gregas de deuses, que
poderiam estar completamente nus. Os artesãos eram considerados meros servos de
Deus e trabalhavam na obscuridade. Eles conceberam um paraíso maravilhoso, que
ajudava a esquecer o sofrimento da vida na Terra. As catedrais medievais
brilhavam com afrescos e vitrais que ensinavam as massas analfabetas os
episódios principais da vida de Cristo e dos santos. As obras de arte começaram
a ser assinadas por volta de 1300.
Gioto de
Vandone foi um dos primeiros artistas a ficar famoso. Gioto foi um mestre da
primeira Renascença e com sua intuição ele esbarrava nas leis da perspectiva,
mas não as racionalizava, nem criava teorias. Antes de Gioto veja os missais
como eram ilustrados. Veja os afrescos nas igrejas romanescas, se Deus fosse
mostrado deveria ser muito alto. Os santos eram de estatura média e o povo era
muito pequeno. A hierarquia no desenho, sem perspectiva era espiritual. Gioto
pintava São Francisco recebendo os estígmas de Cristo e com surpresa Cristo e
São Francisco são mesmo tamanho. Gioto viveu em Florênça, uma cidade estado governada
por famílias ricas. No século XIV os florentinos eram grandes colecionadores de
obras antigas. Por toda Itália as pessoas redescobriam a genialidades da arte
greco-romana.
O Artista
e seu Tempo
Leonardo
Da Vinci, grande mestre renascentista, gênio, técnico e científico sonhava
retratar o invisível. Como muitos pintores e escultores da época, Da Vinci
acreditava que os artistas deveriam ter status de criadores. A partir de então,
os artistas foram separados dos artesãos, que eram considerados meros feitores.
Um artista como Rubens ganhava bem. A burguesia rica e os nobres queriam obras
assinadas e pagavam aos artistas na proporção de sua fama. Sabemos, por
exemplo, que Rubens tinha uma fábrica de pintura. Ele contratava ótimos
trabalhadores. Um se especializava em pintura em tecidos, outro pintava frutas
e flores, eram todos especilistas. Rubens chegava e juntava tudo.
Michelângelo
foi outro artista reconhecido em sua época. Profundamente místico, ele
acreditava que a beleza era o caminho pelo qual a humanidade poderia se
comunicar com Deus. O teto da Capela Sistina revela seu talento de mestre.
Do século
XVII em diante as academias determinaram que o trabalho em belas artes era
intelectual. As convenções estéticas das academias eram ditadas pelos maiores
artistas do mundo. Com a crescente influência de Versalles, o centro das artes
passou da Itália para a França. O lugar mais importante e onde ocorreu o
desenvolvimento mais importante foi a França do século XVII em diante. As
idéias de estética, beleza e a forma como devem ser as obras, desse período
teve impacto no resto da europa e nas idéias artisticas ocidentais,
principalmente devido a ascenção de monarcas absolutistas, reis. Quando falamos
nos estilos de Luiz XIV, Luiz XV ou Luiz XVI, isso nos diz alguma coisa, diz
quem decidia o que era belo. Segundo as regras da academia, cenas mostrando
cenas mostrando personas históricos ou mitológicos estavam no topo da
hierarquia. Depois vinham os retratos, as cenas do cotidiano, paisagens e as
naturezas-mortas. Gêneros considerados menores, apesar da popularidade.
No século
XIX, a sobrevivência de um artista dependia de ele ser aceito no salão de
Paris. Edouard Manet ainda era desconhecido quando apresentou o seu Almoço
na Relva, no salão de 1863. O tamanho da obra foi uma surpresa, porque
telas daquelas proporções eram usadas para cenas históricas. Além do mais, Manet
havia misturado gêneros, o nu, o retrato, a paisagem e a natureza-morta. O juri
não gostou do novo estilo e rejeitou a obra. Manet não foi o únicao,
cuja a obra foi considerada deficiente, 3.000 obras foram rejeitadas.
Confrontado com uma onda de protestos, o Imperador Napoleão III ordenou que se
fizesse uma exposição em separado, o Salão dos Recusados. Na exposição a tela
de Manet se tornou o primeiro sucesso escandaloso na história da arte. Depois o
salão oficial aceitou outra tela de Manet. A Bela Olímpia, causou outro
escândalo. Olímpia, cujo a modelo, estava em uma cama sem razão alguma, sem
justificativa. Como naquela época era preciso haver uma razão, uma história, o
público inventou uma história sexual, sófrida e insalubre, baseada em que a
modelo deveria ser uma prostituta de classe baixa em uma cama desfeita. Manet
teve o infortúnio de inventar um estilo, no qual, a única justificativa era a
própria obra, história, mensagem ou significado. Ela abriu uma porta, depois
Cezanne começou a fazer pinturas sem justificativas além da obra em si e
tendência seguiu até a arte moderna.
Criando
uma nova forma de integrar luz e movimento nas telas, os impressionistas e seus
sucessores revolucionaram a pintura. Van Gogh, Renoir, Monet
e Gauguin, fizeram mais que retratar a realidade com exatidão, usaram a
arte como um meio para expressar seu mundo interior.
Aos
poucos os artistas deixaram de lado as técnicas convencionais. Eles exploraram
novos ângulos, novos perspectivas. Em 1907, Picasso pintou a primeira tela
cubista, Senhoritas de Avingnon (Les demoiselles d'Avignon).
Alguns amigos dele, o convidaram a visitar um hospital, onde a infelizes
prostitutas morriam de sífilis e eram basicamente largadas, porque nada poderia
ser feito por elas. Pessoas com sífilis terciárias têm rostos terrivelmente
deformados, o nariz afunda nas bochechas e os olhos ficam saltados. É
aterrador! Quando ele viu aquelas mulheres naquele estado deplorável descobriu
a solução plástica para as detestáveis deformações que faria nas duas mulheres
da obra.
Cada vez
mais os artistas usavam a arte para criticar a sociedade e questionar a ordem
estabelecida. A obra do artista dadaista FrancisPicabia expressa o medo
de a mecanização transformar os seres humanos em robôs. Futuristas italianos
como Umberto Boccioni achavam que a única coisa que se poderia se fazer
com a arte do passado era enterrá-la. Uma das idéias é de que a arte era uma coisa
morta, estavam em museus e era feita para cemitérios Achavam que os museus eram
cemitérios da arte. Deveriam ser explodidos, eliminados. Isto era estranho,
porque quando pensamos na Itália, pensamos na maior arte do mundo. Mas para os
jovens artistas da virada do século, era o passado morto pesando sobre o mundo
que se modernizava.
A arte
abstrata se torna uma das maiores tendências ocidentais. Wassily Kandinsky
foi o precursor. Ele explorou cores formas, linhas. Mas grande movimentos
sociais, modas, estilos de vida e guerras, continuaram a inspirar artistas. A
famosa Guernica de Picasso ilustra os horrores da guerra civil
espanhola.
Embora os
artistas critiquem a sociedade são os primeiros a questionar a si mesmos e seus
propósitos. O pintor Salvador Dali disse que a sua obra pictórica era
uma grande catástrofe, porque os grande pintores modernos estavam presos na
grande decadência que caracteriza a época deles. Quando comparava o trabalho
dele com o de Leonardo Da Vinci, sentia-se humilde.
Nos anos
60, Andy Warhol, tido como o papa da Art Pop, se interessou por
objetos que simabolizam a sociedade consumista americana. Talvez melhor do que
qualquer pessoa, ele possa ter encarnado a crise do homem moderno que se
identificava com a máquina e funcionava como máquina. Dessa grande doença
coletiva, ameaça do materialismo ele desenvolveu uma imagem poderosa que
integrava virtualmente todos os probemas da sociedade americana da época. Andy
Warhol será importante por muito tempo, mesmo que assim como Manet,
não tenha tido idéia da contribuição feita por sua obra.