ANITA MALFATTI - Anita Catarina Malfatti nasceu em 1889
na cidade de São Paulo e cresceu com a cidade progredindo a sua volta, vendo
São Paulo ‘antigo’ tornar-se uma metrópole. Filha de mãe norte-americana e pai
italiano foi à Itália com três anos para uma intervenção cirúrgica no braço e
na mão direitos, atrofiados congenitamente e voltou ao Brasil após longa e
difícil adaptação em 1894, praticamente sem melhoras. Anita não pode se livrar
da atrofia então adestraria mais tarde a mão esquerda. Formou-se em 1908 pelo
Mackenzie, e começou a lecionar, ajudando a mãe, que quando tornou-se viúva,
passou a dar aulas de idiomas e pinturas. A fim de estudar pintura, embarcou
para a Alemanha, em 1910 ingressava no atelier Fritz Burger e no ano seguinte
matriculava-se na Academia Real de Belas Artes, em Berlim. Na adolescência
procurava seu caminho, dirigia seu interesse para a arte, queria saber se
“tinha ou não talento”, de inicio pensou na poesia, mas esse se revelou ser “na
cor e na pintura”. Anita vinha de uma família de engenheiros e construtores,
que desenhavam frequente4mente, por conseguinte acostumou-se cedo ao lápis, ao
nanquim, e mesmo ao óleo. A primeira tela de Anita retrata a cabeça de um velho
com uma enxada no ombro, em cores terrosas mais ou menos entre 1909 e 1910. Em
1912 teve a revelação da arte moderna através das originais de Cezane, Gauguin,
Van Gogh, Matisse e Picasso, e seria a primeira artista brasileira a perceber e
absorver a nova arte, trazendo-a para o Brasil. Na Europa a revolução no campo
da arte vinha de longa data e Malfatti viveu nesse meio até 1914, justamente o
período de amadurecimento do expressionismo. Quando chegou a Europa Anita viu
“pela primeira vez a pintura”, ao visitar os museus ficou ‘tonta’, e não se
atrevia a pintar, desenhou seis meses “dia e noite”. passou a se encaminhar
intuitivamente para formas mais atualizadas de pintura, assim a mais marcante
manifestação de 1912 a
atingiu, a grande retrospectiva da arte moderna em Colônia, e no verão de 1912
começou sua procura dentro da arte moderna.
Regressou em 1914 ao Brasil, realizando sua primeira exposição
individual em 23 de maio, mostrou uma linguagem nova ainda em formação. No fim
desse ano viajou para os Estados Unidos em busca de aprimoração de sua técnica,
ingressou em uma academia para continuar os estudos, mas se desapontou como
método, até que encontrou um filosofo incompreendido e que deixava os outros
pintar à vontade, Anita Malfatti vivia encantada “com a vida e com a pintura”.
O ano de 1916/17 teve um marasmo no meio artístico, as ocasiões para expor eram
raras, mas quando apareceram, Malfatti delas participou. Em 1917 participa do
Salão Nacional de Belas Artes e de uma exposição organizada por Di Cavalcanti,
que a princípio foi bem recebida, mas Anita sentiu-se atingida pelo ataque de
Monteiro Lobato, efetuando assim em 1919 um recuo estático, que demonstra sua
insegurança. Nesse período de depressão, de3 1918 a 1921 aproximadamente,
sua pintura mostra grandes modificações, a partir até da temática, se interessa
por natureza morta, o que chega a ser um ‘nacionalismo’ tipo ‘caipira’. Anita
era uma das expositoras da mostra realizada no Teatro Municipal de São Paulo
como integrante da Semana da Arte Moderna em fevereiro de 1922 e no mesmo ano,
em junho, passou a integrar o grupo dos cinco.
Outra vez seguiu para a Europa em 1923, freqüentando cursos livres de artes, academias e ateliês. Sua procura por uma arte moderna sem excessos não agradou aos modernistas brasileiros que aos poucos foram se afastando da pintora, que com ou sem dúvidas, não deixou de trabalhar com a cor. Essa fase de procura – 1926 e 1927- Anita se apresentou sistematicamente a critica, nos salões e em uma individual. No ano de 1929 declarava à imprensa ter resolvido fazer sua exposição mais completa, com obras anteriores e recentes reunidas. Foi um dos 39 membros fundadores da SPAM e organizou o carnaval na cidade de SPAM em 16 de fevereiro de 1933. Em 1935 e 1937, realizou duas individuais onde o problema da procura de compradores continuava subjacente, a de 35 tinha um catálogo cuidado com a relação de obras expostas, o que foi raro em sua carreira. A individual de 1945 mostra bem os temas que interessavam a Anita Malfatti nos anos 40: retratos e flores, paisagens e cenas populares. A primeira retrospectiva de Anita ganha lugar no Museu de Arte de São Paulo em 1949 e em 1951 participa do I Salão Paulista de Arte Moderna e da I Bienal da São Paulo. A mãe de Anita falecera e isso a levou e se desligar do meio artístico, porém em abril de 1955 apresentou, numa individual no Museu de Arte de São Paulo, sua produção recente, desses anos de retiro, e fazia questão de reafirmar que agora “faz pura e simplesmente arte popular brasileira”. Anita Malfatti faleceu a seis de novembro de 1964, após ter recebido, no ano anterior, uma exposição na Casa do Artista Plástico e uma sala especial na II Bienal de São Paulo.
Outra vez seguiu para a Europa em 1923, freqüentando cursos livres de artes, academias e ateliês. Sua procura por uma arte moderna sem excessos não agradou aos modernistas brasileiros que aos poucos foram se afastando da pintora, que com ou sem dúvidas, não deixou de trabalhar com a cor. Essa fase de procura – 1926 e 1927- Anita se apresentou sistematicamente a critica, nos salões e em uma individual. No ano de 1929 declarava à imprensa ter resolvido fazer sua exposição mais completa, com obras anteriores e recentes reunidas. Foi um dos 39 membros fundadores da SPAM e organizou o carnaval na cidade de SPAM em 16 de fevereiro de 1933. Em 1935 e 1937, realizou duas individuais onde o problema da procura de compradores continuava subjacente, a de 35 tinha um catálogo cuidado com a relação de obras expostas, o que foi raro em sua carreira. A individual de 1945 mostra bem os temas que interessavam a Anita Malfatti nos anos 40: retratos e flores, paisagens e cenas populares. A primeira retrospectiva de Anita ganha lugar no Museu de Arte de São Paulo em 1949 e em 1951 participa do I Salão Paulista de Arte Moderna e da I Bienal da São Paulo. A mãe de Anita falecera e isso a levou e se desligar do meio artístico, porém em abril de 1955 apresentou, numa individual no Museu de Arte de São Paulo, sua produção recente, desses anos de retiro, e fazia questão de reafirmar que agora “faz pura e simplesmente arte popular brasileira”. Anita Malfatti faleceu a seis de novembro de 1964, após ter recebido, no ano anterior, uma exposição na Casa do Artista Plástico e uma sala especial na II Bienal de São Paulo.
Gustav Klimt nasceu em 14 Julho de 1862, em Baumgarten, perto de Viena. Foi o
segundo de sete filhos de Ernst (no caso, o pai), cinzelador de metais
preciosos, e de Anne Finster. Em 1876, Klimt ingressou na Escola de Artes e
Ofícios de Viena, onde é aluno de Ferdinand Laufberger e de Julius Victor
Berger até 1883. Juntou-se ao seu irmão, dois anos mais novo que Klimt, em
1877. Os dois desenhanhavam retratos, a partir de fotografias, vendendo-as a
seis florins* cada um. Em 1879, Klimt, Ernest e
o amigo Franz Matsch, também pintor, decoram o átriode Kunsthistorisches
Museum. Só em 1880, as encomendas do trio sucedem-se: Quatro alegorias para o
teto do Palácio Sturany em
Viena. Teto do estabelecimento termal de Karlsbad na
Tchecoslováquia. O trio decora a Villa Hermès, em 1885, a partir dos desenhos
de Hans Makart, retiro favorito da imperatriz Elisabeth. Em 1886, no
Burgtheater, o estilo de Klimt começa a diferenciar-se do de seu irmão e do de
Matsch, e então começa a se afastar do academismo. Cada um travalha por sua
conta neste ano. Então em 1888
Klimt recebe a Cruz de Ouro de Mérito Artístico das mãos do imperador Francisco
José e em 1890 Klimt decora a grande escadaria de Kunsthistorisches Museum em Viena. Foi premiado
pelo imperador (400 florins) pela obra que representa "A Sala do Antigo
Burgtheater, Viena". Mas em 1892 seu pai faleceu, vitima de apoplexia*, da qual ele também será vitima. No mesmo ano, seu
irmão Ernst morre também. O ministro da
Cultura recusa ratificar a sua nomeação como professor na Academia de
Belas-Artes, em 1893. Contudo em 1894 Klimt é incumbido, com Matsch, da
decoração da Aula Magna da Universidade. Klimt recebeu em Antuérpia o grande
prémio pela decoração do auditório do teatro do Castelo Esterházy em Totis, na
Hungria, isso em 1895. Em 1897 acontece a revolta oficial: membro fundador do
grupo dos secessionistas e Klimt acaba sendo eleito seu presidente. Então
começa a passar os verões com a sua amiga Emile Flöge, em Kammer e na região de
Attersee, onde pinta as primeiras paisagens. Em 1898 Klimt tem sua primeira
exposição da Secessão e fundação pelo grupo do periódico "Ver
Sacrum". Depois teve sua pintura, "A Filosofia", criticada por
87 professores da universidade, em 1900, que rejeitaram-na no momento em que
descobriram ela na exposição da Secessão, e então recebe uma medalha de ouro na
Exposição Universal de Paris. Um novo escandalo aparece em 1901, na exposição
da Secessão. Desta vez são os deputados que interpelam o ministro da Educação a
propósito da pintura "A Medicina". Encontra Auguste Rodin, em 1902,
no qual aplaude a pintura "O Friso Beethoven". Em 1903 visita as
cidades Veneza, Ravena e Florença. No mesmo ano começa o "Período
Dourado". Os painéis para a Aula Magna de Universidade são colocados na
Österreichische Galerie. Klimt protesta. Só então houve uma retrospectiva de
Klimt no Palácio da Secessão. Em 1904 Klimt desenha os cartões para os mosaicos
murais do Palácio Stoclet em Bruxelas que a Wiener Werkstätte executará. Em 1905, Klimt resgata ao
ministro, os painéis para a Aula Magna. Ele e seus amigos abandonam, então, a
Secessão. Logo, em 1907 encontra o jovem Egon Schiele. Pablo Picasso pinta
nesse mesmo ano, o quadro "Les Demoiselles d'Avignon". Expões 16
telas na Kunstschau em 1908.
A Galeria de Arte Moderna compra "As Três Idades da
Vida" e a Österreichische Staatsgalerie compra o quadro "O
Beijo". Logo no ano seguinte (1909) começa a pintar o quadro "O Friso
Stoclet". Então vai a Paris onde descobre com interesse a obra de
Toulouse-Lautrec. Descobre também o fauvismo: Van Gogh, Munch, Toorop, Gauguin,
Bonnard e Matisse, também expostos na Kunstschau. Em 1910 participa com sucesso
na 9ª Bienal de Veneza. E na Exposição Internacional de Roma, 1911, recebe o 1º
premio com o quadro "A Vida e a Morte". Começa a viajar a Florença,
Roma, Bruxelas, Londres e Madrid. Em
1912 Klimt substitui por fundo azul (à maneira de Matisse) o fundo de ouro de
"A Vida e a Morte". Em 1915 sua mãe morre. Klimt começa então, a usar
cores sombrias e suas paisagens tendem para a monocromia. Então, a 1916
participa com Egon Schiele, Kokoschka e Faistauer na exposição do Bund
Österreichische Künstler na Secessão de Berlim. Morre no mesmo ano Francisco
José, dois anos antes do desmembramento do seu império. Inicia "A
Noiva" e "Adão e Eva". É eleito membro da Academia das
Belas-Artes de Viena e de Munique. A 6 de fevereiro de 1918, Klimt morre de
apoplexia. Inúmeras telas ficaram inacabadas. A queda do império e o nacimento
da Republica Alemã da Áustria e de seis Estados que daí resultam. Morrem no mesmo
ano: Egon Schiele, Otto Wagner, Ferdinand Hodler e Koloman Moser.
Renoir
nasceu em Limonges, no dia 25 de fevereiro de 1841. O pai era um alfaiate que
se mudou para Paris onde o jovem artista, aos quatorze anos, entrou como
aprendiz numa firma de pintores de porcelana. Seu talento natural para as cores
recebeu nova direção quando ele passou nos exames para a Ecole des Beux-Arts,
ingressando no ateliê Charles Gleyre onde conheceu outros jovens pintores que,
mais tarde, seriam rotulados impressionistas. Os
primeiros trabalhos desses rapazes foram ridicularizados pelas instituições
artísticas parisienses e tiveram sua exposição recusada pelo Salão oficial.
Para sobreviver, Renoir pintava retratos convencionais, mas também expunha suas
obras rejeitadas pelo Salão no Salon des Refusés. Pintor
francês que, junto com Monet, amigo pessoal, formou o núcleo do grupo
impressionista. Uma visita à Itália, entre 1881 e 1882, inspirou-o a buscar
maior consistência para sua obra. As figuras tornaram-se mais imponentes e
formais, e muitas vezes abordou temas da mitologia clássica. Nos seus últimos
anos de vida, também dedicou-se à escultura, com o auxílio de assistentes.
Embora Pierre Auguste Renoir fosse um dos fundadores do Impressionismo e um
pintor e um pintor revolucionário, sua verdadeira ambição, descoberta somente
em 1881 quando esteve na Itália, era ser um artista em grande estilo
renascentista, como Ticiano. Antes disso, sua pintura era decorativa, com uma
delicada percepção de cor que havia desenvolvido como aprendiz de pintura em porcelana.
No ateliê Gleyre, Renoir fez amizade com Claude Monet e os
dois começaram a pintar juntos, principalmente em Argenteuil, perto de Paris,
onde Monet tinha uma casa que se tornou ponto de encontro desses novos
pintores. Em 1874, cansados de serem
rejeitados pelo Salão, vários desses artistas, inclusive Renoir, Monet, Sisley
e Berthe Morisot, organizaram sua própria exposição. Renoir incluiu sete
quadros nesta mostra, que não foi um sucesso financeiro mas deu aos pintores o
nome de "Impressionistas", termo que no início era usado como uma
forma de ridicularizá-los. Na segunda Exposição Impressionista, em 1876, Renoir
apresentou 15 trabalhos. Neste período, seus quadros estavam agradando cada vez
mais, como Madame Charpentier e suas filhas alcançando um enorme
sucesso no Salão em 1879. Aí aconteceu a sua viagem à Itália, em 1881. Ele ficou tão
impressionado com o trabalho dos renascentistas italianos que chegou à
conclusão de que nada sabia de desenho, e muito pouco de pintura. A parti daí,
firmaria o seu traço e abandonaria aos poucos a maneira impressionista de
aplicar as tintas em pequenas pinceladas, passando a usar o método tradicional
de espalhá-las em camadas e vernizes. A
visita de Cézanne em L'Estaque, perto de Marselha, ao voltar da Itália par
casa, confirmou esta sua nova abordagem. Cézanne havia rompido com Impressionismo
para desenvolver um rígido estilo estrutural próprio. Renoir, então,
concentrou-se em criar as suas próprias e novas técnicas. Seu Guarda-chuvas,
pintado durante vários anos, no início da década de 1880, foi uma composição
formal cheia de planos de cores e com rígida estrutura de um quadro de Cézanne.
Em 1885 nasce Pierre, filho de Renoir e Aline Charigot, há muito tempo sua
amante e modelo. Três anos depois, visitando Cézanne em Aix-en-Provance, Renoir
descobriu Cagnes que passou a ser sua residência de inverno quando começou a
sofrer de artrite e reumatismo. Passava longos períodos no sul com Aline, agora
sua esposa, somando à família mais dois meninos: Jean, nascido em 1894, que
seria um dos maiores diretores de cinema na França, Claude (Coco), nascido em 1901. A casa em Cagnes, Les
Colletes, que Renoir construiu em 1907, se tornou um importante refúgio para o
trabalho e a vida doméstica. Piorando da artrite, Renoir sentia cada vez mais
dificuldades para segurar os pincéis e acabou tendo que amarrá-los às mãos.
Começou também a esculpir, na esperança de poder expressar seu espírito
criativo através da modelagem, mas até para isso ele precisou de ajuda, que
veio na forma de dois jovens artistas, Richard Gieino e Louis Morel, que
trabalhavam segundo suas instruções. Apesar das graves limitações físicas,
Renoir continuou trabalhando até o último dia de sua vida. Sua grande tela
exposta no Louvre, As Banhistas, foi terminada em 1918. Em 1917, ele recebeu a
visita de um jovem pintor chamado Henri Matisse, que estava destinado a
transportar suas idéias sobre cor a uma nova era. Renoir morreu em Cagnes, no
dia 3 de dezembro de 1919, aos 78 anos, e reconhecido como um dos maiores
pintores da França. Percebendo que traço firme e riqueza de colorido eram
coisas incompatíveis, Renoir concentrou-se em combinar o que tinha aprendido
sobre cor, durante seu período impressionista, com métodos tradicionais de
aplicação de tinta. o resultado foi uma série de obras-primas bem no estilo
Ticiano, assim como de Fragonard e Boucher, a quem ele admirava. Os trabalhos
que Renoir incluiu em uma mostra individual de 70, organizada pelo marchand
Paul Durand-Ruel, foram elogiados, e seu primeiro reconhecimento oficial veio
quando o governo francês comprou Ao Piano, em 1892.
Salvador
Dalí - Pintor espanhol, representante do surrealismo, pintou algumas
das obras clássicas dessa escola, empregando desenho refinado e técnica
meticulosa para criar imagens provocativas e alucinadas que se chamava
"sonhos fotográficos pintados à mão". Salvador Dalí foi um grande artista
que era também um grande promotor de si mesmo e showman. A combinação foi uma
fórmula irresistível para o sucesso. Dalí, com os bigodes arrogantemente
arrebitados, tornou-se uma figura familiar para milhões de pessoas que nunca
tinham chegado perto de uma galeria de arte. Dalí era espanhol, nascido em 11
de maio de 1904, na pequena cidade catalã de Figueras. De certo modo, o mundo
interior de Dalí era Figueras, a planície de Ampurdán onde ela se localiza, a
aldeia de pescadores, logo atrás das montanhas, e o vizinho Port Lligat onde
ele construiu seu lar. Estes são os cenários da grande maioria de seus
trabalhos, até mesmo quando o fundo é ocupado por uma crucificação ou por uma
guerra civil. Proveniente de
uma família sólida de classe média, amigos ricos e cultos incentivavam o jovem
Dalí e o mantinham extraordinariamente bem informado sobre os desenvolvimentos
no mundo das artes. Ele já tinha uma bagagem artística muito boa quando foi
estudar pintura em Madri (1921-6), e o período teve mais importância pelas amizades
que fez com o poeta Lorca e o diretor de cinema Luis Buñuel, com quem filmou o
famoso Un Chien Andalou (1929). A partir de 1929, Dalí foi sendo cada vez mais
atraído pelo Surrealismo. Este movimento sediado em Paris, influenciado pelas
teorias relativamente novas de Sigmund Freud, criava obras ditadas pelo
inconsciente através dos sonhos, com a escrita automática e outros
procedimentos voltados para libertar o artista da tirania da racionalidade. Em
1929, com a ajuda da mulher que seria sua amante, esposa, "zeladora"
e musa, Gala Eluard, o pintor se estabeleceu como membro do grupo. Gala parece
ter salvo Dalí de uma grave crise mental, e sem a sua ajuda e fé no gênio dele,
talvez ele não tivesse tido tanto sucesso; por outro lado, foi Gala, cada vez
mais gananciosa e extravagante, que o incentivou a comercializar e
freqüentemente banalizar sua arte. O próprio Dalí promoveu um culto exagerado a
Gala, cujos diversos aparecimentos em suas obras culminaram em imagens quase
deificadas. Dalí pintou suas obras mais famosas, e provavelmente as
melhores, na década de 1929-39, usando um "método crítico-paranóico"
que ele mesmo imaginou. Este método envolvia várias formas de associações
irracionais, notadamente imagens que variavam conforme a percepção do observador,
de tal maneira que um grupo de soldados guerreando pudesse de repente ser visto
como o rosto de uma mulher. Uma característica distintiva da arte de Dalí é
que, além de serem fantásticas, elas eram sempre pintadas com uma técnica
"acadêmica" impecável e precisão "fotográfica" que a
maioria dos artistas de vanguarda contemporâneos considerava fora de moda. No final da década de 1930, Dalí estava
começando a ser reconhecido nos Estados Unidos, onde as atitudes em relação às
novidades artísticas eram menos conservadoras do que no Velho Mundo. O início
da Segunda Guerra Mundial e a vitória dos alemães sobre a França, em 1940,
levaram Dalí a fugir para os EUA, onde ficou oito anos. A América proporcionou
inúmeras oportunidades para ele usar seu talento e também despertou deu lado
exibicionista. Tornou-se uma supercelebridade, encenando happenings muito antes
da invenção deste termo, e eventualmente até aparecendo em comerciais de TV.
Entretanto, Dalí também continuava
trabalhando muito e com seriedade, mantendo-se prolífero como artista,
projetista e escritor. Viveu o bastante para se tornar um ícone da geração
hippie e criar um monumento pessoal fantástico na forma do Museu Dalí em
Figueras, todo um ambiente repleto de objetos e murais bizarramente criativos.
Os últimos anos da Dalí foram obscurecidos por um distanciamento de Gala,
embora ele se sentisse arrasado com sua morte em 1982. Subseqüentemente,
crescia a preocupação com a quantidade de obras falsas circulando atribuídas a
Dalí. Ele mesmo foi culpado disso, porque é claro que foi induzido a assinar
centenas, talvez milhares, de folhas em branco que seriam obviamente usadas de
forma ilícita. Perdurou virtualmente como um espectro vivo até sua morte, em 20
de janeiro de 1989. Está enterrado no Museu Dalí em sua terra natal.
Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 6 de setembro de 1897, no Rio de
Janeiro, na casa de José do Patrocínio, que era casado com uma tia do futuro
pintor. Quando seu pai morre em 1914, Di obriga-se a trabalhar e faz
ilustrações para a Revista Fon-Fon. Antes que os trepidantes anos 20 se
inaugurem vamos encontrá-lo estudando na Faculdade de Direito. Em 1917
transferindo-se para São Paulo ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São
Francisco. Segue fazendo ilustrações e começa a pintar. O jovem Di Cavalcanti
freqüenta o atelier do impressionista George Elpons e torna-se amigo de Mário e
Oswald de Andrade. Em 1921 casa-se com Maria, filha de um primo-irmão de seu
pai. Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922
idealiza e organiza a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo,
cria para essa ocasião as peças promocionais do evento: catálogo e programa.
Faz sua primeira viagem à Europa em 1923, permanecendo em Paris até 1925.
Freqüenta a Academia Ranson. Expõe em diversas cidades: Londres, Berlim,
Bruxelas, Amsterdan e Paris. Conhece Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean
Cocteau e outros intelectuais franceses. Retorna ao Brasil em 1926 e ingressa
no Partido Comunista. Segue fazendo ilustrações. Faz nova viagem a Paris e cria
os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro. Os anos 30 encontram um Di Cavalcanti imerso
em dúvidas quanto a sua liberdade como homem, artista e dogmas partidários.
Inicia suas participações em exposições coletivas, salões nacionais e internacionais
como a International Art Center em Nova Iorque. Em 1932, funda em São Paulo, com Flávio de
Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos. Sofre
sua primeira prisão em 1932 durante a Revolução Paulista. Casa-se com a pintora Noêmia Mourão.
Publica o álbum A Realidade Brasileira, série de doze desenhos satirizando o
militarismo da época. Em Paris, em 1938, trabalha na rádio Diffusion Française
nas emissões Paris Mondial. Viaja ao Recife e Lisboa onde expõe no salão “O Século”
quando retorna é preso novamente no Rio de Janeiro. Em 1936 esconde-se na Ilha
de Paquetá e é preso com Noêmia. Libertado por amigos, seguem para Paris, lá
permanecendo até 1940. Em 1937 recebe medalha de ouro com a decoração do
Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris. Com a iminência
da Segunda Guerra deixa Paris. Retorna ao Brasil, fixando-se em São Paulo. Um lote
de mais de quarenta obras despachadas da Europa não chegam ao destino,
extraviam-se. Passa a combater abertamente o abstracionismo através de
conferências e artigos. Viaja para o Uruguai e Argentina, expondo em Buenos Aires. Conhece
Zuíla, que se torna uma de suas modelos preferidas. Em 1946 retorna à Paris em
busca dos quadros desaparecidos, nesse mesmo ano expõe no Rio de Janeiro, na
Associação Brasileira de Imprensa. Ilustra livros de Vinícius de Morais,
Álvares de Azevedo e Jorge Amado. Em 1947 entra em crise com Noêmia Mourão -
"uma personalidade que se basta, uma artista, e de temperamento muito complicado...".
Participa com Anita Malfatti e Lasar Segall do júri de premiação de pintura do
Grupo dos 19. Segue criticando o abstracionismo. Expõe na Cidade do México em
1949. É convidado e participa da I Bienal de São Paulo, 1951. Faz uma doação generosa
ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, constituída de mais de quinhentos
desenhos. Beryl Tucker Gilman passa a ser sua companheira. Nega-se a participar
da Bienal de Veneza. Recebe a láurea de melhor pintor nacional na II Bienal de
São Paulo, prêmio dividido com Alfredo Volpi. Em 1954 o MAM, Rio de Janeiro,
realiza exposição retrospectivas de seus trabalhos. Faz novas exposições na Bacia do Prata, retornando à Montevidéu e
Buenos Aires. Publica Viagem de minha vida. 1956 é o ano de sua participação na
Bienal de Veneza e recebe o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de
Trieste. Adota Elizabeth, filha de Beryl. Seus trabalhos fazem parte de
exposição itinerante por países europeus. Recebe proposta de Oscar Niemayer
para a criação de imagens para tapeçaria a ser instalada no Palácio da Alvorada
também pinta as estações para a Via-sacra da catedral de Brasília. Ganha Sala Especial na Bienal
Interamericana do México, recebendo Medalha de Ouro. Torna-se artista exclusivo
da Petite Galerie, Rio de Janeiro. Viagem a Paris e Moscou. Participa da
Exposição de Maio, em Paris, com a tela Tempestade. Participa com Sala Especial
na VII Bienal de São Paulo. Recebe indicação do presidente João Goulart para
ser adido cultural na França, embarca para Paris e não assume por causa do
golpe de 1964. Vive em Paris com Ivette Bahia Rocha, apelidada de Divina. Lança
novo livro, Reminiscências líricas de um perfeito carioca e desenha jóias para
Lucien Joaillier. Em 1966 seus trabalhos desaparecidos no início da deácada de
40 são localizados nos porões da Embaixada brasileira. Candidata-se a uma vaga
na Academia Brasileira de Letras, mas não se elege. Seu cinquentenário
artístico é comemorado. A modelo Marina Montini é a musa da década.
Em 1971 o Museu de Arte Moderna de São Paulo organiza retrospectiva de sua obra
e recebe prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Comemora seus 75
anos no Rio de Janeiro, em seu apartamento do Catete. A Universidade Federal da
Bahia outorga-lhe o título de Doutor Honoris Causa. Faz exposição de obras
recentes na Bolsa de Arte e sua pintura Cinco Moças de Guaratinguetá é
reproduzido em selo.
Falece no Rio de Janeiro em 26 de Outubro de 1976.
Joan Miró nasceu em 20 de abril de 1893 em Barcelona. Cursou
a Escola de Belas Artes de Barcelona, sua cidade natal. Essa era a sua vontade
desde criança mas teve que lutar muito para conseguir isso porque os seus pais
o pressionavam para os estudos dos ofícios comerciais. O resultado dessa
pressão é que o jovem Miró acabou por desistir de estudar, foi trabalhar no
comércio e teve uma profunda depressão, necessitando de tratamento de saúde. O
mundo da arte é cheio dessas histórias onde o artista luta contra toda a
família para conseguir ser artista. Quando chega o sucesso, claro, toda a
família passa a viver em função dele. Miro é classificado entre os surrealistas
mas a sua linguagem parece dotada de uma simplicidade mais infantil que não
caracteriza exatamente os surrealistas. Entretanto, é preciso muitas vezes
compreender o que deseja o autor para poder visualizar melhor a pintura. No
quadro "Personagem atirando pedras em um pássaro" o personagem tem,
de alguma maneira, a forma de um pássaro mas sabe-se que o pássaro é a outra
entidade porque voa. O mar negro, em contraste com as cores fortes do céu e da
terra mostram que o artista não se limitava pela naturalidade das cores. O
efeito é de grande profundidade e vigor e a terra parece movimentar-se em seu
amarelo marcante. A pedra, no meio do caminho, não define por si mesmo em que
direção faz o percurso. O uso de frases quase explicativas nos títulos das
obras é bem interessante e as vezes muito facilitador. O título de
"personagem" é também muito comum e identifica exatamente isso:
alguma entidade não muito definida e que exerce uma ação. A mente de Miró
mostrou-se muito criativa ao longo de sua vida. Durante os seus estudos de arte
treinava, por orientação dos seus professores, a desenhar objetos que conhecia
apenas através do tato. De olhos vendados, lhe era dado um objeto e depois
então o desenhava para libertar-se da aparência real das coisas. Também
treinava pintando paisagens gravadas na mente. Ia a um lugar, observava e
depois voltava para o atelier para começar a trabalhar. Talvez esses
exercícios, somados a uma tendência natural, tenham feito de Miró uma mente
privilegiada. Joan Miró deixou-se
prazerosamente influenciar por todas as correntes de arte com que tomou
contato. Influências cubistas, surrealistas, abstracionistas são facilmente
percebidas em seus trabalhos e a maneira de ver dos cubistas combina fortemente
com a sua visão das coisas. A sua admiração pela pintura clássica encontrada
desde cedo em sua origem na Catalunha mistura-se com a admiração pela escola
flamenga e por fortes traços por onde foi passando. Aquilo tudo ia sendo
absorvido, processado, misturado, temperado e apresentado, ao final, como uma
maneira própria e extremamente rica de interpretar o mundo. Miró procurava
mostrar a realidade de uma forma simplificada, quase infantil, simbólica, sem a
complexidade e o mistério de um surrealismo tipo Salvador Dali ou René Magritte
mas isso é, por si mesmo, cheio de uma profundidade que ele não enfatizou. Essa forma interpretativa através de símbolos
preenche completamente grande parte dos seus quadros, onde tudo é mostrado unicamente
através de traços, símbolos e sugestões. Para compreender Miró é preciso
imaginação mas isso não o diferencia da maior parte dos artistas. Não há como
compreender verdadeiramente as coisas sem um pouco de imaginação e
criatividade, especialmente se estivermos falando de arte, essa coisa sem
limite e sem regras universais. Alguns quadros não foram feitos para se ver mas
para se viver. Miró alternou fases
de dificuldade financeira intensa com fases de prosperidade mas aos poucos foi
afirmando-se como um artista do primeiro time. Viajou bastante, morou em
diversos lugares sem nunca distanciar-se completamente de suas origens. Depois
de 20 anos na França, voltou para a Espanha refugiando-se da guerra. Ao longo
do tempo ganhou diversos prêmios internacionais de grande importância e teve
uma longa vida produtiva. Joan Miró morreu em 25 de dezembro de 1983, aos 90
anos, em Palma de Maiorca, na Espanha, ainda em atividade. Na última
fase parecia predominar a ausência de cores em seus trabalhos, dedicando grande
espaço ao preto e ao branco. Interessante esse aspecto e ficamos pensando se
isso deveu-se a problemas visuais, comuns na idade muito avançada. O artista trabalhou também com
cerâmica e considerava essa forma de trabalho muito gratificante pois lhe possibilitava
tocar e mexer com os objetos, vasos, pratos, que usava como suporte para o seu
talento. Passou longos anos dedicando-se a isso e o resultado são trabalhos
importantes dentro do contexto de sua vida, embora menos valorizados no
universo dos museus e menos conhecidos do público. Fez ainda litogravuras e
realizou a sua primeira viagem aos Estados Unidos para executar um mural de
grandes dimensões que ocupou 9 meses de intenso trabalho. Diversificado,
versátil, criativo, Joan Miró deixou um legado inesgotável para estudo e
deleite. Criador de novas técnicas nos
trabalhos de cerâmica e de uma maneira peculiar de exercer o ofício de pintor,
Miró foi premiado, agraciado com títulos e homenageado nos 4 cantos do mundo,
superando amplamente todas as dificuldades iniciais encontradas na juventude e
no início da idade adulta. Na última fase de sua carreira foi regiamente pago
por trabalhos encomendados e colocado na galeria dos grandes artistas da
humanidade.
Monet
- Pintor francês, tido como o maior
expoente do Impressionismo. Durante muito tempo Monet foi considerado, como
Cézanne observou, "meramente um olho, mas que olho", traduzindo para
as telas as imagens diante dele. Cézanne foi um pintor intelectual, criador de
uma teoria que se tornou a base da arte moderna; quando ele chamou Monet de
"meramente um olho", não quis dizer o olho mundano através do qual a
maioria de nós vê o mundo. O olho de Monet era o olho de um pintor, um olho com
uma mente criativa por detrás, interpretando a realidade aparente e colocando-a
no contexto das idéias do pintor, criando assim uma nova visão para o
espectador. A abordagem do mundo por
Monet seguia linhas venezianas em vez de florentinas: ele interpretava o mundo
através da cor e não do desenho. Seus ancestrais são Ticiano e Claude, e não
Michelangelo e Poussin. Como seus predecessores, Monet descobriu que a cor tem
suas próprias razões, assim como o desenho, a cor rompe as nítidas exigências
da linha. Monet buscava a verdadeira realidade por trás da aparência visual esticando
a cor até seu limite e procurando, na própria natureza, aquelas nuanças
significantes que expressam a realidade do mundo. Claude Oscar Monet nasceu em Paris, no dia 14 de novembro de
1840. Seu pai era comerciante de secos e molhados e queria que o filho tivesse
uma profissão. O destino decidiu o contrário. Quando Monet estava com cinco
anos, a família se mudou para Le Havre, um agitado porto marítimo na
desembocadura do Sena, perto das espetaculares rochas brancas de Etretat e
Fécamp. O jovem Monet ficou excitado com o movimento das embarcações e com os
variantes humores do mar - eles atraíam seu temperamento naturalmente volátil e
sentimental. No final da
adolescência, ele conheceu Eugène Bodin, pintor que tinha uma loja de pigmentos
em Honfleur. Bodin
viu alguns desenhos do jovem Monet e o encorajou a pintar e, o que é mais, a
pintar ao ar livre, método não muito comum numa época de pintores de ateliê. Entusiasmado com a idéia de
ser pintor, Monet foi para Paris, ingressando na Académie Suisse e no estúdio
Gleyre. Ambos os lugares eram sementeiras para novas gerações de pintores e ali
Monet conheceu Bazille, Pissaro, Renoir, Sisley e outros, os dois últimos se
tornara seus amigos para o resto da vida. Em
1870, Monet casou-se com Camille Doncieux e os dois foram para Trouville passar
a lua-de-mel. De lá, Monet foi até Le Havre e, por motivos que ninguém soube
explicar, mas que provavelmente estavam relacionados com o medo de ter que se
alistar no exército francês, viajou para a Inglaterra no início da Guerra
Franco-Prussiana. Sua mulher teve que ser resgatada por Boudin e enviada depois
dele. Em Londres, para onde Pissaro
também fugira, Monet pintou suas primeiras cenas londrinas. Terminada a guerra,
ele e a mulher voltaram para a França, em 1872, e fixaram residência perto de
Paris, à beira do Sena, em
Argenteuil. Ali, Monet iniciou um fértil período de pinturas
e discussões sobre arte com seus amigos Renoir, Manet e Sisley. Em 1878,
mudou-se novamente para a vizinha Vétheuil. Foi ali que Monet fez amizade com
um rico negociante, Ernest Hoschedé e sua esposa, Alice, que se tornaram
admiradores de seus quadros. Quando os negócios de Hoschedé foram abaixo, ele
desapareceu deixando a mulher e os filhos com Monet. No ano seguinte, sua amada esposa Camille, morreu de tuberculose
meses depois de ter dado à luz o seu segundo filho. Monet registrou o seu leito
de morte em um quadro extraordinário. Depois da morte de Camille, o inquieto
Monet fez várias viagens à Riviera francesa e à italiana, à Normandia e à costa
atlântica da França. Onde ia, pintava, mas não estava contente com o seu
trabalho. Temas diferentes não eram a resposta; o importante era a pintura em
si, o significado da realidade através da cor. Monet
acabou voltando para o campo perto de Paris, alugando e depois comprando uma
casa em Giverny onde começou a plantar um jardim onde pudesse pintar. Em 1891,
começou a sua famosa série de montes de feno nos campos circunvizinhos, em
todas as épocas do ano e condições climáticas. Um ano depois, começou a sua
igualmente famosa série de quadros da Catedral de Rouen. Ao mesmo tempo, pintou
várias vezes o seu jardim em Giverny. Alice Hoschedé
já compartilhava da vida de Monet há alguns anos: as cartas que lhe escreveu
sobre as excursões para pintar, e sobre seus medos e esperanças, dão uma visão
maravilhosa da mente do artista. Quando o marido dela morreu, em 1892, Alice e
Monet se casaram. Monet entrou
numa fase feliz e produtiva da sua vida. Seus trabalhos foram aceitos pelo
Salão Oficial e não lhe faltava dinheiro. Viajava para a Noruega, Veneza,
Londres, mas seu lar, tanto doméstico quanto artístico, era em Giverny. A morte de Alice, em 1911, deixou-o só e
desolado, e ele estava tendo dificuldades para enxergar. Depois de uma operação
de catarata, e usando óculos especiais, pôde continuar trabalhando e foi
incentivado por Georges "Tigre" Clemenceau a terminar a grande série
de nenúfares que o governo francês adquiriu. Embora aclamado como um grande
pintor fanês, o próprio Monet, como a maioria dos artistas, jamais sentiu ter
alcançado a perfeita realização de suas idéias. Morreu no dia 6 de dezembro de
1926.
Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886 na Fazenda São
Bernardo, município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Filha de José
Estanislau do Amaral e Lydia Dias de Aguiar do Amaral. Era neta de José
Estanislau do Amaral, cognominado “o milionário” em razão da imensa fortuna que
acumulou abrindo fazendas no interior de São Paulo. Seu pai herdou apreciável
fortuna e diversas fazendas nas quais Tarsila passou a infância e adolescência.
Estuda em São Paulo no Colégio
Sion e completa seus estudos em Barcelona, na Espanha, onde pinta seu primeiro
quadro, “Sagrado Coração de Jesus”, aos 16 anos. Casa-se em 1906 com André
Teixeira Pinto com quem teve sua única filha, Dulce. Separa-se dele e começa a
estudar escultura em 1916 com Zadig e Mantovani em São Paulo. Posteriormente
estuda desenho e pintura com Pedro Alexandrino. Em 1920 embarca para a Europa
objetivando ingressar na Académie Julian em Paris. Frequenta
também o ateliê de Émile Renard. Em 1922 tem uma tela sua admitida no Salão
Oficial dos Artistas Franceses. Nesse mesmo ano regressa ao Brasil e se integra
com os intelectuais do grupo modernista. Faz parte do “grupo dos cinco”
juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti
del Picchia. Nessa época começa seu namoro com o escritor Oswald de Andrade.
Embora não tenha sido participante da “Semana de 22” integra-se ao Modernismo
que surgia no Brasil, visto que na Europa estava fazendo estudos acadêmicos. Volta à Europa
em 1923 e tem contato com os modernistas que lá se encontravam: intelectuais,
pintores, músicos e poetas. Estuda com Albert Gleizes e Fernand Léger, grandes
mestres cubistas. Mantém estreita amizade com Blaise Cendrars, poeta
franco-suiço que visita o Brasil em 1924. Inicia sua pintura “pau-brasil”
dotada de cores e temas acentuadamente brasileiros. Em 1926 expõe em Paris,
obtendo grande sucesso. Casa-se no mesmo com Oswald de Andrade. Em 1928 pinta o
“Abaporu” para dar de presente de aniversário a Oswald que se empolga com a
tela e cria o Movimento Antropofágico. É deste período a fase antropofágica da
sua pintura. Em 1929 expõe individualmente pela primeira vez no Brasil.
Separa-se de Oswald em 1930. Em 1933
pinta o quadro “Operários” e dá início à pintura social no Brasil. No ano
seguinte participa do I Salão Paulista de Belas Artes. Passa a viver com o
escritor Luís Martins por quase vinte anos, de meados dos anos 30 a meados dos anos 50. De
1936 à 1952, trabalha como colunista nos Diários Associados. Nos anos 50 volta ao tema “pau brasil”.
Participa em 1951 da I Bienal de São Paulo. Em 1963 tem sala especial na VII
Bienal de São Paulo e no ano seguinte participação especial na XXXII Bienal de
Veneza. Faleceu em São Paulo
no dia 17 de janeiro de 1973.
Renoir nasceu em Limonges, no dia 25 de fevereiro de 1841. O pai
era um alfaiate que se mudou para Paris onde o jovem artista, aos quatorze
anos, entrou como aprendiz numa firma de pintores de porcelana. Seu talento
natural para as cores recebeu nova direção quando ele passou nos exames para a
Ecole des Beux-Arts, ingressando no ateliê Charles Gleyre onde conheceu outros
jovens pintores que, mais tarde, seriam rotulados impressionistas. Os primeiros trabalhos desses rapazes
foram ridicularizados pelas instituições artísticas parisienses e tiveram sua
exposição recusada pelo Salão oficial. Para sobreviver, Renoir pintava retratos
convencionais, mas também expunha suas obras rejeitadas pelo Salão no Salon des
Refusés. Pintor
francês que, junto com Monet, amigo pessoal, formou o núcleo do grupo
impressionista. Uma visita à Itália, entre 1881 e 1882, inspirou-o a buscar
maior consistência para sua obra. As figuras tornaram-se mais imponentes e formais,
e muitas vezes abordou temas da mitologia clássica. Nos seus últimos anos de
vida, também dedicou-se à escultura, com o auxílio de assistentes. Embora
Pierre Auguste Renoir fosse um dos fundadores do Impressionismo e um pintor e
um pintor revolucionário, sua verdadeira ambição, descoberta somente em 1881
quando esteve na Itália, era ser um artista em grande estilo renascentista,
como Ticiano. Antes disso, sua pintura era decorativa, com uma delicada
percepção de cor que havia desenvolvido como aprendiz de pintura em porcelana.
No ateliê Gleyre, Renoir fez amizade com Claude Monet e os
dois começaram a pintar juntos, principalmente em Argenteuil, perto de Paris,
onde Monet tinha uma casa que se tornou ponto de encontro desses novos
pintores. Em 1874,
cansados de serem rejeitados pelo Salão, vários desses artistas, inclusive
Renoir, Monet, Sisley e Berthe Morisot, organizaram sua própria exposição.
Renoir incluiu sete quadros nesta mostra, que não foi um sucesso financeiro mas
deu aos pintores o nome de "Impressionistas", termo que no início era
usado como uma forma de ridicularizá-los. Na segunda Exposição Impressionista, em 1876, Renoir
apresentou 15 trabalhos. Neste período, seus quadros estavam agradando cada vez
mais, como Madame Charpentier e suas filhas alcançando um enorme
sucesso no Salão em 1879. Aí aconteceu a sua viagem à Itália, em 1881. Ele ficou tão
impressionado com o trabalho dos renascentistas italianos que chegou à
conclusão de que nada sabia de desenho, e muito pouco de pintura. A parti daí,
firmaria o seu traço e abandonaria aos poucos a maneira impressionista de
aplicar as tintas em pequenas pinceladas, passando a usar o método tradicional
de espalhá-las em camadas e vernizes. A visita de
Cézanne em L'Estaque, perto de Marselha, ao voltar da Itália par casa,
confirmou esta sua nova abordagem. Cézanne havia rompido com Impressionismo
para desenvolver um rígido estilo estrutural próprio. Renoir, então,
concentrou-se em criar as suas próprias e novas técnicas. Seu Guarda-chuvas,
pintado durante vários anos, no início da década de 1880, foi uma composição
formal cheia de planos de cores e com rígida estrutura de um quadro de Cézanne. Na segunda Exposição
Impressionista, em 1876, Renoir apresentou 15 trabalhos. Neste período, seus
quadros estavam agradando cada vez mais, como Madame Charpentier e
suas filhas alcançando um enorme sucesso no Salão em 1879. Percebendo que traço
firme e riqueza de colorido eram coisas incompatíveis, Renoir concentrou-se em
combinar o que tinha aprendido sobre cor, durante seu período impressionista,
com métodos tradicionais de aplicação de tinta. o resultado foi uma série de
obras-primas bem no estilo Ticiano, assim como de Fragonard e Boucher, a quem
ele admirava. Os trabalhos que Renoir incluiu em uma mostra individual de 70,
organizada pelo marchand Paul Durand-Ruel, foram elogiados, e seu primeiro
reconhecimento oficial veio quando o governo francês comprou Ao Piano, em 1892. Em 1885 nasce Pierre,
filho de Renoir e Aline Charigot, há muito tempo sua amante e modelo. Três anos
depois, visitando Cézanne em Aix-en-Provance, Renoir descobriu Cagnes que
passou a ser sua residência de inverno quando começou a sofrer de artrite e
reumatismo. Passava longos períodos no sul com Aline, agora sua esposa, somando
à família mais dois meninos: Jean, nascido em 1894, que seria um dos maiores
diretores de cinema na França, Claude (Coco), nascido em 1901. A casa em Cagnes, Les
Colletes, que Renoir construiu em 1907, se tornou um importante refúgio para o
trabalho e a vida doméstica. Piorando da artrite, Renoir sentia cada vez mais
dificuldades para segurar os pincéis e acabou tendo que amarrá-los às mãos.
Começou também a esculpir, na esperança de poder expressar seu espírito
criativo através da modelagem, mas até para isso ele precisou de ajuda, que
veio na forma de dois jovens artistas, Richard Gieino e Louis Morel, que
trabalhavam segundo suas instruções. Apesar das graves limitações físicas, Renoir continuou
trabalhando até o último dia de sua vida. Sua grande tela exposta no Louvre, As
Banhistas, foi terminada em 1918. Em 1917, ele recebeu a visita de um jovem
pintor chamado Henri Matisse, que estava destinado a transportar suas idéias
sobre cor a uma nova era. Renoir morreu em Cagnes, no dia 3 de dezembro de
1919, aos 78 anos, e reconhecido como um dos maiores pintores da França.
Vincent Van Gogh - Pintor e desenhista holandês, ao lado
de Cézanne e Gauguin, o maior dos pós-impressionistas. Durante toda a vida
vendeu um só quadro, travando uma amarga batalha contra a pobreza, o alcoolismo
e a insanidade. Vincent Van Gogh não se enquadra em nenhuma escola de pintura,
embora sua extraordinária percepção das cores possa ter se originado das
teorias impressionistas. Foi depois de se juntar ao irmão Théo, em Paris, e
conhecer os "Impressionistas" que van Gogh começou a abandonar os
tons escuros que até então usara, preferindo as cores puras primárias e
secundárias, e adotar as pinceladas irregulares que davam uma sensação de
luminosidade e leveza aos quadros impressionistas. Começou também a pintar a ar
livre, hábito que conservou até morrer. A técnica de pinceladas firmes e
carregadas que criou para seu próprio uso, aplicadas sem hesitação,
permitiu-lhe pintar rapidamente e produzir um vasto número de obras nos últimos
dois anos e meio de sua vida. Vincent William Van Gogh nasceu em Groot-Zundert, uma
cidadezinha em Brabante, no dia 30 de março de 1853. O pai era pastor
protestante e van Gogh herdou dele o forte sentimento religioso pela vida e
pela natureza que caracterizou o seu trabalho. Ele e o irmão mais novo, Théo,
eram muito amigos e este não só incentivou o seu desejo de ser pintor como, na
verdade, sustentou-o financeiramente nos últimos anos de sua vida. O primeiro
emprego de Vincent foi nas filiais de Paris, Bruxelas e Londres da Goupil e
Cie, empresa que negociava objetos de arte fundada por seu tio. Mais tarde,
tentou ensinar em Londres e, depois, trabalhou pregando nas minas e distritos
agrícolas pobres de Brabante. Foi aí que van Gogh começou a expressar nos seus
desenhos o que sentia pelas pessoas que o cercavam. Vivia tão pobre quanto
elas, ao lado de uma prostituta que tomara a seus cuidados, mas a sua dedicação
cristã foi mal compreendida e a sua igreja o censurou. Mais tarde, um amor não correspondido levou-o a tentar
o suicídio. Em 1880, van Gogh resolvera estudar arte em Bruxelas e Haia, acabou
por juntar-se ao irmão Théo, que trabalhava para o Goupil et Cie em Paris. Ali, van Gogh
conheceu Degas, Pissarro, Signac, Seurat, Toulouse-Lautrec, Monet e Renoir, e
descobriu a sua verdadeira vocação. Depois de dois anos em Paris, durante os quais pintou mais
de duzentos quadros com a ajuda financeira do irmão, van Gogh foi para Arles,
no sul da França. Alugou um estúdio num local batizado de Casa Amarela e ali
esperou que o amigo Gauguin viesse lhe fazer companhia. Gauguin relutava mas,
como Théo era o seu marchand, sentiu-se obrigado a passar algum tempo com
Vincent. Os dois homens estabeleceram-se em Arles, mas a tensão entre eles era
muito grande, principalmente devido ao temperamento exaltado de van Gogh, e
Gauguin anunciou que ia voltar para Paris. Uma noite, percebeu que estava sendo
seguido pelos jardins públicos de Arles por van Gogh que o ameaçava com uma
lâmina de barbear ou faca. Gauguin dormiu aquela noite no hotel e, no dia
seguinte, voltando a Casa Amarela, soube que tinham levado van Gogh para o
hospital. Vincent cortara parte da orelha e a dera de presente a uma prostituta
do bar que os dois costumavam freqüentar. Depois disso, van Gogh retirou-se voluntariamente para um
asilo para doentes mentais em St-Rémy-de-Provence, onde esperava recuperar a
confiança em si mesmo e a estabilidade mental. Enquanto esteva internado,
pintou sem parar e escrevia ao irmão e a Gauguin garantindo-lhes que já estava
curado. Outros se seguiram; van Gogh percebeu que era vítima de uma doença
incurável. Em 1890 deixou St-Rémy e o clima ameno do sul e, seguindo
o conselho de Pissarro, foi para Auvers-sur-Oise, onde um certo Dr. Gachet
cuidou dele. Ali continuou pintando mas, depois de uma visita a Paris, onde
soube das dificuldades financeiras do irmão e da doença do sobrinho, van Gogh
teve uma recaída. Um dia, enquanto pintava ao ar livre em Auvers, deu um tiro
no peito. O ferimento não parecia ser muito grave. Dr.Gachet fez o curativo e
chamou Théo em Paris. Dois
dias depois, em 29 de julho de 1890, Vincent van Gogh morria. Foi enterrado no
cemitério de Auvers.
Leonardo Da Vinci - Pintor italiano, foi o maior
retratista de seu tempo; nenhum artista antes dele havia capturado de maneira
tão convincente a vivacidade das feições e o espírito individual. Leonardo Da Vinci resumiu o ideal
renascentista do polímata - artista, contador de anedotas, músico, cientista,
matemático e engenheiro -, um homem de muitos talentos, com uma insaciável
curiosidade e sede de conhecimento. Nasceu em Anchiano, um vilarejo perto da
cidadezinha de Vinci, em 15 de abril de 1452. Filho de um tabelião e de uma
camponesa, Catarina, com quem o pai tinha uma ligação um tanto irregular.
Leonardo cresceu no campo, onde desenvolveu um grande amor pela natureza.
Quando menino pediram-lhe que desenhasse um escudo para um amigo do pai. Dizem
que ele fez um bestiário extraordinário, baseado na observação real de
lagartos, grilos, cobras, borboletas, gafanhotos e morcegos. Segundo os
registros, foi nesta ocasião que ele revelou seu fascínio pelas formas móveis,
retorcidas e vivas. Está registrado também que ele gostava de cavalos e os
conhecia profundamente. Eles aparecem com tanto destaque nos seus trabalhos da maturidade
que isto parece ser bastante provável. Algum tempo antes de 1469, Leonardo foi
com pai morar em Florença e, em 1472, foi aceito como membro da guilda de São
Lucas, a guilda dos pintores. Seu mestre foi Andrea Verrocchio, e os registros
mostram que ele continuava empregado na oficina de Verrocchio, na vila
dell'Agnolo, em 1476. É difícil avaliar a influência de Verrocchio sobre o
jovem Leonardo. As formas curvas e retorcidas usadas pelo mestre certamente
encontraram eco no seu aluno. As pinturas de Verrocchio possuem uma certa
grandiosidade, mas não despertam realmente a imaginação, enquanto que as
esculturas são mais fortes e parecem ter influenciado mais Leonardo. Não
existem provas consistentes de quando Leonardo foi para Milão, mas a primeira encomenda
lá, documentada, é de 1483. O motivo da sua ida para aquela cidade não está
claro; mas ele pode ter se sentido atraído pela estimulante atmosfera da corte
dos Sforza, com muitos médicos, cientistas, engenheiros militares e
matemáticos. Havia outros motivos para ele deixar Florença: os altos impostos
faziam com que alguns mecenas nunca pagassem pelo trabalho que encomendavam; a
competição profissional era extremamente dura; e a guerra e a peste eram fortes
ameaças físicas. Leonardo se estabeleceu
na corte do Duque Lodovico, onde, além de pintar, seu protetor exigia seus
serviços para diferentes tarefas - supervisionar pagens e instalar
"aquecimento central", por exemplo. Este tipo de papel deve ter
agradado imensamente tanto ao caráter quanto ao intelecto de Leonardo. De fato,
numa carta, ele se descreve como engenheiro e, só de passagem, faz uma
referência às suas pinturas. Durante este período também pintou retratos,
executou uma importante encomenda, A Última ceia, e terminou grande parte do
trabalho preliminar para o monumento aos Sforza, que nunca chegou a ser
fundido. Em 2 de outubro de 1498,
Leonardo recebeu um propriedade fora da Porta Vercellina de Milão e foi
indicado ingenere camerale. Esperava-se uma invasão dos franceses e ele ficou
muito ocupado planejando a defesa da cidade, embora dois outros grandes
trabalhos datem deste mesmo período. Colaborou também com o matemático Luca
Pacioli na Divina Proprotione - os dois homens tinham ficado muito amigos desde
a chegada de Pacioli a Milão. Pintou
A última ceia em 1497. Os franceses
invadiram Milão em 1499 e Lodovico foi preso e enviado para França. Leonardo,
junto com Luca Pacioli, deixou Milão depois de 18 anos com os Sforza.
Provavelmente foi direto para Mântua, onde fez o retrato de Isabella D'Este. Em
24 de abril de 1500, ele voltou para Florença e encontrou uma cidade diferente
da que tinha deixado cerca de 20 anos antes, passando por uma onda de
revitalização do interesse religioso e com idéias republicanas na política.
Leonardo conquistou quase de imediato o agrado do público, após exibir o seu
cartão da Virgem e Sant'Ana planejado para ser um retábulo. Nesta época,
Michelangelo tinha já assegurada a sua reputação em Florença. Estes
dois gigantes nunca gostaram um do outro e Leonardo não fazia segredo do fato
de considerar a escultura inferior à pintura, mas a fama de Michelangelo era um
fator de atrito. Novamente, Leonardo
trabalhou como engenheiro; drenando pântanos, desenhando mapas e projetando um
sistema de canais. Em Urbino, conheceu Nicolò Machiavelli, e este encontro
levaria a uma íntima associação e a sua mais importante encomenda. Enquanto
isso, produzia magníficos desenhos a pastel vermelho de Cesare Borgia. Em 1503, entrou nos seus três anos de
maior produção como pintor. Seu quadro mais famoso, Monalisa, com
seu sorriso enigmático, pode ter sido pintado nesta época. Grande parte dos
trabalhos de Leonardo em Florença, feitos no período de 1503 e 1507, se perdeu,
inclusive Leda. Achava a mecânica da pintura uma coisa entediante e preferiu
concentrar suas habilidades imaginativas no desenho e no planejamento de suas
composições. Como resultado da sua florescente associação com Machiavelli,
Leonardo recebeu uma encomenda para pintar um afresco na Sala del Gran
Consiglio do Palazzo Vecchio. Começou trabalhar no cartão para o afresco - a
Batalha de Anghiari - em outubro de 1503, mas parece que o progresso foi lento.
Leonardo terminou seu cartão no final de 1504 e começou a pintar usando uma
técnica incomum e possivelmente incáustica. A tinta secou de forma desigual e a
pintura não deu certo. O aresco ficou inacabado mas, depois, foi feita uma
moldura especial para a parte terminada e há quem a considere a melhor coisa a
se ver numa visita a Florença . Posteriormente foi repintada por Vasari.
Durante o ano de 1507, Leonardo trabalhou para o Rei da França, embora seu
mecenas imediato fosse Charles d'Amboise , lord de Chaumant e governador de
Milão. De muitas formas, d'Amboise reinstalou as glórias da corte dos Sforza.
Leonardo estava no seu elemento, trabalhando como pintor, engenheiro e
conselheiro artístico em geral. D'Amboise morreu em 1511, mas Leonardo
permaneceu em Milão até 24 de setembro de 1513. Depois foi para Roma, levado,
como tantos, por Giovani de Medici que havia se tornado recentemente Papa Leão
X. Leonardo se instalou no Belvedere
do Vaticano, mas a agitação provocada pelos principais artistas do país e suas
comitivas, vivendo todos juntos, não lhe agradava. a incontestável posição de
Michelangelo em Roma, resultante do seu trabalho na Capela Sistina, também lhe
era intragável. Talvez a fascinação obsessiva de Leonardo pelo poder da água e
os seus diversos esboços para o Dilúvio reflitam uma turbulência mental e
espiritual. O último quadro
pintado por Leonardo que sobreviveu é, quase certamente, São João e deve ter
sido feito em 1514-1515. Em março de 1516, Leonardo aceitou o convite de
Francisco I para morar na França e ganhou uma propriedade rural perto de Cloux.
Em 10 de outubro de 1517, recebeu a visita do Cardeal Luís de Aragão, cujo
secretário escreveu um relatório do encontro. Ele menciona três quadros, dois
que podemos identificar como sendo Virgem e o Menino com Sant'Ana e São João, o
terceiro é um retrato de uma dama florentina. Ele também afirma que Leonardo estava
sofrendo de um tipo de paralisia na mão direita. Leonardo era canhoto, mas esta
observação pode ter, na verdade, se referido à sua mão "de trabalho",
significando a esquerda. Observando-se os manuscritos, fica óbvio que esta
paralisia não impediu Leonardo de usar os dedos, porque sua letra estava clara
e firme como sempre. Alguns desenhos, entretanto, mostram uma falta de firmeza
e precisão que sugerem que o problema possa ter afetado o movimento do braço.
Em 2 de maio de 1519, Leonardo morreu em Cloux. Deixou os desenhos e
manuscritos para o amigo fiel Francesco Melzi, enquanto viveu, Melzi guardou as
obras com todo carinho, mas cometeu a insensatez de não incluir no seu
testamento nenhuma cláusula que garantisse a continuidade deste cuidado. O filho,
Orazio, que não tinha o mínimo interesse por artes ou ciências, deixou que esta
inestimável coleção se deteriorasse, se perdesse, fosse roubada ou vandalizada
de uma maneira que só se pode descrever como criminosa.
Michelangelo, pintor, escultor, poeta, arquiteto, gênio italiano.
Ele revolucionou a concepção da pintura mural com os afrescos da Capela
Sistina; escultor insuperável que, ao lado de Donatello e Verrochio, elevou a
escultura italiana a um nível espetacular, atingido apenas pelos gregos.
Gênio!!! Michelangelo nasceu a 6 de
março de 1475, em Caprese, província florentina. Seu pai, Lodovico di Lionardo
Buonarroti Simoni, era um homem violento, "temente de Deus". Sua mãe,
Francesca di Neri di Miniato del Sera, morreu quando Michelangelo tinha seis
anos. Eram cinco irmãos: Leonardo, Michelangelo, Buonarroto, João Simão e
Sigismundo. Michelangelo
foi entregue aos cuidados de uma ama de leite cujo marido era cortador de
mármore da aldeia vizinha de Settignano. Mais tarde, brincando, Michelangelo
atribuirá a esse fato sua vocação de escultor. Brincadeira ou não, o certo é
que na escola enchia os cadernos de exercícios com desenhos, totalmente
desinteressado das lições sobre outras matérias. Por causa disso, mais de uma
vez foi espancado pelo pai e pelos irmãos de seu pai, a quem parecia vergonhoso
ter um artista na família, justamente uma família de velha e aristocrática
linhagem florentina, mencionada nas crônicas locais desde o século XII. E o
orgulho familiar jamais abandonará Michelangelo. Ele preferirá a qualquer
título, mesmo o mais honroso, a simplicidade altiva de seu nome: "Não sou
o escultor Michelangelo. Sou Michelangelo Buonarroti."
Aos 13 anos, sua obstinação vence a do pai: ingressa, como aprendiz, no estúdio de Domenico Ghirlandaio, já então considerado mestre da pintura de Florença. Mas o aprendizado é breve, cerca de um ano, pois Michelangelo irrita-se com o ritmo do ensino, que lhe parece moroso, e além disso considera a pintura uma arte limitada: o que busca é uma expressão mais ampla e monumental. Diz-se também que o motivo da saída do jovem foi outro: seus primeiros trabalhos revelaram-se tão bons que o professor, enciumado, preferiu afastar o aluno. Entretanto nenhuma prova confirma essa versão. Deixando Ghirlandaio, Michelangelo entra para a escola de escultura que o mecenas Lourenço, o Magnífico, riquíssimo banqueiro e protetor das artes em Florença, mantinha nos jardins de São Marcos. Lourenço interessa-se pelo novo estudante: aloja-o no palácio, faz com que sente à mesa de seus filhos. Michelangelo está em pleno ambiente físico e cultural do Renascimento italiano. A atmosfera, poética e erudita, evoca a magnificência da Grécia antiga, seu ideal de beleza - baseado no equilíbrio das formas -, sua concepção de mundo - a filosofia de Platão, Michelangelo adere plenamente a esse mundo. Ao produzir O Combate dos Centauros, baixo-relevo de tema mitológico, sente-se não um artista italiano inspirado nos padrões clássicos helênicos, mas um escultor grego da verdade. Em seu primeiro trabalho na pedra, com seus frisos de adolescentes atléticos e distantes, reinam a força e a beleza impassíveis, como divindades do Olimpo. Na Igreja del Carmine, Michelangelo copia os afrescos de Masaccio. Nos jardins de Lourenço, participa de requintadas conversas sobre filosofia e estética. Mas seu temperamento irônico, sua impaciência com a mediocridade e com a lentidão dos colegas, lhe valem o primeiro - e irreparável - choque com a hostilidade tios invejosos. Ao ridicularizar o trabalho de um companheiro, Torrigiano dei Torrigiani - vaidoso e agressivo -, este desfechou-lhe um golpe tão violento no rosto que lhe achatou para sempre o nariz. Mancha que nunca mais se apagará da sua sensibilidade e da sua retina, a pequena deformação lhe parecerá daí por diante um estigma - o de um mundo que o escorraça por não aceitar a grandeza do seu gênio - e também uma mutilação ainda mais dolorosa para quem, como ele, era um sofisticado esteta, que considerava a beleza do corpo uma legítima encarnação divina na forma passageira do ser humano. Em 1490, Michelangelo tem 15 anos. É o ano em que o monge Savonarola começa a inflamada pregação mística que o levará ao governo de Florença. O anúncio de que a ira Deus em breve desceria sobre a cidade atemoriza o jovem artista: sonhos e terrores apocalípticos povoam suas noites. Lourenço, o Magnífico, morre em 1492. Michelangelo deixa o palácio. A revolução estoura em 1494. Michelangelo, um mês antes, fugira para Veneza. Longe do caos em que se convertera a aristocrática cidade dos Medicis, Michelangelo se acalma. Passa o inverno em Bolonha, esquece Savonarola e suas profecias, redescobre a beleza do mundo. Lê Petrarca, Boccaccio e Dante. Na primavera do ano seguinte, passa novamente por Florença. Esculpe o Cupido Adormecido - obra "pagã" num ambiente tomado de fervor religioso - vai a Roma, onde esculpe Baco Bêbedo, Adônis Morrendo. Enquanto isso, em Florença, Savonarola faz queimar livros e quadros - " as vaidades e os anátemas". Logo, porém, a situação se inverte. Os partidários do monge começam a ser perseguidos. Entre eles, está um irmão de Michelangelo, Leonardo - que também se fizera monge durante as prédicas de Savonarola. Michelangelo não volta. Em 1498, Savonarola é queimado. Michelangelo se cala. Nenhuma de suas cartas faz menção a esses fatos. Mas esculpe a Pietà, onde uma melancolia indescritível envolve as figuras belas e clássicas. A tristeza instalara-se em Michelangelo. Na primavera de 1501, veio por fim a Florença. Nesse mesmo ano, surgirá de suas mãos a primeira obra madura. Um gigantesco bloco de mármore jazia abandonado há 40 anos no recinto pertencente à catedral da cidade. Tinha sido entregue ao escultor Duccio, que nele deveria talhar a figura de um profeta, Duccio porém faleceu repentinamente e o mármore ficou à espera. Michelangelo decidiu trabalhá-lo. O resultado foi o colossal Davi, símbolo de sua luta contra o Destino, como Davi ante Golias. Uma comissão de artistas, entre os quais estavam nada menos que Leonardo da Vinci, Botticelli, Filippino Lippi e Perugino, interroga Michelangelo sobre o lugar onde deveria ficar a estátua que deslumbra a todos que a contemplam. A resposta do mestre é segura: na praça central de Florença, defronte ao Palácio da Senhoria. E para esse local a obra foi transportada. Entretanto, o povo da cidade, chocado com a nudez da figura, lapidou a estátua, em nome da moral. Da mesma época data a primeira pintura (que se conheça) de Michelangelo. Trata-se de um tondo - pintura circular - cujas formas e cores fariam com que, posteriormente, os críticos o definissem como obra precursora da escola "maneirista". É A Sagrada Família. Pode-se ver que, mesmo com o pincel, Michelangelo não deixa de ser escultor. Ou, como ele próprio dizia: "Uma pintura é tanto melhor quanto mais se aproxime do relvo". Em março de 1505, Michelangelo é chamado a Roma pelo Papa Júlio II. Começa então o período heróico de sua vida. A idéia de Júlio II era a de mandar construir para si uma tumba monumental que recordasse a magnificência da antiga Roma com seus mausoléus suntuosos e solenes. Michelangelo aceita a incumbência com entusiasmo e durante oito meses fica em Carrara, meditando sobre o esquema da obra e selecionando os mármores que nela seriam empregados. Enormes blocos de pedra começam a chegar a Roma e se acumulam na Praça de São Pedro, no Vaticano. O assombro do povo mistura-se à vaidade do papa. E à inveja de outros artistas. Bramante de Urbino, arquiteto de Júlio II, que fora freqüentes vezes criticado com palavras sarcásticas por Michelangelo, consegue persuadir o papa a que desista do projeto e o substitua por outro: a reconstrução da Praça de São Pedro. Em janeiro de l506, Sua Santidade aceita os conselhos de Bramante. Sem sequer consultar Michelangelo, decide suspender tudo: o artista está humilhado e cheio de dívidas. Michelangelo parte de Roma. No dia seguinte, Bramante, vitorioso, começa a edificação da praça. No entanto, Júlio II quer o mestre de volta. Esse recusa, tergiversa. Finalmente, encontra-se com o papa em Bolonha e pede-lhe perdão por ter-se ido. Uma nova incumbência aguarda Michelangelo: executar uma colossal estátua de bronze para ser erguida em Bolonha. São inúteis os protestos do artista de que nada entende da fundição desse metal. Que aprenda, responde-lhe o caprichoso papa. Durante 15 meses, Michelangelo vive mil acidentes na criação da obra. Escreve ao irmão: "Mal tenho tempo de comer. Dia e noite, só penso no trabalho. Já passei por tais sofrimentos e ainda passo por outros que, acredito, se tivesse de fazer a estátua mais uma vez, minha vida não seria suficiente: é trabalho para um gigante." O resultado não compensou. A estátua de Júlio II, erguida em fevereiro de 1508 diante da igreja de São Petrônio, teria apenas quatro anos de vida. Em dezembro de 1511, foi destruída por uma facção política inimiga do papa e seus escombros vendidos a um certo Alfonso d'Este, que deles fez um canhão. De regresso a Roma, Michelangelo deve responder a novo capricho de Júlio II: decorar a Capela Sistina. O fato de que o mestre era antes de tudo um escultor não familiarizado com as técnicas do afresco não entrava nas cogitações do papa. Todas as tentativas de fugir à encomenda são inúteis. O Santo Padre insiste - segundo alguns críticos, manejado habilmente por Bramante que, dessa forma, desejaria arruinar para sempre a carreira de Michelangelo - e o artista acaba cedendo mais uma vez. A incumbência - insólita e extravagante - é aceita. Dia 10 de maio de 1508, começa o gigantesco trabalho. A primeira atitude do artista é recusar o andaime construído especialmente para a obra por Bramante. Determina que se faça outro, segundo suas próprias idéias. Em segundo lugar, manda embora os pintores que lhe haviam sido dados como ajudantes e instrutores na técnica do afresco. Terceiro, resolve pintar não só a cúpula da capela mas também suas paredes. É a fase de Michelangelo herói. Herói trágico. Tal como Prometeu, rouba ao Olimpo o fogo de sua genial inspiração, embora os abutres das vicissitudes humanas não deixem de acossá-lo. O trabalho avança muito lentamente. Durante mais de um ano, o papa não lhe paga um cêntimo sequer. Sua família o atormenta com constantes pedidos de dinheiro. A substância frágil das paredes faz logo derreter as primeiras figuras que esboçara. Impaciente com a demora da obra, o papa constantemente vem perturbar a concentração do artista para saber se o projeto frutificava. O diálogo é sempre o mesmo: "Quando estará pronta a minha capela?" - "Quando eu puder!" Irritado, Júlio II faz toda a sorte de ameaças. Chega a agredir o artista a golpes de bengala. Michelangelo tenta fugir de Roma. O papa pede desculpas e faz com que lhe seja entregue - por fim - a soma de 100 ducados. O artista retoma a tarefa. No dia de Finados de 1512, Michelangelo retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. A decoração estava pronta. A data dedicada aos mortos convinha bem à inauguração dessa pintura terrível, plena do Espírito do Deus que cria e que mata. Todo o Antigo Testamento está aí retratado em centenas de figuras e imagens dramáticas, de incomparável vigor e originalidade de concepção: o corpo vigoroso de Deus retorcido e retesado no ato supremo da criação do Universo; Adão que recebe do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem; Adão e Eva expulsos do Paraíso a embriaguez de Noé e o Dilúvio Universal; os episódios bíblicos da história do povo hebreu e os profetas que anunciam o Messias. São visões de um esplendor nunca dantes sonhado, imagens de beleza e genialidade, momentos supremos do poder criador do homem. No olhar de Júlio II naquele dia de Finados de 1512 já se prenunciavam os olhares de milhões de pessoas que, ao longo dos séculos e vindas de todas as partes do mundo, gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as ideologias políticas, se deslumbrarão diante da mais célebre obra de arte do mundo ocidental. Vencedor e vencido, glorioso e alquebrado, Michelangelo regressa a Florença. Vivendo em retiro, dedica-se a recobrar as forças minadas pelo prolongado trabalho; a vista fora especialmente afetada e o mestre cuida então de repousá-la. Mas o repouso é breve: sempre inquieto, Michelangelo volta a entregar-se ao projeto que jamais deixara de amar; o túmulo monumental de Júlio II. Morto o papa em fevereiro de 1513, no mês seguinte o artista assina um contrato comprometendo-se a executar a obra em sete anos. Dela fariam parte 32 grandes estátuas. Uma logo fica pronta. É o Moisés - considerada a sua mais perfeita obra de escultura. Segue-se outra, Os Escravos, que se acha no Museu do Louvre, doada ao soberano Francisco I pelo florentino Roberto Strozzi, exilado na França, que por sua vez a recebera diretamente do mestre em 1546. Como breve foi o repouso, breve foi a paz. O novo papa, Leão X, decide emular seu antecessor como protetor das artes. Chama Michelangelo e oferece-lhe a edificação da fachada da Igreja de São Lourenço, em Florença. E o artista, estimulado por sua rivalidade com Raffaello - que se aproveitara de sua ausência e da morte de Bramante para tornar-se o soberano da arte em Roma -, aceita o convite, sabendo que precisaria suspender os trabalhos relacionados com a tumba de Júlio II. O pior, porém, é que após anos de esforços ingentíssimos, após mil e uma dificuldades, Leão X anulou o contrato com o artista. Só com o sucessor de Leão X, o Papa Clemente VII, Michelangelo encontra novamente um mecenas que o incita a trabalhar arduamente: deverá construir a capela e a tumba dos Medicis, sendo-lhe paga uma pensão mensal três vezes superior à que o artista exigira. Mas o destino insiste em turvar seus raros momentos de tranqüilidade: em 1527, a guerra eclode em Florença e Michelangelo, depois de ajudar a projetar as defesas da cidade, prefere fugir, exilando-se por algum tempo em Veneza. Restabelecida a paz, o Papa Clemente, fiel a seu nome, perdoa-lhe os "desvarios"" políticos e o estimula a reencetar o trabalho da Capela dos Medicis. Com furor c desespero, Michelangelo dedica-se à obra. Quando o interrogam sobre a escassa semelhança das estátuas com os membros da poderosa família, ele dá de ombros; "Quem perceberá este detalhe daqui a dez séculos?". Uma a uma emergem de suas mãos miraculosas as alegorias da Ação, do Pensamento e as quatro estátuas da base: O Dia, A Noite, A Aurora e O Crepúsculo, terminadas em 1531, Toda a amargura de suas desilusões, a angústia dos dias perdidos e das esperanças arruinadas, toda a melancolia e todo o pessimismo refletem-se nessas obras magníficas e sombrias. Com a morte de Clemente VII em 1534, Michelangelo - odiado pelo Duque Alexandre de Medicis - abandona mais uma vez Florença. Agora, porém, seu exílio em Roma será definitivo. Nunca mais seus olhos contemplarão a cidade que tanto amou. Vinte e um anos haviam passado desde sua última estada em Roma: nesse período, produzira três estátuas do monumento inacabado de Júlio II, sete estátuas inacabadas do monumento inacabado dos Medicis, a fachada inacabada da Igreja de São Lourenço, o Cristo inacabado da Igreja de Santa Maria sobre Minerva e um Apolo inacabado para Baccio Valori. Nesses vinte e um anos, perdeu a saúde, a energia, a fé na arte e na pátria. Nada parecia mantê-lo vivo: nem a criação, nem a ambição, nela a esperança. Michelangelo tem 60 anos e um desejo: morrer. Roma, entretanto, lhe trará novo alento: a amizade com Tommaso dei Cavalieri e com a Marquesa Vittoria Colonna, afastando-o do tormento e da solidão, permite-lhe aceitar a oferta de Paulo III, que o nomeia arquiteto-chefe, escultor e pintor do palácio apostólico. De 1536 a 1541, Michelangelo pinta os afrescos do Juízo Universal na Capela Sistina. Nada melhor que suas próprias idéias sobre pintura para definir essa obra e o homem que a criou: "A boa pintura aproxima-se de Deus e une-se a Ele... Não é mais do que uma cópia das suas perfeições, uma sombra do seu pincel, sua música, sua melodia... Por isso não basta que o pintor seja um grande e hábil mestre de seu ofício. Penso ser mais importante a pureza e a santidade de sua vida, tanto quanto possível, a fim de que o Espírito Santo guie seus pensamentos..." Terminados os afrescos da Sistina, Michelangelo crê enfim poder acabar o monumento de Júlio II. Mas o papa, insaciável, exige que o ancião de 70 anos pinte os afrescos da Capela Paulina - A Crucifixão de São Pedro e A Conversão de São Paulo. Concluídas em 1550, foram suas últimas pinturas. Durante todo esse tempo, os herdeiros do Papa Júlio II não cessaram de perseguir o artista pelo não cumprimento dos vários contratos por ele assinados para o término da obra. O quinto contrato seria cumprido. Em janeiro de 1545, inaugurava-se o monumento. O que restara do plano primitivo? Apenas o Moisés, no início um detalhe do projeto, agora o centro do monumento executado. De qualquer forma, Michelangelo estava livre do pesadelo de toda a sua vida. Os últimos anos do mestre ainda foram fecundos, embora numa atividade diferente: a arquitetura. Dedicou-se ao projeto de São Pedro, tarefa que lhe custou exaustivos esforços devido às intrigas que lhe tramaram seus acirrados inimigos. Projetou também o Capitólio - onde se reúne o Senado italiano - e a Igreja de São João dos Florentinos (cujos planos se perderam). Ainda encontra energias para esculpir. Renegando cada vez mais o mundo, Michelangelo busca uma união mística com o Cristo. Sua criação, como a de Botticelli no final da vida, é toda voltada para as cenas da Paixão. De pé, aos 88 anos de idade, ele elabora penosa e amorosamente uma Pietà, até que a doença o acorrente em definitivo ao leito, onde - com absoluta lucidez - dita um testamento comovente, pedindo "regressar pelo menos já morto" à sua adorada e inesquecível Florença, doando sua alma a Deus e seu corpo à terra. O seu gênio, ele já o tinha legado à humanidade.
Aos 13 anos, sua obstinação vence a do pai: ingressa, como aprendiz, no estúdio de Domenico Ghirlandaio, já então considerado mestre da pintura de Florença. Mas o aprendizado é breve, cerca de um ano, pois Michelangelo irrita-se com o ritmo do ensino, que lhe parece moroso, e além disso considera a pintura uma arte limitada: o que busca é uma expressão mais ampla e monumental. Diz-se também que o motivo da saída do jovem foi outro: seus primeiros trabalhos revelaram-se tão bons que o professor, enciumado, preferiu afastar o aluno. Entretanto nenhuma prova confirma essa versão. Deixando Ghirlandaio, Michelangelo entra para a escola de escultura que o mecenas Lourenço, o Magnífico, riquíssimo banqueiro e protetor das artes em Florença, mantinha nos jardins de São Marcos. Lourenço interessa-se pelo novo estudante: aloja-o no palácio, faz com que sente à mesa de seus filhos. Michelangelo está em pleno ambiente físico e cultural do Renascimento italiano. A atmosfera, poética e erudita, evoca a magnificência da Grécia antiga, seu ideal de beleza - baseado no equilíbrio das formas -, sua concepção de mundo - a filosofia de Platão, Michelangelo adere plenamente a esse mundo. Ao produzir O Combate dos Centauros, baixo-relevo de tema mitológico, sente-se não um artista italiano inspirado nos padrões clássicos helênicos, mas um escultor grego da verdade. Em seu primeiro trabalho na pedra, com seus frisos de adolescentes atléticos e distantes, reinam a força e a beleza impassíveis, como divindades do Olimpo. Na Igreja del Carmine, Michelangelo copia os afrescos de Masaccio. Nos jardins de Lourenço, participa de requintadas conversas sobre filosofia e estética. Mas seu temperamento irônico, sua impaciência com a mediocridade e com a lentidão dos colegas, lhe valem o primeiro - e irreparável - choque com a hostilidade tios invejosos. Ao ridicularizar o trabalho de um companheiro, Torrigiano dei Torrigiani - vaidoso e agressivo -, este desfechou-lhe um golpe tão violento no rosto que lhe achatou para sempre o nariz. Mancha que nunca mais se apagará da sua sensibilidade e da sua retina, a pequena deformação lhe parecerá daí por diante um estigma - o de um mundo que o escorraça por não aceitar a grandeza do seu gênio - e também uma mutilação ainda mais dolorosa para quem, como ele, era um sofisticado esteta, que considerava a beleza do corpo uma legítima encarnação divina na forma passageira do ser humano. Em 1490, Michelangelo tem 15 anos. É o ano em que o monge Savonarola começa a inflamada pregação mística que o levará ao governo de Florença. O anúncio de que a ira Deus em breve desceria sobre a cidade atemoriza o jovem artista: sonhos e terrores apocalípticos povoam suas noites. Lourenço, o Magnífico, morre em 1492. Michelangelo deixa o palácio. A revolução estoura em 1494. Michelangelo, um mês antes, fugira para Veneza. Longe do caos em que se convertera a aristocrática cidade dos Medicis, Michelangelo se acalma. Passa o inverno em Bolonha, esquece Savonarola e suas profecias, redescobre a beleza do mundo. Lê Petrarca, Boccaccio e Dante. Na primavera do ano seguinte, passa novamente por Florença. Esculpe o Cupido Adormecido - obra "pagã" num ambiente tomado de fervor religioso - vai a Roma, onde esculpe Baco Bêbedo, Adônis Morrendo. Enquanto isso, em Florença, Savonarola faz queimar livros e quadros - " as vaidades e os anátemas". Logo, porém, a situação se inverte. Os partidários do monge começam a ser perseguidos. Entre eles, está um irmão de Michelangelo, Leonardo - que também se fizera monge durante as prédicas de Savonarola. Michelangelo não volta. Em 1498, Savonarola é queimado. Michelangelo se cala. Nenhuma de suas cartas faz menção a esses fatos. Mas esculpe a Pietà, onde uma melancolia indescritível envolve as figuras belas e clássicas. A tristeza instalara-se em Michelangelo. Na primavera de 1501, veio por fim a Florença. Nesse mesmo ano, surgirá de suas mãos a primeira obra madura. Um gigantesco bloco de mármore jazia abandonado há 40 anos no recinto pertencente à catedral da cidade. Tinha sido entregue ao escultor Duccio, que nele deveria talhar a figura de um profeta, Duccio porém faleceu repentinamente e o mármore ficou à espera. Michelangelo decidiu trabalhá-lo. O resultado foi o colossal Davi, símbolo de sua luta contra o Destino, como Davi ante Golias. Uma comissão de artistas, entre os quais estavam nada menos que Leonardo da Vinci, Botticelli, Filippino Lippi e Perugino, interroga Michelangelo sobre o lugar onde deveria ficar a estátua que deslumbra a todos que a contemplam. A resposta do mestre é segura: na praça central de Florença, defronte ao Palácio da Senhoria. E para esse local a obra foi transportada. Entretanto, o povo da cidade, chocado com a nudez da figura, lapidou a estátua, em nome da moral. Da mesma época data a primeira pintura (que se conheça) de Michelangelo. Trata-se de um tondo - pintura circular - cujas formas e cores fariam com que, posteriormente, os críticos o definissem como obra precursora da escola "maneirista". É A Sagrada Família. Pode-se ver que, mesmo com o pincel, Michelangelo não deixa de ser escultor. Ou, como ele próprio dizia: "Uma pintura é tanto melhor quanto mais se aproxime do relvo". Em março de 1505, Michelangelo é chamado a Roma pelo Papa Júlio II. Começa então o período heróico de sua vida. A idéia de Júlio II era a de mandar construir para si uma tumba monumental que recordasse a magnificência da antiga Roma com seus mausoléus suntuosos e solenes. Michelangelo aceita a incumbência com entusiasmo e durante oito meses fica em Carrara, meditando sobre o esquema da obra e selecionando os mármores que nela seriam empregados. Enormes blocos de pedra começam a chegar a Roma e se acumulam na Praça de São Pedro, no Vaticano. O assombro do povo mistura-se à vaidade do papa. E à inveja de outros artistas. Bramante de Urbino, arquiteto de Júlio II, que fora freqüentes vezes criticado com palavras sarcásticas por Michelangelo, consegue persuadir o papa a que desista do projeto e o substitua por outro: a reconstrução da Praça de São Pedro. Em janeiro de l506, Sua Santidade aceita os conselhos de Bramante. Sem sequer consultar Michelangelo, decide suspender tudo: o artista está humilhado e cheio de dívidas. Michelangelo parte de Roma. No dia seguinte, Bramante, vitorioso, começa a edificação da praça. No entanto, Júlio II quer o mestre de volta. Esse recusa, tergiversa. Finalmente, encontra-se com o papa em Bolonha e pede-lhe perdão por ter-se ido. Uma nova incumbência aguarda Michelangelo: executar uma colossal estátua de bronze para ser erguida em Bolonha. São inúteis os protestos do artista de que nada entende da fundição desse metal. Que aprenda, responde-lhe o caprichoso papa. Durante 15 meses, Michelangelo vive mil acidentes na criação da obra. Escreve ao irmão: "Mal tenho tempo de comer. Dia e noite, só penso no trabalho. Já passei por tais sofrimentos e ainda passo por outros que, acredito, se tivesse de fazer a estátua mais uma vez, minha vida não seria suficiente: é trabalho para um gigante." O resultado não compensou. A estátua de Júlio II, erguida em fevereiro de 1508 diante da igreja de São Petrônio, teria apenas quatro anos de vida. Em dezembro de 1511, foi destruída por uma facção política inimiga do papa e seus escombros vendidos a um certo Alfonso d'Este, que deles fez um canhão. De regresso a Roma, Michelangelo deve responder a novo capricho de Júlio II: decorar a Capela Sistina. O fato de que o mestre era antes de tudo um escultor não familiarizado com as técnicas do afresco não entrava nas cogitações do papa. Todas as tentativas de fugir à encomenda são inúteis. O Santo Padre insiste - segundo alguns críticos, manejado habilmente por Bramante que, dessa forma, desejaria arruinar para sempre a carreira de Michelangelo - e o artista acaba cedendo mais uma vez. A incumbência - insólita e extravagante - é aceita. Dia 10 de maio de 1508, começa o gigantesco trabalho. A primeira atitude do artista é recusar o andaime construído especialmente para a obra por Bramante. Determina que se faça outro, segundo suas próprias idéias. Em segundo lugar, manda embora os pintores que lhe haviam sido dados como ajudantes e instrutores na técnica do afresco. Terceiro, resolve pintar não só a cúpula da capela mas também suas paredes. É a fase de Michelangelo herói. Herói trágico. Tal como Prometeu, rouba ao Olimpo o fogo de sua genial inspiração, embora os abutres das vicissitudes humanas não deixem de acossá-lo. O trabalho avança muito lentamente. Durante mais de um ano, o papa não lhe paga um cêntimo sequer. Sua família o atormenta com constantes pedidos de dinheiro. A substância frágil das paredes faz logo derreter as primeiras figuras que esboçara. Impaciente com a demora da obra, o papa constantemente vem perturbar a concentração do artista para saber se o projeto frutificava. O diálogo é sempre o mesmo: "Quando estará pronta a minha capela?" - "Quando eu puder!" Irritado, Júlio II faz toda a sorte de ameaças. Chega a agredir o artista a golpes de bengala. Michelangelo tenta fugir de Roma. O papa pede desculpas e faz com que lhe seja entregue - por fim - a soma de 100 ducados. O artista retoma a tarefa. No dia de Finados de 1512, Michelangelo retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. A decoração estava pronta. A data dedicada aos mortos convinha bem à inauguração dessa pintura terrível, plena do Espírito do Deus que cria e que mata. Todo o Antigo Testamento está aí retratado em centenas de figuras e imagens dramáticas, de incomparável vigor e originalidade de concepção: o corpo vigoroso de Deus retorcido e retesado no ato supremo da criação do Universo; Adão que recebe do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem; Adão e Eva expulsos do Paraíso a embriaguez de Noé e o Dilúvio Universal; os episódios bíblicos da história do povo hebreu e os profetas que anunciam o Messias. São visões de um esplendor nunca dantes sonhado, imagens de beleza e genialidade, momentos supremos do poder criador do homem. No olhar de Júlio II naquele dia de Finados de 1512 já se prenunciavam os olhares de milhões de pessoas que, ao longo dos séculos e vindas de todas as partes do mundo, gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as ideologias políticas, se deslumbrarão diante da mais célebre obra de arte do mundo ocidental. Vencedor e vencido, glorioso e alquebrado, Michelangelo regressa a Florença. Vivendo em retiro, dedica-se a recobrar as forças minadas pelo prolongado trabalho; a vista fora especialmente afetada e o mestre cuida então de repousá-la. Mas o repouso é breve: sempre inquieto, Michelangelo volta a entregar-se ao projeto que jamais deixara de amar; o túmulo monumental de Júlio II. Morto o papa em fevereiro de 1513, no mês seguinte o artista assina um contrato comprometendo-se a executar a obra em sete anos. Dela fariam parte 32 grandes estátuas. Uma logo fica pronta. É o Moisés - considerada a sua mais perfeita obra de escultura. Segue-se outra, Os Escravos, que se acha no Museu do Louvre, doada ao soberano Francisco I pelo florentino Roberto Strozzi, exilado na França, que por sua vez a recebera diretamente do mestre em 1546. Como breve foi o repouso, breve foi a paz. O novo papa, Leão X, decide emular seu antecessor como protetor das artes. Chama Michelangelo e oferece-lhe a edificação da fachada da Igreja de São Lourenço, em Florença. E o artista, estimulado por sua rivalidade com Raffaello - que se aproveitara de sua ausência e da morte de Bramante para tornar-se o soberano da arte em Roma -, aceita o convite, sabendo que precisaria suspender os trabalhos relacionados com a tumba de Júlio II. O pior, porém, é que após anos de esforços ingentíssimos, após mil e uma dificuldades, Leão X anulou o contrato com o artista. Só com o sucessor de Leão X, o Papa Clemente VII, Michelangelo encontra novamente um mecenas que o incita a trabalhar arduamente: deverá construir a capela e a tumba dos Medicis, sendo-lhe paga uma pensão mensal três vezes superior à que o artista exigira. Mas o destino insiste em turvar seus raros momentos de tranqüilidade: em 1527, a guerra eclode em Florença e Michelangelo, depois de ajudar a projetar as defesas da cidade, prefere fugir, exilando-se por algum tempo em Veneza. Restabelecida a paz, o Papa Clemente, fiel a seu nome, perdoa-lhe os "desvarios"" políticos e o estimula a reencetar o trabalho da Capela dos Medicis. Com furor c desespero, Michelangelo dedica-se à obra. Quando o interrogam sobre a escassa semelhança das estátuas com os membros da poderosa família, ele dá de ombros; "Quem perceberá este detalhe daqui a dez séculos?". Uma a uma emergem de suas mãos miraculosas as alegorias da Ação, do Pensamento e as quatro estátuas da base: O Dia, A Noite, A Aurora e O Crepúsculo, terminadas em 1531, Toda a amargura de suas desilusões, a angústia dos dias perdidos e das esperanças arruinadas, toda a melancolia e todo o pessimismo refletem-se nessas obras magníficas e sombrias. Com a morte de Clemente VII em 1534, Michelangelo - odiado pelo Duque Alexandre de Medicis - abandona mais uma vez Florença. Agora, porém, seu exílio em Roma será definitivo. Nunca mais seus olhos contemplarão a cidade que tanto amou. Vinte e um anos haviam passado desde sua última estada em Roma: nesse período, produzira três estátuas do monumento inacabado de Júlio II, sete estátuas inacabadas do monumento inacabado dos Medicis, a fachada inacabada da Igreja de São Lourenço, o Cristo inacabado da Igreja de Santa Maria sobre Minerva e um Apolo inacabado para Baccio Valori. Nesses vinte e um anos, perdeu a saúde, a energia, a fé na arte e na pátria. Nada parecia mantê-lo vivo: nem a criação, nem a ambição, nela a esperança. Michelangelo tem 60 anos e um desejo: morrer. Roma, entretanto, lhe trará novo alento: a amizade com Tommaso dei Cavalieri e com a Marquesa Vittoria Colonna, afastando-o do tormento e da solidão, permite-lhe aceitar a oferta de Paulo III, que o nomeia arquiteto-chefe, escultor e pintor do palácio apostólico. De 1536 a 1541, Michelangelo pinta os afrescos do Juízo Universal na Capela Sistina. Nada melhor que suas próprias idéias sobre pintura para definir essa obra e o homem que a criou: "A boa pintura aproxima-se de Deus e une-se a Ele... Não é mais do que uma cópia das suas perfeições, uma sombra do seu pincel, sua música, sua melodia... Por isso não basta que o pintor seja um grande e hábil mestre de seu ofício. Penso ser mais importante a pureza e a santidade de sua vida, tanto quanto possível, a fim de que o Espírito Santo guie seus pensamentos..." Terminados os afrescos da Sistina, Michelangelo crê enfim poder acabar o monumento de Júlio II. Mas o papa, insaciável, exige que o ancião de 70 anos pinte os afrescos da Capela Paulina - A Crucifixão de São Pedro e A Conversão de São Paulo. Concluídas em 1550, foram suas últimas pinturas. Durante todo esse tempo, os herdeiros do Papa Júlio II não cessaram de perseguir o artista pelo não cumprimento dos vários contratos por ele assinados para o término da obra. O quinto contrato seria cumprido. Em janeiro de 1545, inaugurava-se o monumento. O que restara do plano primitivo? Apenas o Moisés, no início um detalhe do projeto, agora o centro do monumento executado. De qualquer forma, Michelangelo estava livre do pesadelo de toda a sua vida. Os últimos anos do mestre ainda foram fecundos, embora numa atividade diferente: a arquitetura. Dedicou-se ao projeto de São Pedro, tarefa que lhe custou exaustivos esforços devido às intrigas que lhe tramaram seus acirrados inimigos. Projetou também o Capitólio - onde se reúne o Senado italiano - e a Igreja de São João dos Florentinos (cujos planos se perderam). Ainda encontra energias para esculpir. Renegando cada vez mais o mundo, Michelangelo busca uma união mística com o Cristo. Sua criação, como a de Botticelli no final da vida, é toda voltada para as cenas da Paixão. De pé, aos 88 anos de idade, ele elabora penosa e amorosamente uma Pietà, até que a doença o acorrente em definitivo ao leito, onde - com absoluta lucidez - dita um testamento comovente, pedindo "regressar pelo menos já morto" à sua adorada e inesquecível Florença, doando sua alma a Deus e seu corpo à terra. O seu gênio, ele já o tinha legado à humanidade.
Pablo Picasso -
Pintor espanhol naturalizado francês. Considerado por muitos o maior
artista do século 20, era também escultor, artista gráfico e ceramista. Pablo Picasso, o artista mais famoso e
também o mais versátil do século 20, nasceu em Málaga, no sul da Espanha, em 25
de outubro de 1881. O pai era professor de desenho, portanto o óbvio talento de
Picasso foi reconhecido desde cedo e, aos quinze anos, tinha já o seu próprio
ateliê. Após um falso início como estudante de
arte em Madri e um período de Boêmia em Barcelona, Picasso fez a sua primeira
viagem a Paris em outubro de 1900.
A cidade continuava a ser a capital artística da Europa
e foi lar permanente do artista desde abril de 1904, quando ele se mudou para o
prédio apelidado de Bateau-Lavoir (Barco-Lavanderia), em Montmartre, a partir
daí o novo centro da arte e da literatura vanguardista. Durante este período, o trabalho de
Picasso foi relativamente convencional, passando de uma Fase Azul melancólica
(1901-05) para a Fase Rosa, mais alegre e delicada (1905). A mudança de estado de espírito pode ter
se originado em parte pela sua ligação com Fernande Olivier, seu primeiro
grande amor. Na vida de Picasso, as mulheres e a arte estão inexplicavelmente
misturadas, o surgimento de uma nova mulher freqüentemente sinalizava uma
mudança de direção artística. Embora os trabalhos de Picasso estivessem
começando a ter sucesso comercialmente, ele decidiu abandonar seu estilo
"Rosa". Em 1907, inspirado pelas esculturas ibérica e africana,
pintou Les Demoiselles d'Avignon, um dos grandes trabalhos liberadores
da arte moderna. Divertindo-se com uma nova liberdade pictórica, Picasso, junto
com o pintor francês Georges Braque, criou o Cubismo, em que o mundo visível
era desconstruído em seus componentes geométricos. Este foi comprovadamente o
momento decisivo em que se estabeleceu um dogma fundamental da arte moderna - o
de que o trabalho do artista não é cópia nem ilustração do mundo real, mas um
acréscimo novo e autônomo. Graças ao Cubismo, a liberdade do artista
estendeu-se também aos materiais, de foram que os meios tradicionais como a
pintura e a escultura puderam ser suplementados ou substituídos por objetos
colados nas telas, ou "montagens" de itens construídos ou
"achados". Ao
contrário de alguns contemporâneos seus, Picasso nunca chegou a criar uma arte
puramente abstrata. De fato, sua versatilidade o mantinha um salto adiante de
seus admiradores, muitos dos quais se surpreenderam quando ele voltou a pintar
figuras mais convencionais e depois, no início da década de 1920, desenvolveu
um estilo neoclássico monumental. Coincidentemente ou não, em 1918 se casara
com a bailarina Olga Koklova, e adotara um estilo de vida exageradamente
próspero e respeitável - mas que ele achava cada vez mais aborrecido. Em 1925, Picasso começou a pintar formas
deformadas, violentamente expressivas, que eram em parte uma resposta às suas
dificuldades pessoais. A partir desta época, seus trabalhos se tornaram cada
vez mais multiformes, empregando - e inventando - uma variedade de estilos como
nenhum outro artista havia tentado antes. Foi também um escultor criativo
(algumas autoridades o consideram o maior expoente da arte no século 20), e
mais tarde dedicou-se à cerâmica com grande entusiasmo. Em qualquer veículo que
se expressasse, sempre foi imensamente prolífero, criando em toda a sua vida
milhares de obras. No final da
década de 1930, quando o impulso criativo de Picasso parecia finalmente estar
enfraquecendo, os acontecimentos o levaram a criar o seu quadro mais famoso: Guenica.
Esta obra foi uma resposta aos horrores da Guerra Civil Espanhola. o conflito
começou em julho de 1936 com um golpe militar liderado pelo General Francisco
Franco, representando os elementos fascistas, tradicionalistas e clericais do
país, contra a República Espanhola e seu governo eleito da Frente Popular (centro-esquerda). Apesar de
tudo, os republicanos perderam a guerra civil, e Picasso ficou exilado da sua
terra natal para oresto da sua longa vida. Durante a segunda Guerra Mundial,
ele ficou na Paris ocupada pelos alemães, proibido de expor mas sem que ninguém
o molestasse seriamente. Depois da libertação de Paris, Picasso ingressou no
Partido Comunista, e durante alguns anos certas obras suas foram declaradamente
políticas; mas ele era também uma celebridade internacional, residindo na
região onde os ricos iam se divertir no sul da França. Em seguida a uma série
de ligações amorosas, ele finalmente casou-se pela segunda vez, agora com
Jacqueline Roque, em 1961 e levou uma vida cada vez mais retirada.
Artisticamente prolífero até o fim da vida, morreu aos 91 anos em 8 de abril de
1973.
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