Restal era uma cidade
pacata: nem tão grande para ser uma capital nem tão pequena para ser uma
simples cidadezinha do interior. Era meio assim e meio assado; tanto havia
casas enooormes, das gentes mais ricas e bem nascidas da cidade, como fazendas,
fazendinhas e fazendões, das gentes que ainda conservavam o estilo mais antigo
das gentes mais humildes do lugar.
TUDO COMEÇOU...
Em Restal, duas famílias
se destacavam dentre as demais: uma trazia o sobrenome mais importante da
região, o mais nobre de todos. Já foram mais ricos do que o que são hoje, mas
não sabem administrar bem a fortuna passada por herança do fundador da cidade
para o atual detentor do tal sobrenome: o Senhor ROMÃO GOMES GONÇALVES.A outra
família, era de um fazendeiro, filho de gente mais simples. Não tinha o
sobrenome desses importantes, não. Tinham sim, trabalhado muito na roça, no
cabo da enxada e, agora, graças a Deus e a tanto esforço, de fazer calo na mão,
possuiam a Segunda maior fortuna, coisa que, por falar em calo... andava
incomodando certo pessoal. Assim era a família dos BATISTA FERREIRA.
-
Boa noite! Eu
sou Cid Madeira e, está no ar mais um: “SEJA O QUE DEUS QUISER”. Um programa
polêmico, “onde a voz do povo é a voz de Deus”. E agora, últimas notícias. É
com você, Luciano Safira.
-
Estamos aqui
falando diretamente de uma das cidades do interior do Nordeste, onde está
acontecendo nesse momento uma briga de casal e, veja só que curioso, no dia do
casamento. Vamos tentar chegar mais perto e entrevistar algumas pessoas para
ver se conseguimos mais informações. Minha senhora! Ôh! Minha senhora. Poderia
dar alguma informação sobre o motivo da briga do casal?
-
Sei não senhor!
Eu tô, como todo mundo aqui, querendo saber o que se asucedeu. A gente só ouviu
a gritaria e saiu correndo pra cá. Parece que eles tão preso lá dentro, que eu
ouvi eles gritando que queriam sair de lá.
-
Muito obrigado!
Minha senhora...
-
Adisponha! Meu
filho.
-
Regina Café,
agora é com você.
-
Luciano, a gente
aqui ficou sabendo que além do casal, o Padre, os pais da noiva e do noivo
também estão lá dentro e, você não vai acreditar na história que eu tenho pra
contar...
OS GONÇALVES
-
Romão! Querido.
Há duas semanas os jornais não põem sequer uma notinha sobre a nossa família.
Nós precisamos tomar alguma providência, e rápido. Quem sabe podemos fazer uma
viagem a Paris. A Paris, não! A Miame! A Miame ,também não! Já estou enjoada.
Fomos no mês passado. Já sei, JA-PÃO!!! Eu nunca fui ao Japão. Minhas amigas
nunca foram ao Japão. Está feito. Vou ao Japão. Aposto que vou abafar por lá! E
quando eu voltar... todos os repórteres vão querer saber como é por lá, o que
eu comprei, em que hotel fiquei hospedada... eu serei a primeira. Ficarei em
evidência por no mínimo... um mês. Ah! Romão. Parece que já me vejo.
-
Antonieta!
Querida. Você fica aí só pensando em notinhas no jornal, viagens não sei para
onde. Onde ninguém desta terra pôs os pés. Da próxima vez, vai querer ir à lua!
Os Correia e Castro ainda não foram lá. Como pensar em coisas assim, se não
consigo chegar ao fim destas contas que, dia a dia se acumulam. Já deu uma
olhada no preço do colégio da nossa filha? Viu que absurdo o preço das coisas
que a nossa filha anda comprando, lá em Fortaleza? Isso sem falar nas suas extravagâncias.
Tudo é motivo de festa.
-
Festa?!!! Ai!
Que idéia maravilhosa.
OS BATISTAS
-
Eulália! Ôh!
Muié. Eu tô ficando vei e, andei matutando... quero passar nossa fortuna pro
nosso fio, pra ver se ele larga mão da
barra da tua saia. Todo mundo lá na fazenda dos Mendonça e Albuquerque repara
nessa arrumação. Nosso fi com 18 ano inda nunca teve um xamego e, eu na idade
dele, já tava era amarrado cuntigo. Né verdade? Hoje in dia, os fi da gente tem
que se criar no mundo. Repara! A famia daquele um já viajou o mundo todo e, oia
nois...
-
Ôh! home. É
verdade, Julião.
SEMPRE AOS DOMINGOS
Se o dia de Domingo já é sagrado, tão
sagrado quanto eram os encontros dos Batista Ferreira com os Gomes Gonçalves. A primeira, ia à
missa para agradecer por tudo que Deus havia lhes dado até ali . enquanto a
Segunda... ia mesmo era para dona Antonieta desfilar todas suas roupas da moda
e, com certeza, pedir a Deus que não lhes tomassem mais o que ainda tinham.
Também era sagrado; Batistas na primeira fila do lado direito e Gonçalves na
primeira fila do lado esquerdo.
E O PADRE NO MEIO
Padre Normando era desses padres
típicos: homem da Igreja mas, vivia com o pé na estrada, arrebanhando mais
ovelhas para o seu bando. Bem servido, nos dois sentidos. Em todo lugar que
chegava era um tal de cafezinho pra cá, um suquinho pra lá, almoço aqui, janta
acolá. Mesmo assim era magrinho, de tanto andar, das casas do centro da cidade
para as fazendas, fazendinhas e fazendões dos arredores.
Era simpático até demais. Seu
pecado... não guardar segredos, às vezes nem mesmo o de confissão e, assim
mesmo, todos lhe contavam de tudo.
Aos sábados, tinha o compromisso de
visitar os G. e os B. O problema... que casa visitar primeiro?
ROMIETA
O telefone toca.
-
Alô? Residência
dos G. ...
-
Eu já sei! Estou
cansada de ouvir a mesma coisa. Ainda mais com essa voz irritante que você tem,
Bartira.
-
Dona Romieta! É
a senhora mesmo?!
-
Meu Deus! Eu não
tenho nem 20 anos e, essa criatura me envelhece uns 30. Tenha dó!
-
Perdão,
patroinha! Eu tenho tantas coisas pra contar...
-
Dessa vez, eu é
que tenho tantas coisas para contar. A primeira delas é que, meu namoro com o
Marcelo Freitas acabou. A Segunda é que, o dinheiro do papai também e, isso
quer dizer que, eu estou voltando para esse fim de mundo. Era o último da minha
lista. Você quer saber?! Ele não era tão bonito nem tão rico assim!
-
Mas é que...
-
Eu não quero que
nin-guééém saiba que eu estou voltando. E não tem mais. Bye!
-
Mas é que... ai!
Eu detesto quando ela faz isso. Eu não vou me agüentar. Até parece que ela não
me conhece. Eu tenho que contar pra alguém.
BARTIRA & SEBASTIÃO
Bartira não tinha jeito. E lá vai ela... descendo, subindo, pela
direita, pela esquerda...
-
Oi! Tião.
-
Oh! Não vem que
não tô bom hoje. O patrão tá com o cão nos coro e, se ele me pega aqui falando
com ocê, é hoje que ele me diz Deus te arreda. Sabe que esse home só pensa em
trabaio.
-
É que eu tenho
uma coisa pra contar e, se eu não contar, eu adoeço. Mas... promete que não
conta pra ninguém? Você sabe como é que eu fico, ainda mais quando a patroinha
me pede pra não abrir a boca e, eu confio em ti.
-
Tá bom! Mas
conta logo, que história de patroinha é essa. Ela num tá né lá na capitá?!
-
Sim! Mas é que
ela vai voltar.
-
Essa é mintira
e, das boa! Cuma é que vai vortá, se ela num suporta esse lugar aqui, num vai
com a cara do povo daqui, num qué vê nois nim pintado de oro, ora!?
-
É que, sabe
aquele ricão que ela tava namorando? Ela terminou tudo com ele.
-
E me diz, quem é
que agüenta tua patroinha? Nem Satanás! Cruiz credo!
-
Não fale assim
da minha patroinha, Sebastião!!! Com tudo, com tudo, ela é boazinha.
-
Diga isso pro
Julieu. Quero só vê! Ah! Tombém vô dizê um negoço. Ouvi o patrão falando que,
vai passar a herança dele pro fi, mesmo antes de morrê. Ma tem otro negoço, o
patrãozinho vai te que arranjar muié pra casá. Agora sim! As moça vai oiá pra
ele cum otros oio.
-
Agora, eu que
digo! Quem é que vai Ter coragem de querer se casar com aquilo!? Até tu é menos
bicho do mato do que ele.
-
Qué sabê? Com a
dinherama que o pai vai dá pra ele, até tua patroinha casa e, sem fazê cara
feia.
-
Tu tá é
variando, homem! Nem que ele fosse o último homem do mundo! E quer saber
também?! Vou é me embora. Tenho mais o que fazer.
E lá vai ela de volta:
pela esquerda, pela direita, descendo, subindo...
JULIEU
Tião era outro, que não
guardava nada.
-
Julieu! Ocê num
vai acreditá. Sabe aquela mitida a besta da fia do seu Romão?
-
O que tem?
-
Tá de vorta pra
cá. Os home lá da cidade grande num são tão burro cuma a gente pensava, não!
-
Do que você tá
falando, Tião?
-
Tô dizendo que
ela levou um passa fora do namorado dela, o ricão lá da capitá.
-
Não sei que
novidade é essa?! Aquela lá... não nasceu pra ninguém mesmo. Uma azeda!
-
Se tu sabe bem,
ela pensa o mermo de ti. As muié não gosta desse teu jeitão de bicho do mato.
Até a Bartira me acha mió do que ocê.
-
Não me
apoquente, Tião. Que fico nos casco.
NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM PADRE
Quase atropelando o padre que vinha
andando a pé pela estrada, contido em suas orações.
-
Desculpa, seu
Padre. É que eu estou com muita pressa.
-
Minha filha! E
quando é que você não está pressa com pressa?! Quando tem algo na língua para
contar, hen?!
-
Seu padre, para
o senhor eu posso contar também. Afinal... o senhor é um homem santo. Não é?
-
Claro! Claro!
Minha filha. Despeje.
-
É que minha
patroinha, a dona Romieta tá de volta pra cá. Mas, ela não quer que ninguém
fique sabendo disso.
-
Não me diga!
-
Sim. Mas,
ninguém sabe. Quer dizer... só eu, o Tião e, o senhor: só nós três.
-
Por hora. (fala
o Padre em voz Baixa)
-
Que?
-
Nada, Bartira.
Nada!
-
Sua bênção,
Padre Noberto. Agora eu tenho que ir voando pra casa.
Dona Antonieta parece
que adivinha. É sempre assim. Sabe que quando Bartira dá uma saidinha... aí tem
coisa nova.
-
De onde você vem
tão aflita, criatura?
-
Da rua, dona
Antonieta.
-
Isso é obvio. E
você sabe muito bem o que quero saber. Por um acaso você está vindo da casa
daquela sua colega que trabalha na casa dos Correia e Castro?!
-
Não, senhora.
Venho da fazenda do seu Julião e, só demorei mais porque encontrei com o padre
no meio do caminho e, ...a senhora não imagina, não vai acreditar. Aquele filho
dele, o Julieu...
-
Sim. O que tem
aquele apalermado!?
-
Ele vai herdar
de pai vivo.
-
Mas o que foi
que você disse?!
-
É mais segundo o
que eu também sei... só depois de arranjar casamento. Já imaginou, senhora.
Quem é que vai querer se casar com aquele lá?! Como todo mundo mesmo diz, é um
apalermado que vive na barra da saia da màe dele, desde aquele episódio que
aconteceu com ele, quando ele era pequeno lá...
Dona Antonieta nem esperou a empregada terminar de falar. Foi logo
gritando:
-
Romão!!!
Querido. Venha ouvir uma coisa.
Veio Romão, quase enforcado na gravata:
-
O que foi agora,
Antonieta?! O que foi que saiu ou deixou de sair no jornal desta vez?
-
Conta para ele, Bartira, que eu estou
incapacitada de falar.
-
Como eu dizia, o
Julieu vai herdar de pai vivo.
Romão foi ficando da cor de romã. Ficou incapacitado de falar, como
dona Antonieta.
Quando o efeito passou:
-
Isso é um insulto
à nossa família! Até ele, aquele piãozinho.
-
Será que pelo
menos nossa filha Romieta vai bem lá na capital? Ela não nos manda notícia há
meses. Querido! Vejo nela nossa última esperança. Ela vai ter que se casar.
-
Querida! Nós
temos que tomar as providências.
1o DIA DE AULA
Primeiro dia de escola é um dia todo
especial, tanto para os meninos quanto para as meninas que entram neste mundo
novo mas, nem todos aceitam de bom grado tal idéia e, assim aconteceu com
Julieu.
Julieu era e, ainda é desses meninos
tímidos, acanhados: na dele e, de certa forma se sentia diferente no meio de
todos os outros. Era diferente porque era o único que não morava na parte
urbana; morava em uma fazenda. Era diferente, porque na época, seus pais ainda
não tinham tanto dinheiro como agora. A razão dele estar alí, era o fato de que
seus pais não o queriam um ignorante, um analfabeto como seus pais, sem
instrução. Era diferente porque havia sido educado de uma outra forma,
diferente das outras crianças da cidade, sem frescuras. Qualquer dos meninos da
cidade tinham como bichinho de estimação, por exemplo, um gatinho, um
cachorrinho, um peixinho, um passarinho... mas, ele não. Julieu tinha um
pintinho.
No primeiro dia, tudo era permitido.
Quase tudo. Desde que acalmace os ânimos das crianças. Daí que, dona Eulália
teve a idéia, de deixar que Julieu levasse seu bichinho para a escola. Isso o
deixaria mais à vontade no meio daqueles tão iguais.
Como eu dizia: quase tudo era
permitido. O pintinho de Julieu deu o que falar. Algumas poucas crianças até
gostaram da novidade e, pasmem, Romieta era uma delas. Mas, a maioria tirava
brincadeirinhas de mau gosto com Julieu que, acabava chorando magoado e, se
escondia com seu pintinho e, foi quando ela apareceu;
-
Quer? É balinha
de maracujá. Eu adoro!
Ele estendeu a mão a medo. Aceitou:
-
Obrigada! Não
conhecia balinha de maracujá. Só bom-bom de café. Eu tenho. Quer?
-
Posso ver o seu
bichinho?
-
Ahran!
Romieta era uma menina muito valente
e, além disso, tinha muito prestígio, por ser filha de quem é. Ela, ainda
pequena, tinha ares de princesa, tão diferente de Julieu que, tinha ares de
plebeu. Mas, no primeiro encontro, nada disso importava ou importou. Eram
iguaisinhos, porque eram crianças.
O VESTIDO BRANCO E O FIM DA PAZ
Romieta estava uma graça com seu
vestido novo branquinho. Era importado. Caríssimo!!! De paris. Seus pais quase
não tinham tempo para ela. Seu Romão, no comércio. Sua mãe, lendo colunas
sociais... viajando. Para compensar, sempre ganhava alguma coisa. O tal vestido
branco era o que Romieta mais gostava. E por falar em gostar... os amiguinhos
da há mais tempo de Romieta, não gostaram daquele comportamento que ela teve em
relação ao Julieu. Como podia uma menina como ela fazer amizade com alguém como
ele?! Romieta tinha resolvido que, dalí em diante, Julieu seria seu mais novo
amigo. No primeiro dia mesmo, fez com que ele ficasse mais próximo dela, numa
carteira atrás da dela. Ela era a primeira da fila. Ele, seria o segundo.
Foi um dia muito estressante para todos e,
como também não poderia ser para o pintinho, com tanta euforia em sua volta, a
barriga dele sentiu. Foi então que, os coleguinhas de Romieta tiveram uma idéia
suja para acabar com aquele desatino da menina. Eu preciso dizer mais alguma
coisa?
Tudo era estratégico. Aquela caixa na
carteira de Julieu que, por sua vez estava sentado na carteira atrás da de
Romieta... faltava só a professora não estar prestando atenção, olhando para
qualquer outra coisa e...
Na verdade, eu nem sei como tudo se
deu direito mas, no momento exato em que o pintinho fazia cocô em sua caixinha,
foi jogado em cima do vestido de Romieta. Este mesmo. O que Romieta mais
gostava.
Ela ficou paralisada e, foi ficando vermelha...
vermelha, olhando para aquele pinto. Nem pode perceber o erro, nem pode
perceber o engano. Olhou Julieu, fulminante:
-
Julieu. Por
que?!!!...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
LEVA-E-TRAZ
-
Bom dia, seu
Julião.
-
Bom dia padre
Normando.
-
Sei que o senhor
pode estranhar a minha vinda aqui, pois como sabemos, não é sábado mas, o que
me traz em vossa casa é...
-
Num pricisa o
sinhor padre se justificar. Eu tô precisando aí duns conseio e troca umas
idéia. É que eu num tô mai dando conta do serviço, num sabe, e meu fio Julieu é
rapaiz novo, bom de arranjar uma muié pra casá e cuidar da minha fazenda e da
fortuna da famia. O sinhor prum acaso num cunhece uma dessas aqui por essas
redondezas, que possa assim... se interessar.
O padre se estremeceu
com tamanha surpresa. Até se esqueceu do que tinha vindo fazer na casa do
senhor Julião. E o padre, muito sincero disse:
-
Meu Deus! Agora
com toda essa fortuna, o senhor vai ver que aparece.
Seu Julião não fica ofendido. Sabe que, isso é bem verdade porque, se
dependesse do filho... nem durou na escola. Tudo o que aprendeu foi graças à
dona Sofia que, tendo o coração e o cérebro de elefante, vinha dar aulas para
Julieu em casa mesmo. Pelo menos, de burro, ignorante, Julieu não pode ser
apontado:
-
Julieu é muito
inteligente. Só é um tantinho distraído.
De volta ao padre:
-
Acabei de
lembrar que tenho uma alma perdida lá na cidade para salvar e, já se faz tarde.
-
Mas o sinhor
num...
A julgar pela pressa do padre, esta tal alma deve carecer e muito de
salvação.
- Bom dia seu Romão.
- Bom dia, senhor Normando.
-
Sei que o senhor
pode estranhar a minha vinda aqui pois, como sabemos, hoje não é Sábado mas, o
que me traz em sua casa é...
-
Como o senhor
sabe, não ando tão bem das finanças e, não sei de onde tirar mais dinheiro
para... o senhor sabe.
-
Mas eu sei. (
fala em voz baixa)
-
O que o senhor
disse?
-
Nada, meu filho!
-
Se eu entendi
bem, o senhor disse que sabia.
-
Mas... não é
nada, é só uma idéia, uma idéia absurda que me ocorreu. Afinal... vocês jamais
concordariam em... casar Romieta com Julieu. Não é ?!!!
-
Que sandice é
essa agora?! Além do mais, Romieta vai muito bem na cidade, namorando aquele
rapaz, o Marcelo Freitas.
O padre fica se sentindo um pouco
empertigado e, resolve dar o pé dalí:
-
Lembrei que
tenho de preparar a missa de Domingo e, já vou tarde.
Bartira ouviu tudo atrás da porta, às
escondidas:
-
Será!?...
“SURPRISE!!!”
Sábado. Meio-dia em ponto. Ouve-se a
campainha na casa do comerciante:
-
Deve ser o Padre
Normando para o almoço.
-
Mamãe e Papai.
Voltei!!!
-
Dona Romieta?!
(cai o queixo de Bartira)
-
O que é que foi,
criatura?! Viu algum E.T?
-
Minha filha!
Como você chega assim, sem nos avisar?
-
Já que é
assim...
-
Não, Filha.
Brincadeirinha! Nós nunca sentimos tanto a sua falta. Não é?!
-
Mas é claro!...
Assim que o queixo da empregada voltou
para o lugar, ela foi direto contar mais uma para o Tião. Desde então, Tião não
perdeu uma só oportunidade de azucrinar a paciência de Julieu: Romieta pra cá,
Romieta pra lá... era como esporar touro brabo e, ele ainda nem sabia do melhor
ou do pior. Tião guardava isso para o fim. Julieu saía espumando:
-
Era só o que me
faltava, aquele peão do Tião me comparar com aquela... aquela tal de
Ro-mi-e-ta.
-
O que ocê está
dizendo, meu fi?
-
A senhora sabe
muito bem.
-
Mas, meu fi.
Aquela moça é tão... distinta! E, além do mai, tem o subrinome dos Gonçalver.
E ela nim vive por
aqui.
-
Mas ela já
voltou. E quer saber? Eu é que já estou indo.
-
Um subrinome
daqueles... e meu filho tava feito de tudo na vida. Se aqueles lá tivesse uma
otra fia que nem a Romieta... proque essa... não tá na midida dele.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
“NÃO FALO, NÃO OUÇO , NÃO VEJO”
ALGUM TEMPO DEPOIS...
-
Minha filha,
sabe quem vai se casar no final deste mês?
-
Não mesmo,
mamãe.
-
Aquele rapaz lá
da fazenda, o filho dos Batista.
-
O tal do Julieu,
mamãe?! Mas, e quem é a infeliz que vai cometer a loucura de se casar com
aquilo? Sim,
porque...
francamente! Eu, hen!?... Uuui!
-
E tem mais. Nós
somos convidados especiais. Somos os pa-drinhos da noiva.
-
Ah! Essa eu não
entendi! Nós!?
-
Minha filha.
Você sabe como é... sabe que somos uma das famílias mais importantes e... como
não nos convidariam?
-
Ah! Mamãe. E eu
conheço a louca, ô... a noiva? Me conta quem é, vai? Eu estou morrendo de
curiosidade!
-
Você vai saber
logo-logo.
-
Não tem diversão
mesmo nesse fim de mundo... acho que vou ter que me contentar com isso mesmo e,
sabe, acho
que vou me divertir
muito e, posso, quem sabe, até encontrar meu príncipe “prínsapo” encantado por
lá. Mas que piada!
-
E vai mesmo,
minha filha. (fala dona Antonieta só para si).
(...)
-
Fio. Hoje à
noite eu quero ocê bem bunito, nus pano, pra mode a gente ir prum casório.
-
Mãe. A senhora sabe que eu não gosto dessas coisas
e, além do mais, eu não estou sabendo de casamento
.nenhum.
-
A gente tem que
i, meu fi. É que nois sumo os pa-drin do noivo. demo nossa palavra.
-
E quem é que vai
se casar?
-
É aquela moça, a
tar da Romieta.
-
Não tô
entendendo mais é nada nem quero mesmo entender. Como é que uma criatura que
não tinha namorado, bem dizer, até ontem e, hoje à noite vai se casar?! Na
certa deve ser um cara montado na grana e, que só pode é variar das idéias, que
nem ela.
-
Meu fio. Tome
tento!
-
Agora, eu é que
quero ir. Mas não vou me arrumar coisa nenhuma! Vou só pra ver a cara do besta
e, pra tentar
convencer o desgraçado
a desistir dessa bestagem.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-
Dona Romieta, a
senhora já sabe do casamento?! A senhora vai mesmo!?
-
Mas é claro! Vou
até chegar antes do Julieu. Não quero perder nenhum detalhe da festa. Vai ser o
casamento do século! Pode escrever.
-
E a senhora
entendeu!?
-
É só pelo
dinheiro dele, Bartira.e, para de me chamar de dona, de senhora que eu já falei
que não gosto!
-
Mas
patroinha!...
-
E não tem mais
nem meio mais! Preciso me aprontar.
Bartira não entendeu nada mesmo.
(...)
-
O patrãozinho
vai mesmo?!
-
Como não, Tião?!
Meus pais deram a palavra e, eu posso não estar indo por bem mas, eu só quero é
ver no que vai dar.
Tião é outro que também não entendeu
nada.
(...)
“ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE?!!!...”
Que coincidência!
Batistas e Gonçalves chegaram ao mesmo tempo. Parecia cena de novela.
Gonçalves de um lado, Batista do outro. Mas sabe o que era esquisito?
Esquisitíssimo!!! Não havia ninguém além das duas famílias lá e o padre. Os
primeiros a repararem nisso foram Julieu e Romieta. Cada qual pensava consigo.
Deve ser uma cerimônia bem simples e reservada. Até demais. Mas a desculpa, para
os dois, era o fato de virem motivos óbvios para que o tal casamento fosse um
fracasso.
Romieta e Julieu se
afastaram, quase ao mesmo tempo. Pareciam atraídos pela sacristia. Ambos
queriam conhecer os respectivos noivo e noiva.
Romieta entrou pela direita. Julieu entrou pela esquerda. As duas
famílias notaram tal fato providencial e...
De repente as portas da
sacristia se fecharam. Cada um correu para a respectiva porta pela qual
entraram. Nada!
As portas não abriam. Eles falaram ao mesmo tempo:
-
Alguém abra esta
porta! Estou trancada/trancado aqui! Se ouviram, se viram em flagrante.
-
O que você faz aqui?
-
Eu só vim ver a
noiva/o noivo.
-
Como assim ver a
noiva/o noivo!?
-
A nova/O noivo é
você!!!
-
Ahhh!!!
-
Eu não
acredito!!!
-
Julieu/Romieta!!!
-
Fomos enganados
por nossos próprios pais.
-
Isso é uma
armadilha/arapuca!
ROMIETA:
- Ai! Eu acho que não estou me sentindo muito bem!... (foi tirando da
bolsa um monte de balinhas de maracujá e os comprimidos calmantes. tomou
todos).
Minutos depois...
já viu. Estava ela esticadinha no chão.
Julieu quando deu conta do acontecido,
correu pra junto dela. Ficou sem saber o que pensar, sem saber o que fazer.
Ela estava fria que
nem pedra de gelo:
-
E agora? Morreu!
Vão pensar que eu matei ela. Ou pelo menos tentei. Se bem que me dá mesmo essa
vontade.não vou negar. Ahhh!!!...
Julieu só sabia que tinha que fazer
alguma coisa e, fez. Se atirou de corpo todo/inteiro contra a porta da
sacristia. Foi tão de mal jeito que, acabou batendo a cabeça e caindo sem
sentidos e ferido.
A o barulho da pancada foi tão grande
que, Romieta acordou:
-
Meu Deus!
On-des-tou? O que foi que aconteceu? Eu não me lembro de nada!... Julieu!?...
ai! Meu Deus. O que foi que eu fiz? Eu briguei com ele?... Eu bati nele?... Eu
matei ele?... por que que ele tá ...? morto!?... ai! Amanhã meu nome vai sair
no “Barra Pesada”, no “Aqui e Agora”, no... New York Time Notícia, no C.N.N...
ai! Minha cabeça... agora não vai faltar motivos pra que o nome da nossa
família saia nas colunas mas, na parte policial. Ai,ai,ai!!!... (Romieta já
berrava)
Agora foi a vez de Julieu ser
incomodado pelo o barulho dos ais de Romieta:
-
Dá pra berrar um
pouco mais baixo!? Sinto uma dor enorme em toda parte do corpo.
-
Agora foi! Você
tá pensando que é o que, ehn?
-
Olha só quem
fala!
-
Eu não suporto
você, seu bruto! Não sabe nem lidar com uma menina, que dirá com uma mulher
como eu. Você pensa que eu esqueci o que fez comigo quando eu ainda era uma
menina? Não! Você estragou o meu melhor vestido. Por inveja de mim, da minha
família, do meu sobrenome. Bem que meus colegas me avisaram que você não era
digno da minha amizade. Pessoas como você são...
-
Agora é a minha
vez. Eu tentei te explicar que eu não tive culpa desse acontecido. Você
preferiu acreditar naqueles... seus “amiguinhos” do que em mim. Além do mais,
foi melhor mesmo que a nossa “amizade” acabasse por alí. Nós somos muito
diferentes mesmo! Eu não iria agüentar Ter que olhar pra você todos os dias
mesmo!
-
Mentiroso! Você
quer que eu acredite nisso?!
-
Eu não estou
mentindo, pro seu governo e, quer saber? Pouco me importa se... você tivesse
morrido.
-
Ah! É!... Eu
digo o mesmo! E então pode vir...
Estavam prontos para o duelo.
Neste momento os dois se aproximaram pela segunda vez na vida, para
brigar. Pareciam duas crianças ela batia forte nele e, ele só se defendia
tentando agarrar/segurar com força os braços dela. Ele não tinha a intenção de
machucá-la, só queria defender-se. Coisa que ela, até aquele dia não lhe dera a
chance de fazer. Não lhe dera voz. Ela odiava se sentir daquele jeito, presa.
Ela só queria bater e, bater e bater. Queria descontar a raiva guardada por
tanto tempo, a raiva de ter perdido.
Estavam em pleno combate, quando...
-
Para! Para
tudo!!!
Alguém derrubou a porta. Era Luciano
Safira, o repórter do “SEJA O QUE DEUS QUISER”: um programa polêmico, onde a
voz do povo é a voz de Deus e, a polícia.
Neste momento, ficaram estáticos mas,
continuaram agarrados. Instalou-se uma confusão maior, agora dentro da
sacristia. Luciano Safira se aproveitou da situação e, diante daquilo, resolveu
improvisar o programa:
-
Filma aí, ô!
1-2-3... Bem chegamos ao fim de mais um programa e, o final você escolhe.
Até votação foi feita.
Deu empate.
Eles decidiram:
Ninguém matou.
Ninguém morreu
e
eles viveram
FELIZES PARA SEMPRE!!!
(...)
ANÁLISE DA HISTÓRIA/ESTÓRIA – TÓPICOS:
1.
História
inspirada nas obras de W. Shakespeare: Romeu e Julieta e A megera domada.
2.
Aplicação de
linguagem coloquial: tal qual os personagens falam (reprodução).
3.
Aplicação de
situações de oposição: ANTÍTESES.
4.
Me inspirei nos
moldes da história do “Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna.
5.
Aplicação de alguns
elementos simbólicos:
BALINHA
DE MARACUJÁ: representação da figura de Romieta criança.
BOM-BOM
DE CAFÉ: representa a figura de Julieu criança.
As
crianças, em geral gostam de balinha/bom-bom.
MARACUJÁ
(calmante) está em oposição a CAFÉ
(estimulante).
O
comportamento de Romieta (agitada/ativa) está em oposição ao de Julieu
(calmo/passivo). Uma forma simbólica de equilibrar os contrários.
ROMIETA
+ MARACUJÁ.
JULIEU
+ CAFÉ.
BALINHA:
uso na linguagem culta.
BOM-BOM:
uso na linguagem comum.
O
fato de estes dois elementos reaparecerem no final da história simboliza o fato
de eles conservarem ainda “algo” da infância.
MARACUJÁ
= COMPRIMIDOS CALMANTES (adulto)
CAFÉ
= A FORÇA FÍSICA/RAIVA/IMPACIÊNCIA (adulto)
Foi
preciso que ela se acalmasse pelo uso excessivo de calmantes (desmaiasse) para
refletir.
Foi
preciso que ele usasse da força física gerada pela raiva e impaciência
(jogou-se contra a porta e se machucado) para refletir.
6.
Inclusão o
elemento infantil: mostrar o estado inicial de pureza.
7.
Nomes: costume bem
comum no interior – a junção de parte do nome do pai com parte do nome da mãe –
homenagem.
JULIEU
= JULIÃO + EULÁLIA
ROMIETA
= ROMÃO + ANTONIETA
8.
Obra: COMÉDIA
ROMÂNTICA em oposição à TRAGÉDIA/DRAMA
de
Shakespeare - (ROMEU E JULIETA).
9.
FERREIRA e GOMES : duas famílias
típicas/oriundas de Sobral.
10.
Características
da COMICIDADE/COMÉDIA: OBRA OU REPRESENTAÇÃO TEATRAL EM QUE PREDOMINAM A SÁTIRA
E A GRAÇA: FATO RIDÍCULO + FINGIMENTO + SIMULAÇÃO PROVOCANDO O RISO.
11.
Nem todas as idéias são expressas de forma explícita,
algumas são sugeridas e outras são simbólicas (como se pode notar pelo uso de
elementos simbólicos).
12.
Nenhum dos
personagens é mal: ou então têm uma maldade ingênua.
13.
Uso excessivo de
sinais gráficos: não se resumem a pura ESTILÍSTICA. Tem um objetivo, a
SUBJETIVIDADE. (...)/ (?)/ !!!/???/ ?!!/!??/ “” ...
14.
Há a presença de monólogo interior e não
interior, embora mínimos e breves.
15.
Há a presença de
FLASHES BACK (recordações) que quebram por duas vezes a linearidade da
narrativa/da história.
16.
Há a mistura dos
tempos: PRETÉRITO + PRESENTE.
17.
No início se
pensa que a personagem Regina Café irá relatar/narrar a história, mas a autora
toma a frente.
18.
Capítulo: “NÃO FALO, NÃO OUÇO, NÃO VEJO” – clichê bastante conhecido
representado pelos três macacos: mão na boca, mãos nos ouvidos e mãos nos
olhos. Não encontrei expressão melhor para nomear/representar o capítulo
“secreto”.
19.
Se uma pedra
representa obstáculo, alguma coisa que nos impede de ir para a frente e nos faz
parar, um padre bem que poderia ser exatamente o contrário, alguém que empurre
para frente, dê um andamento às “coisas”. Daí: “TINHA UM PADRE NO MEIO DO
CAMINHO” + LEVA-E-TRAZ... E O PADRE NO MEIO.
20.
SEMPRE AOS
DOMINGOS: uma alusão a um filme com este mesmo nome.
21.
Passo a passo,
no decorrer da história há uma aproximação (simbólica/ das situações) dos
nomes: JULIEU e ROMIETA.
22.
Os DIÁLOGOS revelam: os perfis dos personagens, retratam o modo de ser, o que
pensam, o que desejam, como julgam a si e os outros, o que sabem, sua “fala”,
seus costumes e o seus caráteres entre outras coisas.
23.
Obra de
REALISMO/REALISTA.
24.
INTECIONALIDADE:
em primeiro lugar tive a intencionalidade de divertir, mas o livrinho também
instrui, quando mostra as diferentes formas de falar dos personagens; educa,
quando trata do assunto das relações entre pais e filhos, a fraternidade, a solidariedade, e os relacionamentos de
amizade; emociona no momentos de “revelação” e “resolução” e por fim acaba por
conscientizar que devemos dar aos outros a chance de explicar-se/de defesa/ de
contar a sua versão e não se deixar levar pelas aparências das coisas e
pessoas.
ANÁLISE DOS PERSONAGENS:
NÚCLEO GOMES GONÇALVES
ROMÃO:
chefe da família, comerciante detentor do sobrenome mais importante de Restal,
mas em processo de falência por conta da má administração/mal emprego do
dinheiro herdado da família de ricos comerciantes fundadora da cidade. Vive de
aparências.
ANTONIETA:
esposa de Romão, uma mulher que vive de ostentações e preocupações com outras futilidades, cheia de extravagâncias,
interesseira. Típica mulher da cidade grande.
ROMIETA: filha do casal ROMÃO e ANTONIETA, uma alusão à “JULIETA”. (?)
BARTIRA:
empregada da casa. Companheira, cúmplice e detentora dos segredos de Romieta. Pessoa simples mas (um pouco)
instruída. Mediadora inconsciente dos acontecimentos da narrativa.
NÚCLEO
BATISTAS FERREIRAS
JULIÃO:
chefe da família, homem bastante
trabalhador já cansado que está progredindo na vida, fazendo fortuna no cabo da
enxada. Um homem simples e humilde no
modo de viver e falar (sem instrução), preocupado com o filho e logicamente com
o seu futuro.
EULÁLIA:
esposa de Julião, também humilde e sem instrução, e bastante protetora. Típica
mulher do campo.
JULIEU:
filho do casal JULIÃO e EULÁLIA, uma alusão “ROMEU”. (?)
SEBASTIÃO:
empregado da fazenda. Companheiro, cúmplice e detentor dos segredos de Julieu. Rapaz simples
e de nenhuma instrução. Mediador inconsciente dos acontecimentos da narrativa.
PADRE
NORMANDO: mediador consciente dos acontecimentos da narrativa, dividindo a
atenção e a tensão entre as duas famílias. Tem características suspeitosas para
um padre, é interesseiro e não sabe guardar o que ouve fazendo revelações
“sutilmente”. Intermediário. Age por “algum” interesse. É uma figura pícara,
ardiloso e esperto, “se faz de besta para melhor passar” – PICARESCO.
NÚCLEO
DA TV MUNDIAL (REPÓRTERES)
CID
MADEIRA: alusivo a Cid Moreira.
LUCIANO
SAFIRA: alusivo a Luciano Zafir.
REGINA
CAFÉ: alusivo à Regina Casé.
UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO CEARÁ – UECE
CENTRO DE
HUMANIDADES – CH
CURSO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE
LÍNGUA PORTUGUESA
DISCIPLINA:
LITERATURA INFANTO-JUVENIL
PROFESSORA:
VICÊNCIA JAGUARIBE
ALUNA: MARIA
CELESTE B.S.P.
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
JULIEU & ROMIETA
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
“PAIS RICOS, FILHOS NOBRES, NETOS POBRES”
“TER
OU NÃO TER? EIS A QUESTÃO”
FORTALEZA-CE
2000
ANÁLISE DOS CAPÍTULOS/RESUMO ANALÍTICO:
RESTAL: nome fictício do lugar/da cidade em que se passa a história: uma analogia à cidade de Sobral, proposital/fundamentada. A apresentação é breve e sintética:
“Restal era um lugar pacato: nem tão grande para ser uma capital nem tão pequena para ser uma simples cidadezinha do interior. Era meio assim e meio assado; havia gente rica e gente pobre, casa pequena e casa enooorme, gente muito humilde e gente muito nobre.
E foi assim que...
TUDO
COMEÇOU...:tudo começou é o mesmo que dizer “era
uma vez”, ou seja, a história/estória se enquadra nos moldes tradicionais
de narrativa. Neste capítulo existem dois momentos: no primeiro há apresentação
breve e sintética dos núcleos familiares onde são revelados as características
marcantes de cada uma, em total oposição à outra: GOMES GONÇALVES e BATISTAS
FERREIRAS. No segundo momento é apresentado um outro núcleo (da TV MUNDIAL, uma
alusão à REDE GLOBO DE TELEVISÃO) que apenas tem valor real no início e no fim
do desenrolar da história.
OS GONÇALVES: apresentação de um diálogo do casal onde mostra uma situação típica/característica e de importância capital para o desenrolar da história/estória. Dona Antonieta mostra-se indignada com o fato de não haver no jornal do dia nenhum comentário a respeito da família nas colunas sociais e por isso deveria “tomar as providências”, fazer uma nova extravagância”, enquanto o senhor Romão ferve a cabeça em contas a pagar acumuladas.
OS BATISTAS: apresentação de um diálogo do casal onde mostra uma situação típica/característica e de importância capital para o desenrolar da história/estória. A situação revela a preocupação do casal com o filho.
SEMPRE AOS DOMINGOS: relata o “encontro” entre as duas famílias na igreja, revelando o comportamento de cada uma.
E O PADRE NO MEIO: relata a figura do padre e sua situação de “compromisso” para com as duas famílias: situação típica de interior.
ROMIETA:
introdução de novos personagens - apresentação de um diálogo entre Romieta e
Bartira por telefone onde há uma revelação de características das duas
personagens e de mais uma situação capital para o andamento da história: a
volta da filha dos G.G.
BARTIRA
E SEBASTIÃO: introdução de um novo personagem – apresentação do diálogo entre
Bartira e Sebastião (Tião). São feitas duas revelações: “a volta” de Romieta e
o fato de Julieu “herdar de pai vivo” se por acaso ele casar.
JULIEU:
introdução de um novo personagem – apresentação de um diálogo entre Julieu e
Sebastião, sendo comunicada “a volta” de Romieta e como foi recebida tal
comunicação.
NO
MEIO DO CAMINHO TINHA UM PADRE: neste capítulo existem dois momentos: no 1o
momento relata o diálogo entre Bartira e padre Normando que também fica sabendo
da novidade, e no 2o momento relata o diálogo entre dona Antonieta e
Bartira, sendo revelado o fato do recebimento da “herança de pai vivo” caso o
filho dos Batistas se casasse, o que fica também sabido por seu Romão, causando
uma indignação na família.
1O
DIA DE AULA: BALINHA DE MARACUJÁ E BOM-BOM DE CAFÉ: este capítulo consiste em
um flash back . Contem dois momentos:
o 1o revela o tipo de relacionamento entre pais e filhos,
representado pela figura da mãe e do filho, e o 2o onde é relatado os primeiros momentos de
JULIEU e ROMIETA quando crianças e seus respectivos comportamentos na/da
época.
O
VESTIDO BRANCO E O FIM DA PAZ: continuação do “flash back”. Este capítulo também contem dois momentos: no 1o é mostrado o tipo de relacionamento entre
pais e filhos representado pela figura da mãe e da filha, e o 2o revela
o por quê do “problema”: o mal entendido que gerou o conflito, a intriga, o
engano entre JULIEU e ROMIETA.
LEVA-E-TRAZ:
contem dois momentos: o 1o - revelação sutil do padre a respeito da
volta de Romieta, e no 2o – onde o padre faz uma “sugestão” um tanto
quanto “absurda”. Mostra o “jogo de
cintura” do padre para com as duas famílias, como ele se molda e acaba por
“manipular” cada uma.
“SURPRISE!!!”:
narra a chegada de Romieta à casa dos pais e a “receptividade”.
“NÃO
FALO, NÃO OUÇO, NÃO VEJO”: TOP SECRET.
ALGUM
TEMPO DEPOIS...: desenrolar da história/estória em quatro momentos:1o
relata o fato do casamento de Julieu. No
2o momento relata o fato do casamento de Romieta. 3o um
diálogo entre R. e Bartira, e o 4o um diálogo entre J. e Tião.
“ATÉ
QUE A MORTE NOS SEPARE?!!!...”: 10 momentos -
1o
momento – estranhamento.
2o
momento – movidos pela curiosidade se dirigiram à sacristia.
3o
momento – flagrante.
4o
momento – descoberta da armadilha.
5o
momento – incidente com Romieta que gera reflexão de J.
6o
momento – incidente com Julieu que gera reflexão de R.
7o
momento - duelo verbal que gera a revelação.
8o
momento – duelo corporal.
9o
momento – introdução do elemento surpresa.
10o
momento – resolução do problema.
ANÁLISE DOS PERSONAGENS:
NÚCLEO GOMES GONÇALVES (RUIVOS)
ROMÃO:
chefe da família, comerciante detentor do sobrenome mais importante de Restal,
mas em processo de falência por conta da má administração/mal emprego do
dinheiro herdado da família de ricos comerciantes (ingleses e holandeses)
fundadora da cidade. Vive de aparências.
ANTONIETA:
esposa de Romão, uma mulher que vive de ostentações e preocupações com outras futilidades, cheia de extravagâncias,
interesseira. Típica mulher da cidade grande.
ROMIETA: filha do casal ROMÃO e ANTONIETA, uma alusão à “JULIETA”. (?)
BARTIRA:
empregada da casa. Companheira, cúmplice e detentora dos segredos de Romieta. Pessoa simples mas (um pouco)
instruída. Mediadora inconsciente dos acontecimentos da narrativa.
NÚCLEO
BATISTAS FERREIRAS (TÍPICOS NORDESTINOS)
JULIÃO:
chefe da família, homem bastante
trabalhador já cansado que está progredindo na vida, fazendo fortuna no cabo da
enxada. Um homem simples e humilde no
modo de viver e falar (sem instrução), preocupado com o filho e logicamente com
o seu futuro.
EULÁLIA:
esposa de Julião, também humilde e sem instrução, e bastante protetora. Típica
mulher do campo.
JULIEU:
filho do casal JULIÃO e EULÁLIA, uma alusão “ROMEU”. (?)
SEBASTIÃO:
empregado da fazenda. Companheiro, cúmplice e detentor de Julieu. Rapaz simples
e de nenhuma instrução. Mediador inconsciente dos acontecimentos da narrativa.
PADRE
NORMANDO: mediador consciente dos acontecimentos da narrativa, dividindo a
atenção e a tensão entre as duas famílias. Tem características suspeitosas para
um padre, é interesseiro e não sabe guardar o que ouve fazendo revelações
“sutilmente”. Intermediário. Age por “algum” interesse. É uma figura pícara,
ardiloso e esperto, “se faz de besta para melhor passar” – PICARESCO.
NÚCLEO
DA TV MUNDIAL (REPÓRTERES)
CID
MADEIRA: alusivo a Cid Moreira.
LUCIANO
SAFIRA: alusivo a Luciano Zafir.
REGINA
CAFÉ: alusivo à Regina Casé.
ANÁLISE
DO LIVRO:
O
NARRADOR:
O
FOCO NARRATIVO:
A
HISTÓRIA/ESTÓRIA:
-
GG + B X
BF + S -> R X J ->
(B+S)-> G+P+B = R+J ...
A
EFABULAÇÃO:
-
não é linear. Contem retrospectivas, mas não traz prejuízo/não compromete o
entendimento da história.
O
GÊNERO NARRATIVO:
-
novela ou romance (?)
OS
PERSONAGENS:
-
apenas J. e R. são personagens esféricos (sofrem mudanças). Os demais são
planos (não sofrem mudanças).
O ESPAÇO:
O
TEMPO: DÉCADA DE 90
-
cronológico de ritmo acelerado.
A
LINGUAGEM NARRATIVA:
O
LEITOR OU OUVINTE:
-
De acordo com os estágios psicológicos da criança, podemos dizer que este
livrinho é indicado para as crianças entre 10 e 13 anos, ou seja, abrange
leitor fluente (10/11) e ou leitor crítico
(12/13), mas se a estória/história é simplesmente narrada e ou encenada pode vir agradar crianças menores e até
adultos. Tal experiência já foi feita e veio a comprovar a minha afirmação.
ANÁLISE DA HISTÓRIA/ESTÓRIA – TÓPICOS:
18.
História
inspirada na obra de W. Shakespeare: Romeu e Julieta.
19.
Aplicação de
linguagem coloquial: tal qual os personagens falam (reprodução).
20.
Aplicação de
situações de oposição: ANTÍTESES.
21.
Me inspirei nos
moldes da história do “Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna.
22.
Aplicação de
alguns elementos simbólicos:
BALINHA
DE MARACUJÁ: representação da figura de Romieta criança.
BOM-BOM
DE CAFÉ: representa a figura de Julieu criança.
As
crianças, em geral gostam de balinha/bom-bom.
MARACUJÁ
(calmante) está em oposição a CAFÉ
(estimulante).
O
comportamento de Romieta (agitada/ativa) está em oposição ao de Julieu
(calmo/passivo). Uma forma simbólica de equilibrar os contrários.
ROMIETA
+ MARACUJÁ.
JULIEU
+ CAFÉ.
BALINHA:
uso na linguagem culta.
BOM-BOM:
uso na linguagem comum.
O
fato de estes dois elementos reaparecerem no final da história simboliza o fato
de eles conservarem ainda “algo” da infância.
MARACUJÁ
= COMPRIMIDOS CALMANTES (adulto)
CAFÉ
= A FORÇA FÍSICA/RAIVA/IMPACIÊNCIA (adulto)
Foi
preciso que ela se acalmasse pelo uso excessivo de calmantes (desmaiasse) para
refletir.
Foi
preciso que ele usasse da força física gerada pela raiva e impaciência
(jogou-se contra a porta e se machucado) para refletir.
23.
Inclusão o
elemento infantil: mostrar o estado inicial de pureza.
24.
Nomes: costume
bem comum no interior – a junção de parte do nome do pai com parte do nome da
mãe – homenagem.
JULIEU
= JULIÃO + EULÁLIA
ROMIETA
= ROMÃO + ANTONIETA
25.
Obra: COMÉDIA
ROMÂNTICA em oposição à TRAGÉDIA/DRAMA
de
Shakespeare - (ROMEU E JULIETA).
26.
FERREIRA e GOMES : duas famílias
típicas/oriundas de Sobral.
27.
Características
da COMICIDADE/COMÉDIA: OBRA OU REPRESENTAÇÃO TEATRAL EM QUE PREDOMINAM A SÁTIRA
E A GRAÇA: FATO RIDÍCULO + FINGIMENTO + SIMULAÇÃO PROVOCANDO O RISO.
28.
Nem todas as idéias são expressas de forma
explícita, algumas são sugeridas e outras são simbólicas (como se pode notar
pelo uso de elementos simbólicos).
29.
Nenhum dos
personagens é mal: ou então têm uma maldade ingênua.
30.
Uso excessivo
de sinais gráficos: não se resumem a pura ESTILÍSTICA. Tem um objetivo, a
SUBJETIVIDADE. (...)/ (?)/ !!!/???/ ?!!/!??/ “” ...
31.
Há a presença de monólogo interior e não interior,
embora mínimos e breves.
32.
Há a presença
de FLASHES BACK (recordações) que quebram por duas vezes a linearidade da
narrativa/da história.
33.
Há a mistura
dos tempos: PRETÉRITO + PRESENTE.
34.
O texto contem
NARRADOR: (?)
OBJETIVO/COMUM
– narrador observador: a história parece se narrar sozinha.
IMPLÍCITO
– narra em terceira pessoa
ONISCIENTE
– vê e sabe tudo (comenta, analisa e critica)
35.
No início se
pensa que a personagem Regina Café irá relatar/narrar a história, mas a autora
toma a frente.
36.
“PRÍNSAPO” =
PRÍNCIPE + SAPO : NEOLOGISMO e “BYE” Provas do conhecimento de linguagem de
Romieta.
18.
Capítulo: “NÃO FALO, NÃO OUÇO, NÃO VEJO” – clichê bastante conhecido
representado pelos três macacos: mão na boca, mãos nos ouvidos e mãos nos
olhos. Não encontrei expressão melhor para nomear/representar o capítulo
“secreto”.
37.
Se uma pedra
representa obstáculo, alguma coisa que nos impede de ir para a frente e nos faz
parar, um padre bem que poderia ser exatamente o contrário, alguém que empurre
para frente, dê um andamento às “coisas”. Daí: “TINHA UM PADRE NO MEIO DO
CAMINHO” + LEVA-E-TRAZ... E O PADRE NO MEIO.
38.
SEMPRE AOS
DOMINGOS: uma alusão a um filme com este mesmo nome.
39.
Passo a passo,
no decorrer da história há uma aproximação (simbólica/ das situações) dos nomes:
JULIEU e ROMIETA.
40.
Tipos de
DISCURSO:
DIRETO: APRESENTAÇÃO POR DIÁLOGOS. REPRESENTAÇÃO
TEXTUAL DAS PALAVRAS DA PERSONAGEM. (MAX)
INDIRETO:
O NARRADOR TRANSMITE, COM AS PRÓPRIAS PALAVRAS, O PENSAMENTO EXPRESSO PELOS
PERSONAGENS (MED)
INDIRETO
LIVRE: HÁ A IDENTIFICAÇÃO/COMPARTILHAMENO DE EXPRESSÕES DE SENTIMENTOS ENTRE
PERSONAGENE E NARRADOR (ONISCIENTE) (MIN)
22.
Os DIÁLOGOS revelam: os perfis dos personagens, retratam o modo de ser, o que
pensam, o que desejam, como julgam a si e os outros, o que sabem, sua “fala”,
seus costumes e o seus caráteres entre outras coisas.
41.
(+/-) uma
PARÓDIA.
42.
Obra de
REALISMO/REALISTA.
43.
( +/-) Romance
de TESE: DETERMINISTA a bondade natural acaba por se manifestar e se impor.
44.
REALISMO
EMOTIVO OU HUMANITÁRIO
45.
INTECIONALIDADE:
em primeiro lugar tive a intencionalidade de divertir, mas o livrinho também
instrui, quando mostra as diferentes formas de falar dos personagens; educa,
quando trata do assunto das relações entre pais e filhos, a fraternidade, a solidariedade, e os relacionamentos de
amizade; emociona no momentos de “revelação” e “resolução” e por fim acaba por
conscientizar que devemos dar aos outros a chance de explicar-se/de defesa/ de
contar a sua versão e não se deixar levar pelas aparências das coisas e
pessoas.
29.
(+/-) TEATRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.