sexta-feira, 18 de maio de 2012

JULIEU & ROMIETA

RESTAL

         Restal era uma cidade pacata: nem tão grande para ser uma capital nem tão pequena para ser uma simples cidadezinha do interior. Era meio assim e meio assado; tanto havia casas enooormes, das gentes mais ricas e bem nascidas da cidade, como fazendas, fazendinhas e fazendões, das gentes que ainda conservavam o estilo mais antigo das gentes mais humildes do lugar.

TUDO COMEÇOU...

         Em Restal, duas famílias se destacavam dentre as demais: uma trazia o sobrenome mais importante da região, o mais nobre de todos. Já foram mais ricos do que o que são hoje, mas não sabem administrar bem a fortuna passada por herança do fundador da cidade para o atual detentor do tal sobrenome: o Senhor ROMÃO GOMES GONÇALVES.A outra família, era de um fazendeiro, filho de gente mais simples. Não tinha o sobrenome desses importantes, não. Tinham sim, trabalhado muito na roça, no cabo da enxada e, agora, graças a Deus e a tanto esforço, de fazer calo na mão, possuiam a Segunda maior fortuna, coisa que, por falar em calo... andava incomodando certo pessoal. Assim era a família dos BATISTA FERREIRA.

-          Boa noite! Eu sou Cid Madeira e, está no ar mais um: “SEJA O QUE DEUS QUISER”. Um programa polêmico, “onde a voz do povo é a voz de Deus”. E agora, últimas notícias. É com você, Luciano Safira.
-          Estamos aqui falando diretamente de uma das cidades do interior do Nordeste, onde está acontecendo nesse momento uma briga de casal e, veja só que curioso, no dia do casamento. Vamos tentar chegar mais perto e entrevistar algumas pessoas para ver se conseguimos mais informações. Minha senhora! Ôh! Minha senhora. Poderia dar alguma informação sobre o motivo da briga do casal?
-          Sei não senhor! Eu tô, como todo mundo aqui, querendo saber o que se asucedeu. A gente só ouviu a gritaria e saiu correndo pra cá. Parece que eles tão preso lá dentro, que eu ouvi eles gritando que queriam sair de lá.
-          Muito obrigado! Minha senhora...
-          Adisponha! Meu filho.
-          Regina Café, agora é com você.
-          Luciano, a gente aqui ficou sabendo que além do casal, o Padre, os pais da noiva e do noivo também estão lá dentro e, você não vai acreditar na história que eu tenho pra contar...

OS GONÇALVES

-          Romão! Querido. Há duas semanas os jornais não põem sequer uma notinha sobre a nossa família. Nós precisamos tomar alguma providência, e rápido. Quem sabe podemos fazer uma viagem a Paris. A Paris, não! A Miame! A Miame ,também não! Já estou enjoada. Fomos no mês passado. Já sei, JA-PÃO!!! Eu nunca fui ao Japão. Minhas amigas nunca foram ao Japão. Está feito. Vou ao Japão. Aposto que vou abafar por lá! E quando eu voltar... todos os repórteres vão querer saber como é por lá, o que eu comprei, em que hotel fiquei hospedada... eu serei a primeira. Ficarei em evidência por no mínimo... um mês. Ah! Romão. Parece que já me vejo.
-          Antonieta! Querida. Você fica aí só pensando em notinhas no jornal, viagens não sei para onde. Onde ninguém desta terra pôs os pés. Da próxima vez, vai querer ir à lua! Os Correia e Castro ainda não foram lá. Como pensar em coisas assim, se não consigo chegar ao fim destas contas que, dia a dia se acumulam. Já deu uma olhada no preço do colégio da nossa filha? Viu que absurdo o preço das coisas que a nossa filha anda comprando, lá em Fortaleza? Isso sem falar nas suas extravagâncias. Tudo é motivo de festa.
-          Festa?!!! Ai! Que idéia maravilhosa.

OS BATISTAS

-          Eulália! Ôh! Muié. Eu tô ficando vei e, andei matutando... quero passar nossa fortuna pro nosso fio, pra ver se ele larga  mão da barra da tua saia. Todo mundo lá na fazenda dos Mendonça e Albuquerque repara nessa arrumação. Nosso fi com 18 ano inda nunca teve um xamego e, eu na idade dele, já tava era amarrado cuntigo. Né verdade? Hoje in dia, os fi da gente tem que se criar no mundo. Repara! A famia daquele um já viajou o mundo todo e, oia nois...
-          Ôh! home. É verdade, Julião.

SEMPRE AOS DOMINGOS

         Se o dia de Domingo já é sagrado, tão sagrado quanto eram os encontros dos Batista Ferreira    com os Gomes Gonçalves. A primeira, ia à missa para agradecer por tudo que Deus havia lhes dado até ali . enquanto a Segunda... ia mesmo era para dona Antonieta desfilar todas suas roupas da moda e, com certeza, pedir a Deus que não lhes tomassem mais o que ainda tinham. Também era sagrado; Batistas na primeira fila do lado direito e Gonçalves na primeira fila do lado esquerdo.

E O PADRE NO MEIO

         Padre Normando era desses padres típicos: homem da Igreja mas, vivia com o pé na estrada, arrebanhando mais ovelhas para o seu bando. Bem servido, nos dois sentidos. Em todo lugar que chegava era um tal de cafezinho pra cá, um suquinho pra lá, almoço aqui, janta acolá. Mesmo assim era magrinho, de tanto andar, das casas do centro da cidade para as fazendas, fazendinhas e fazendões dos arredores.
         Era simpático até demais. Seu pecado... não guardar segredos, às vezes nem mesmo o de confissão e, assim mesmo, todos lhe contavam de tudo.
         Aos sábados, tinha o compromisso de visitar os G. e os B. O problema... que casa visitar primeiro?

ROMIETA

         O telefone toca.
-          Alô? Residência dos G. ...
-          Eu já sei! Estou cansada de ouvir a mesma coisa. Ainda mais com essa voz irritante que você tem, Bartira.
-          Dona Romieta! É a senhora mesmo?!
-          Meu Deus! Eu não tenho nem 20 anos e, essa criatura me envelhece uns 30. Tenha dó!
-          Perdão, patroinha! Eu tenho tantas coisas pra contar...
-          Dessa vez, eu é que tenho tantas coisas para contar. A primeira delas é que, meu namoro com o Marcelo Freitas acabou. A Segunda é que, o dinheiro do papai também e, isso quer dizer que, eu estou voltando para esse fim de mundo. Era o último da minha lista. Você quer saber?! Ele não era tão bonito nem tão rico assim!
-          Mas é que...
-          Eu não quero que nin-guééém saiba que eu estou voltando. E não tem mais. Bye!
-          Mas é que... ai! Eu detesto quando ela faz isso. Eu não vou me agüentar. Até parece que ela não me conhece. Eu tenho que contar pra alguém.

BARTIRA & SEBASTIÃO

Bartira não tinha jeito. E lá vai ela... descendo, subindo, pela direita, pela esquerda...
-          Oi! Tião.
-          Oh! Não vem que não tô bom hoje. O patrão tá com o cão nos coro e, se ele me pega aqui falando com ocê, é hoje que ele me diz Deus te arreda. Sabe que esse home só pensa em trabaio.
-          É que eu tenho uma coisa pra contar e, se eu não contar, eu adoeço. Mas... promete que não conta pra ninguém? Você sabe como é que eu fico, ainda mais quando a patroinha me pede pra não abrir a boca e, eu confio em ti.
-          Tá bom! Mas conta logo, que história de patroinha é essa. Ela num tá né lá na capitá?!
-          Sim! Mas é que ela vai voltar.
-          Essa é mintira e, das boa! Cuma é que vai vortá, se ela num suporta esse lugar aqui, num vai com a cara do povo daqui, num qué vê nois nim pintado de oro, ora!?
-          É que, sabe aquele ricão que ela tava namorando? Ela terminou tudo com ele.
-          E me diz, quem é que agüenta tua patroinha? Nem Satanás! Cruiz credo!
-          Não fale assim da minha patroinha, Sebastião!!! Com tudo, com tudo, ela é boazinha.
-          Diga isso pro Julieu. Quero só vê! Ah! Tombém vô dizê um negoço. Ouvi o patrão falando que, vai passar a herança dele pro fi, mesmo antes de morrê. Ma tem otro negoço, o patrãozinho vai te que arranjar muié pra casá. Agora sim! As moça vai oiá pra ele cum otros oio.
-          Agora, eu que digo! Quem é que vai Ter coragem de querer se casar com aquilo!? Até tu é menos bicho do mato do que ele.
-          Qué sabê? Com a dinherama que o pai vai dá pra ele, até tua patroinha casa e, sem fazê cara feia.
-          Tu tá é variando, homem! Nem que ele fosse o último homem do mundo! E quer saber também?! Vou é me embora. Tenho mais o que fazer.
        
         E lá vai ela de volta: pela esquerda, pela direita, descendo, subindo...

JULIEU

         Tião era outro, que não guardava nada.
-          Julieu! Ocê num vai acreditá. Sabe aquela mitida a besta da fia do seu Romão?
-          O que tem?
-          Tá de vorta pra cá. Os home lá da cidade grande num são tão burro cuma a gente pensava, não!
-          Do que você tá falando, Tião?
-          Tô dizendo que ela levou um passa fora do namorado dela, o ricão lá da capitá.
-          Não sei que novidade é essa?! Aquela lá... não nasceu pra ninguém mesmo. Uma azeda!
-          Se tu sabe bem, ela pensa o mermo de ti. As muié não gosta desse teu jeitão de bicho do mato. Até a Bartira me acha mió do que ocê.
-          Não me apoquente, Tião. Que fico nos casco.

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM PADRE

         Quase atropelando o padre que vinha andando a pé pela estrada, contido em suas orações.
-          Desculpa, seu Padre. É que eu estou com muita pressa.
-          Minha filha! E quando é que você não está pressa com pressa?! Quando tem algo na língua para contar, hen?!
-          Seu padre, para o senhor eu posso contar também. Afinal... o senhor é um homem santo. Não é?
-          Claro! Claro! Minha filha. Despeje.
-          É que minha patroinha, a dona Romieta tá de volta pra cá. Mas, ela não quer que ninguém fique sabendo disso.
-          Não me diga!
-          Sim. Mas, ninguém sabe. Quer dizer... só eu, o Tião e, o senhor: só nós três.
-          Por hora. (fala o Padre em voz Baixa)
-          Que?
-          Nada, Bartira. Nada!
-          Sua bênção, Padre Noberto. Agora eu tenho que ir voando pra casa.
         Dona Antonieta parece que adivinha. É sempre assim. Sabe que quando Bartira dá uma saidinha... aí tem coisa nova.
-          De onde você vem tão aflita, criatura?
-          Da rua, dona Antonieta.
-          Isso é obvio. E você sabe muito bem o que quero saber. Por um acaso você está vindo da casa daquela sua colega que trabalha na casa dos Correia e Castro?!
-          Não, senhora. Venho da fazenda do seu Julião e, só demorei mais porque encontrei com o padre no meio do caminho e, ...a senhora não imagina, não vai acreditar. Aquele filho dele, o Julieu...
-          Sim. O que tem aquele apalermado!?
-          Ele vai herdar de pai vivo.
-          Mas o que foi que você disse?!
-          É mais segundo o que eu também sei... só depois de arranjar casamento. Já imaginou, senhora. Quem é que vai querer se casar com aquele lá?! Como todo mundo mesmo diz, é um apalermado que vive na barra da saia da màe dele, desde aquele episódio que aconteceu com ele, quando ele era pequeno lá...
Dona Antonieta nem esperou a empregada terminar de falar. Foi logo gritando:
-          Romão!!! Querido. Venha ouvir uma coisa.
Veio Romão, quase enforcado na gravata:
-          O que foi agora, Antonieta?! O que foi que saiu ou deixou de sair no jornal desta vez?
-           Conta para ele, Bartira, que eu estou incapacitada de falar.
-          Como eu dizia, o Julieu vai herdar de pai vivo.
Romão foi ficando da cor de romã. Ficou incapacitado de falar, como dona Antonieta.
         Quando o efeito passou:
-          Isso é um insulto à nossa família! Até ele, aquele piãozinho.
-          Será que pelo menos nossa filha Romieta vai bem lá na capital? Ela não nos manda notícia há meses. Querido! Vejo nela nossa última esperança. Ela vai ter que se casar.
-          Querida! Nós temos que tomar as providências.

1o DIA DE AULA

         Primeiro dia de escola é um dia todo especial, tanto para os meninos quanto para as meninas que entram neste mundo novo mas, nem todos aceitam de bom grado tal idéia e, assim aconteceu com Julieu.
         Julieu era e, ainda é desses meninos tímidos, acanhados: na dele e, de certa forma se sentia diferente no meio de todos os outros. Era diferente porque era o único que não morava na parte urbana; morava em uma fazenda. Era diferente, porque na época, seus pais ainda não tinham tanto dinheiro como agora. A razão dele estar alí, era o fato de que seus pais não o queriam um ignorante, um analfabeto como seus pais, sem instrução. Era diferente porque havia sido educado de uma outra forma, diferente das outras crianças da cidade, sem frescuras. Qualquer dos meninos da cidade tinham como bichinho de estimação, por exemplo, um gatinho, um cachorrinho, um peixinho, um passarinho... mas, ele não. Julieu tinha um pintinho.
         No primeiro dia, tudo era permitido. Quase tudo. Desde que acalmace os ânimos das crianças. Daí que, dona Eulália teve a idéia, de deixar que Julieu levasse seu bichinho para a escola. Isso o deixaria mais à vontade no meio daqueles tão iguais.
         Como eu dizia: quase tudo era permitido. O pintinho de Julieu deu o que falar. Algumas poucas crianças até gostaram da novidade e, pasmem, Romieta era uma delas. Mas, a maioria tirava brincadeirinhas de mau gosto com Julieu que, acabava chorando magoado e, se escondia com seu pintinho e, foi quando ela apareceu;
-          Quer? É balinha de maracujá. Eu adoro!
Ele estendeu a mão a medo. Aceitou:
-          Obrigada! Não conhecia balinha de maracujá. Só bom-bom de café. Eu tenho. Quer?
-          Posso ver o seu bichinho?
-          Ahran!
         Romieta era uma menina muito valente e, além disso, tinha muito prestígio, por ser filha de quem é. Ela, ainda pequena, tinha ares de princesa, tão diferente de Julieu que, tinha ares de plebeu. Mas, no primeiro encontro, nada disso importava ou importou. Eram iguaisinhos, porque eram crianças.

O VESTIDO BRANCO E O FIM DA PAZ

         Romieta estava uma graça com seu vestido novo branquinho. Era importado. Caríssimo!!! De paris. Seus pais quase não tinham tempo para ela. Seu Romão, no comércio. Sua mãe, lendo colunas sociais... viajando. Para compensar, sempre ganhava alguma coisa. O tal vestido branco era o que Romieta mais gostava. E por falar em gostar... os amiguinhos da há mais tempo de Romieta, não gostaram daquele comportamento que ela teve em relação ao Julieu. Como podia uma menina como ela fazer amizade com alguém como ele?! Romieta tinha resolvido que, dalí em diante, Julieu seria seu mais novo amigo. No primeiro dia mesmo, fez com que ele ficasse mais próximo dela, numa carteira atrás da dela. Ela era a primeira da fila. Ele, seria o segundo.
         Foi um dia muito estressante para todos e, como também não poderia ser para o pintinho, com tanta euforia em sua volta, a barriga dele sentiu. Foi então que, os coleguinhas de Romieta tiveram uma idéia suja para acabar com aquele desatino da menina. Eu preciso dizer mais alguma coisa?
         Tudo era estratégico. Aquela caixa na carteira de Julieu que, por sua vez estava sentado na carteira atrás da de Romieta... faltava só a professora não estar prestando atenção, olhando para qualquer outra coisa e...
         Na verdade, eu nem sei como tudo se deu direito mas, no momento exato em que o pintinho fazia cocô em sua caixinha, foi jogado em cima do vestido de Romieta. Este mesmo. O que Romieta mais gostava.
         Ela ficou paralisada e, foi ficando vermelha... vermelha, olhando para aquele pinto. Nem pode perceber o erro, nem pode perceber o engano. Olhou Julieu, fulminante:
-          Julieu. Por que?!!!...
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LEVA-E-TRAZ

-          Bom dia, seu Julião.
-          Bom dia padre Normando.
-          Sei que o senhor pode estranhar a minha vinda aqui, pois como sabemos, não é sábado mas, o que me traz em vossa casa é...
-          Num pricisa o sinhor padre se justificar. Eu tô precisando aí duns conseio e troca umas idéia. É que eu num tô mai dando conta do serviço, num sabe, e meu fio Julieu é rapaiz novo, bom de arranjar uma muié pra casá e cuidar da minha fazenda e da fortuna da famia. O sinhor prum acaso num cunhece uma dessas aqui por essas redondezas, que possa assim... se interessar.
         O padre se estremeceu com tamanha surpresa. Até se esqueceu do que tinha vindo fazer na casa do senhor Julião. E o padre, muito sincero disse:
-          Meu Deus! Agora com toda essa fortuna, o senhor vai ver que aparece.
Seu Julião não fica ofendido. Sabe que, isso é bem verdade porque, se dependesse do filho... nem durou na escola. Tudo o que aprendeu foi graças à dona Sofia que, tendo o coração e o cérebro de elefante, vinha dar aulas para Julieu em casa mesmo. Pelo menos, de burro, ignorante, Julieu não pode ser apontado:
-          Julieu é muito inteligente. Só é um tantinho distraído.
De volta ao padre:
-          Acabei de lembrar que tenho uma alma perdida lá na cidade para salvar e, já se faz tarde.
-          Mas o sinhor num...
A julgar pela pressa do padre, esta tal alma deve carecer e muito de salvação.

- Bom dia seu Romão.
- Bom dia, senhor Normando.
-          Sei que o senhor pode estranhar a minha vinda aqui pois, como sabemos, hoje não é Sábado mas, o que me traz em sua casa é...
-          Como o senhor sabe, não ando tão bem das finanças e, não sei de onde tirar mais dinheiro para... o senhor sabe.
-          Mas eu sei. ( fala em voz baixa)
-          O que o senhor disse?
-          Nada, meu filho!
-          Se eu entendi bem, o senhor disse que sabia.
-          Mas... não é nada, é só uma idéia, uma idéia absurda que me ocorreu. Afinal... vocês jamais concordariam em... casar Romieta com Julieu. Não é ?!!!
-          Que sandice é essa agora?! Além do mais, Romieta vai muito bem na cidade, namorando aquele rapaz, o Marcelo Freitas.
         O padre fica se sentindo um pouco empertigado e, resolve dar o pé dalí:
-          Lembrei que tenho de preparar a missa de Domingo e, já vou tarde.
         Bartira ouviu tudo atrás da porta, às escondidas:
-          Será!?...

“SURPRISE!!!”

         Sábado. Meio-dia em ponto. Ouve-se a campainha na casa do comerciante:
-          Deve ser o Padre Normando para o almoço.
-          Mamãe e Papai. Voltei!!!
-          Dona Romieta?! (cai o queixo de Bartira)
-          O que é que foi, criatura?! Viu algum E.T?
-          Minha filha! Como você chega assim, sem nos avisar?
-          Já que é assim...
-          Não, Filha. Brincadeirinha! Nós nunca sentimos tanto a sua falta. Não é?!
-          Mas é claro!...
         Assim que o queixo da empregada voltou para o lugar, ela foi direto contar mais uma para o Tião. Desde então, Tião não perdeu uma só oportunidade de azucrinar a paciência de Julieu: Romieta pra cá, Romieta pra lá... era como esporar touro brabo e, ele ainda nem sabia do melhor ou do pior. Tião guardava isso para o fim. Julieu saía espumando:
-          Era só o que me faltava, aquele peão do Tião me comparar com aquela... aquela tal de Ro-mi-e-ta.
-          O que ocê está dizendo, meu fi?
-          A senhora sabe muito bem.
-          Mas, meu fi. Aquela moça é tão... distinta! E, além do mai, tem o subrinome dos Gonçalver.
E ela nim vive por aqui.
-          Mas ela já voltou. E quer saber? Eu é que já estou indo.
-          Um subrinome daqueles... e meu filho tava feito de tudo na vida. Se aqueles lá tivesse uma otra fia que nem a Romieta... proque essa... não tá na midida dele.

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“NÃO FALO, NÃO OUÇO , NÃO VEJO”

ALGUM TEMPO DEPOIS...

-          Minha filha, sabe quem vai se casar no final deste mês?
-          Não mesmo, mamãe.
-          Aquele rapaz lá da fazenda, o filho dos Batista.
-          O tal do Julieu, mamãe?! Mas, e quem é a infeliz que vai cometer a loucura de se casar com aquilo? Sim,
porque... francamente! Eu, hen!?... Uuui!
-          E tem mais. Nós somos convidados especiais. Somos os pa-drinhos da noiva.
-          Ah! Essa eu não entendi! Nós!?
-          Minha filha. Você sabe como é... sabe que somos uma das famílias mais importantes e... como não nos convidariam?
-          Ah! Mamãe. E eu conheço a louca, ô... a noiva? Me conta quem é, vai? Eu estou morrendo de curiosidade!
-          Você vai saber logo-logo.
-          Não tem diversão mesmo nesse fim de mundo... acho que vou ter que me contentar com isso mesmo e, sabe, acho
que vou me divertir muito e, posso, quem sabe, até encontrar meu príncipe “prínsapo” encantado por lá. Mas que piada!
-          E vai mesmo, minha filha. (fala dona Antonieta só para si).
(...)
        

-          Fio. Hoje à noite eu quero ocê bem bunito, nus pano, pra mode a gente ir prum casório.
-          Mãe. A  senhora sabe que eu não gosto dessas coisas e, além do mais, eu não estou sabendo de casamento 
.nenhum.
-          A gente tem que i, meu fi. É que nois sumo os pa-drin do noivo. demo nossa palavra.
-          E quem é que vai se casar?
-          É aquela moça, a tar da Romieta.
-          Não tô entendendo mais é nada nem quero mesmo entender. Como é que uma criatura que não tinha namorado, bem dizer, até ontem e, hoje à noite vai se casar?! Na certa deve ser um cara montado na grana e, que só pode é variar das idéias, que nem ela.
-          Meu fio. Tome tento!
-          Agora, eu é que quero ir. Mas não vou me arrumar coisa nenhuma! Vou só pra ver a cara do besta e, pra tentar
convencer o desgraçado a desistir dessa bestagem. 

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-          Dona Romieta, a senhora já sabe do casamento?! A senhora vai mesmo!?
-          Mas é claro! Vou até chegar antes do Julieu. Não quero perder nenhum detalhe da festa. Vai ser o casamento do século! Pode escrever.
-          E a senhora entendeu!?
-          É só pelo dinheiro dele, Bartira.e, para de me chamar de dona, de senhora que eu já falei que não gosto!
-          Mas patroinha!...
-          E não tem mais nem meio mais! Preciso me aprontar.
         Bartira não entendeu nada mesmo.
(...)



-          O patrãozinho vai mesmo?!
-          Como não, Tião?! Meus pais deram a palavra e, eu posso não estar indo por bem mas, eu só quero é ver no que vai dar.
         Tião é outro que também não entendeu nada. 
(...)

“ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE?!!!...”

         Que coincidência! Batistas e Gonçalves chegaram ao mesmo tempo. Parecia cena de novela.
Gonçalves de um lado, Batista do outro. Mas sabe o que era esquisito? Esquisitíssimo!!! Não havia ninguém além das duas famílias lá e o padre. Os primeiros a repararem nisso foram Julieu e Romieta. Cada qual pensava consigo. Deve ser uma cerimônia bem simples e reservada. Até demais. Mas a desculpa, para os dois, era o fato de virem motivos óbvios para que o tal casamento fosse um fracasso.

         Romieta e Julieu se afastaram, quase ao mesmo tempo. Pareciam atraídos pela sacristia. Ambos queriam conhecer os respectivos noivo e noiva.  Romieta entrou pela direita. Julieu entrou pela esquerda. As duas famílias notaram tal fato providencial e... 
         De repente as portas da sacristia se fecharam. Cada um correu para a respectiva porta pela qual entraram. Nada!
As portas não abriam. Eles falaram ao mesmo tempo:
-          Alguém abra esta porta! Estou trancada/trancado aqui! Se ouviram, se viram em flagrante.
-           O que você faz aqui?
-          Eu só vim ver a noiva/o noivo.
-          Como assim ver a noiva/o noivo!?
-          A nova/O noivo é você!!!
-          Ahhh!!!
-          Eu não acredito!!!
-          Julieu/Romieta!!!
-          Fomos enganados por nossos próprios pais.
-          Isso é uma armadilha/arapuca!
ROMIETA:
- Ai! Eu acho que não estou me sentindo muito bem!... (foi tirando da bolsa um monte de balinhas de maracujá e os comprimidos calmantes. tomou todos).
Minutos depois... já viu. Estava ela esticadinha no chão.
         Julieu quando deu conta do acontecido, correu pra junto dela. Ficou sem saber o que pensar, sem saber o que fazer.
Ela estava fria que nem pedra de gelo:
-          E agora? Morreu! Vão pensar que eu matei ela. Ou pelo menos tentei. Se bem que me dá mesmo essa vontade.não vou negar. Ahhh!!!...
         Julieu só sabia que tinha que fazer alguma coisa e, fez. Se atirou de corpo todo/inteiro contra a porta da sacristia. Foi tão de mal jeito que, acabou batendo a cabeça e caindo sem sentidos e ferido.
         A o barulho da pancada foi tão grande que, Romieta acordou:
-          Meu Deus! On-des-tou? O que foi que aconteceu? Eu não me lembro de nada!... Julieu!?... ai! Meu Deus. O que foi que eu fiz? Eu briguei com ele?... Eu bati nele?... Eu matei ele?... por que que ele tá ...? morto!?... ai! Amanhã meu nome vai sair no “Barra Pesada”, no “Aqui e Agora”, no... New York Time Notícia, no C.N.N... ai! Minha cabeça... agora não vai faltar motivos pra que o nome da nossa família saia nas colunas mas, na parte policial. Ai,ai,ai!!!... (Romieta já berrava)
         Agora foi a vez de Julieu ser incomodado pelo o barulho dos ais de Romieta:
-          Dá pra berrar um pouco mais baixo!? Sinto uma dor enorme em toda parte do corpo.
-          Agora foi! Você tá pensando que é o que, ehn?
-          Olha só quem fala!
-          Eu não suporto você, seu bruto! Não sabe nem lidar com uma menina, que dirá com uma mulher como eu. Você pensa que eu esqueci o que fez comigo quando eu ainda era uma menina? Não! Você estragou o meu melhor vestido. Por inveja de mim, da minha família, do meu sobrenome. Bem que meus colegas me avisaram que você não era digno da minha amizade. Pessoas como você são...
-          Agora é a minha vez. Eu tentei te explicar que eu não tive culpa desse acontecido. Você preferiu acreditar naqueles... seus “amiguinhos” do que em mim. Além do mais, foi melhor mesmo que a nossa “amizade” acabasse por alí. Nós somos muito diferentes mesmo! Eu não iria agüentar Ter que olhar pra você todos os dias mesmo!
-          Mentiroso! Você quer que eu acredite nisso?!
-          Eu não estou mentindo, pro seu governo e, quer saber? Pouco me importa se... você tivesse morrido.
-          Ah! É!... Eu digo o mesmo! E então pode vir...
         Estavam prontos para o duelo.
Neste momento os dois se aproximaram pela segunda vez na vida, para brigar. Pareciam duas crianças ela batia forte nele e, ele só se defendia tentando agarrar/segurar com força os braços dela. Ele não tinha a intenção de machucá-la, só queria defender-se. Coisa que ela, até aquele dia não lhe dera a chance de fazer. Não lhe dera voz. Ela odiava se sentir daquele jeito, presa. Ela só queria bater e, bater e bater. Queria descontar a raiva guardada por tanto tempo, a raiva de ter  perdido.
         Estavam em pleno combate, quando...
-          Para! Para tudo!!!
         Alguém derrubou a porta. Era Luciano Safira, o repórter do “SEJA O QUE DEUS QUISER”: um programa polêmico, onde a voz do povo é a voz de Deus e, a polícia.
         Neste momento, ficaram estáticos mas, continuaram agarrados. Instalou-se uma confusão maior, agora dentro da sacristia. Luciano Safira se aproveitou da situação e, diante daquilo, resolveu improvisar o programa:
-          Filma aí, ô! 1-2-3... Bem chegamos ao fim de mais um programa e, o final você escolhe.
Até votação foi feita.
Deu empate.
Eles decidiram:
Ninguém matou.
Ninguém morreu
e
eles viveram
FELIZES PARA SEMPRE!!!
(...)

ANÁLISE DA HISTÓRIA/ESTÓRIA – TÓPICOS:


1.      História inspirada nas obras de W. Shakespeare: Romeu e Julieta e A megera domada.
2.      Aplicação de linguagem coloquial: tal qual os personagens falam (reprodução).
3.      Aplicação de situações de oposição: ANTÍTESES.
4.      Me inspirei nos moldes da história do “Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna.
5.      Aplicação de alguns elementos simbólicos:
BALINHA DE MARACUJÁ: representação da figura de Romieta criança.
BOM-BOM DE CAFÉ: representa a figura de Julieu criança.
As crianças, em geral gostam de balinha/bom-bom.
MARACUJÁ (calmante)  está em oposição a CAFÉ (estimulante).
O comportamento de Romieta (agitada/ativa) está em oposição ao de Julieu (calmo/passivo). Uma forma simbólica de equilibrar os contrários.
ROMIETA + MARACUJÁ.
JULIEU + CAFÉ.
BALINHA: uso na linguagem culta.
BOM-BOM: uso na linguagem comum.
O fato de estes dois elementos reaparecerem no final da história simboliza o fato de eles conservarem ainda “algo” da infância.
MARACUJÁ = COMPRIMIDOS CALMANTES (adulto)
CAFÉ = A FORÇA FÍSICA/RAIVA/IMPACIÊNCIA (adulto)
Foi preciso que ela se acalmasse pelo uso excessivo de calmantes (desmaiasse) para refletir.
Foi preciso que ele usasse da força física gerada pela raiva e impaciência (jogou-se contra a porta e se machucado) para refletir.
6.      Inclusão o elemento infantil: mostrar o estado inicial de pureza.
7.      Nomes: costume bem comum no interior – a junção de parte do nome do pai com parte do nome da mãe – homenagem.
JULIEU = JULIÃO + EULÁLIA
ROMIETA = ROMÃO + ANTONIETA
8.      Obra: COMÉDIA ROMÂNTICA em oposição à TRAGÉDIA/DRAMA
de Shakespeare - (ROMEU E JULIETA).
9.       FERREIRA e GOMES : duas famílias típicas/oriundas de Sobral.
10.  Características da COMICIDADE/COMÉDIA: OBRA OU REPRESENTAÇÃO TEATRAL EM QUE PREDOMINAM A SÁTIRA E A GRAÇA: FATO RIDÍCULO + FINGIMENTO + SIMULAÇÃO PROVOCANDO O RISO.
11.   Nem todas as idéias são expressas de forma explícita, algumas são sugeridas e outras são simbólicas (como se pode notar pelo uso de elementos simbólicos).
12.  Nenhum dos personagens é mal: ou então têm uma maldade ingênua.
13.  Uso excessivo de sinais gráficos: não se resumem a pura ESTILÍSTICA. Tem um objetivo, a SUBJETIVIDADE. (...)/ (?)/ !!!/???/ ?!!/!??/ “” ...
14.   Há a presença de monólogo interior e não interior, embora mínimos e breves.
15.  Há a presença de FLASHES BACK (recordações) que quebram por duas vezes a linearidade da narrativa/da história.
16.  Há a mistura dos tempos: PRETÉRITO + PRESENTE.
17.  No início se pensa que a personagem Regina Café irá relatar/narrar a história, mas a autora toma a frente.
18. Capítulo: “NÃO FALO, NÃO OUÇO, NÃO VEJO” – clichê bastante conhecido representado pelos três macacos: mão na boca, mãos nos ouvidos e mãos nos olhos. Não encontrei expressão melhor para nomear/representar o capítulo “secreto”.
19.  Se uma pedra representa obstáculo, alguma coisa que nos impede de ir para a frente e nos faz parar, um padre bem que poderia ser exatamente o contrário, alguém que empurre para frente, dê um andamento às “coisas”. Daí: “TINHA UM PADRE NO MEIO DO CAMINHO” + LEVA-E-TRAZ... E O PADRE NO MEIO.
20.  SEMPRE AOS DOMINGOS: uma alusão a um filme com este mesmo nome.
21.  Passo a passo, no decorrer da história há uma aproximação (simbólica/ das situações) dos nomes: JULIEU e ROMIETA.
22. Os DIÁLOGOS revelam: os perfis dos personagens, retratam o modo de ser, o que pensam, o que desejam, como julgam a si e os outros, o que sabem, sua “fala”, seus costumes e o seus caráteres entre outras coisas.
23.  Obra de REALISMO/REALISTA.
24.  INTECIONALIDADE: em primeiro lugar tive a intencionalidade de divertir, mas o livrinho também instrui, quando mostra as diferentes formas de falar dos personagens; educa, quando trata do assunto das relações entre pais e filhos, a fraternidade,  a solidariedade, e os relacionamentos de amizade; emociona no momentos de “revelação” e “resolução” e por fim acaba por conscientizar que devemos dar aos outros a chance de explicar-se/de defesa/ de contar a sua versão e não se deixar levar pelas aparências das coisas e pessoas.

ANÁLISE DOS PERSONAGENS:

NÚCLEO GOMES GONÇALVES


ROMÃO: chefe da família, comerciante detentor do sobrenome mais importante de Restal, mas em processo de falência por conta da má administração/mal emprego do dinheiro herdado da família de ricos comerciantes fundadora da cidade. Vive de aparências.

ANTONIETA: esposa de Romão, uma mulher que vive de ostentações e preocupações com  outras futilidades, cheia de extravagâncias, interesseira. Típica mulher da cidade grande.

ROMIETA: filha do casal ROMÃO e ANTONIETA, uma alusão à “JULIETA”. (?)

  

BARTIRA: empregada da casa. Companheira, cúmplice e detentora dos segredos  de Romieta. Pessoa simples mas (um pouco) instruída. Mediadora inconsciente dos acontecimentos da narrativa.

NÚCLEO BATISTAS FERREIRAS

JULIÃO: chefe  da família, homem bastante trabalhador já cansado que está progredindo na vida, fazendo fortuna no cabo da enxada.  Um homem simples e humilde no modo de viver e falar (sem instrução), preocupado com o filho e logicamente com o seu futuro.

EULÁLIA: esposa de Julião, também humilde e sem instrução, e bastante protetora. Típica mulher do campo.

JULIEU: filho do casal JULIÃO e EULÁLIA, uma alusão “ROMEU”. (?)

SEBASTIÃO: empregado da fazenda. Companheiro, cúmplice e detentor dos segredos de Julieu. Rapaz simples e de nenhuma instrução. Mediador inconsciente dos acontecimentos da narrativa.

PADRE NORMANDO: mediador consciente dos acontecimentos da narrativa, dividindo a atenção e a tensão entre as duas famílias. Tem características suspeitosas para um padre, é interesseiro e não sabe guardar o que ouve fazendo revelações “sutilmente”. Intermediário. Age por “algum” interesse. É uma figura pícara, ardiloso e esperto, “se faz de besta para melhor passar” – PICARESCO.

NÚCLEO DA TV MUNDIAL (REPÓRTERES)

CID MADEIRA: alusivo a Cid Moreira.
LUCIANO SAFIRA: alusivo a Luciano Zafir.
REGINA CAFÉ: alusivo à Regina Casé.





UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE
CENTRO DE HUMANIDADES – CH
CURSO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LÍNGUA PORTUGUESA
DISCIPLINA: LITERATURA INFANTO-JUVENIL
PROFESSORA: VICÊNCIA JAGUARIBE
ALUNA: MARIA CELESTE B.S.P.

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

JULIEU & ROMIETA


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“PAIS RICOS, FILHOS NOBRES, NETOS POBRES”



“TER OU NÃO TER? EIS A QUESTÃO”
FORTALEZA-CE
2000


ANÁLISE DOS CAPÍTULOS/RESUMO ANALÍTICO:


 

RESTAL: nome fictício do lugar/da cidade em que se passa a história: uma analogia à cidade de Sobral, proposital/fundamentada. A apresentação é breve e sintética:

“Restal era um lugar pacato: nem tão grande para ser uma capital nem tão pequena para ser uma simples cidadezinha do interior. Era meio assim  e meio assado; havia gente rica e gente pobre, casa pequena e casa enooorme, gente muito humilde e gente muito nobre. 

          E foi assim que...


TUDO COMEÇOU...:tudo começou é o mesmo que dizer “era uma vez”, ou seja, a história/estória se enquadra nos moldes tradicionais de narrativa. Neste capítulo existem dois momentos: no primeiro há apresentação breve e sintética dos núcleos familiares onde são revelados as características marcantes de cada uma, em total oposição à outra: GOMES GONÇALVES e BATISTAS FERREIRAS. No segundo momento é apresentado um outro núcleo (da TV MUNDIAL, uma alusão à REDE GLOBO DE TELEVISÃO) que apenas tem valor real no início e no fim do desenrolar da história. 

OS GONÇALVES: apresentação de um diálogo do casal onde mostra uma situação típica/característica e de importância capital para o desenrolar da história/estória. Dona Antonieta mostra-se indignada com o fato de não haver no jornal do dia nenhum comentário a respeito da família nas colunas sociais e por isso deveria “tomar as providências”, fazer uma nova extravagância”, enquanto o senhor Romão ferve a cabeça em contas a pagar acumuladas.


OS BATISTAS: apresentação de um diálogo do casal onde mostra uma situação típica/característica e de importância capital para o desenrolar da história/estória. A situação revela a preocupação do casal com o filho.



SEMPRE AOS DOMINGOS: relata o “encontro” entre as duas famílias na igreja, revelando o comportamento de cada uma.


E O PADRE NO MEIO: relata a figura do padre e sua situação de “compromisso” para com as duas famílias: situação típica de interior.


ROMIETA: introdução de novos personagens - apresentação de um diálogo entre Romieta e Bartira por telefone onde há uma revelação de características das duas personagens e de mais uma situação capital para o andamento da história: a volta da filha dos G.G.

BARTIRA E SEBASTIÃO: introdução de um novo personagem – apresentação do diálogo entre Bartira e Sebastião (Tião). São feitas duas revelações: “a volta” de Romieta e o fato de Julieu “herdar de pai vivo” se por acaso ele casar.

JULIEU: introdução de um novo personagem – apresentação de um diálogo entre Julieu e Sebastião, sendo comunicada “a volta” de Romieta e como foi recebida tal comunicação.

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM PADRE: neste capítulo existem dois momentos: no 1o momento relata o diálogo entre Bartira e padre Normando que também fica sabendo da novidade, e no 2o momento relata o diálogo entre dona Antonieta e Bartira, sendo revelado o fato do recebimento da “herança de pai vivo” caso o filho dos Batistas se casasse, o que fica também sabido por seu Romão, causando uma indignação na família.  

1O DIA DE AULA: BALINHA DE MARACUJÁ E BOM-BOM DE CAFÉ: este capítulo consiste em um flash back . Contem dois momentos: o 1o revela o tipo de relacionamento entre pais e filhos, representado pela figura da mãe e do filho, e o 2o  onde é relatado os primeiros momentos de JULIEU e ROMIETA quando crianças e seus respectivos comportamentos na/da época. 

O VESTIDO BRANCO E O FIM DA PAZ: continuação do “flash back”.  Este  capítulo também contem dois momentos: no 1o  é mostrado o tipo de relacionamento entre pais e filhos representado pela figura da mãe e da filha, e o 2o revela o por quê do “problema”: o mal entendido que gerou o conflito, a intriga, o engano entre JULIEU e ROMIETA.

LEVA-E-TRAZ: contem dois momentos: o 1o - revelação sutil do padre a respeito da volta de Romieta, e no 2o –  onde o padre faz uma “sugestão” um tanto quanto “absurda”.  Mostra o “jogo de cintura” do padre para com as duas famílias, como ele se molda e acaba por “manipular” cada uma.

“SURPRISE!!!”: narra a chegada de Romieta à casa dos pais e a “receptividade”.

“NÃO FALO, NÃO OUÇO, NÃO VEJO”: TOP SECRET.

ALGUM TEMPO DEPOIS...: desenrolar da história/estória em quatro momentos:1o relata o fato do casamento de  Julieu. No 2o momento relata o fato do casamento de Romieta. 3o um diálogo entre R. e Bartira, e o 4o um diálogo entre J. e Tião. 
 
“ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE?!!!...”: 10 momentos -
1o momento – estranhamento.
2o momento – movidos pela curiosidade se dirigiram à sacristia.
3o momento – flagrante.
4o momento – descoberta da armadilha.
5o momento – incidente com Romieta que gera reflexão de J.
6o momento – incidente com Julieu que gera reflexão de R.
7o momento - duelo verbal que gera a revelação.
8o momento – duelo corporal.
9o momento – introdução do elemento surpresa.
10o momento – resolução do problema.
ANÁLISE DOS PERSONAGENS:

NÚCLEO GOMES GONÇALVES (RUIVOS)


ROMÃO: chefe da família, comerciante detentor do sobrenome mais importante de Restal, mas em processo de falência por conta da má administração/mal emprego do dinheiro herdado da família de ricos comerciantes (ingleses e holandeses) fundadora da cidade. Vive de aparências.

ANTONIETA: esposa de Romão, uma mulher que vive de ostentações e preocupações com  outras futilidades, cheia de extravagâncias, interesseira. Típica mulher da cidade grande.

ROMIETA: filha do casal ROMÃO e ANTONIETA, uma alusão à “JULIETA”. (?)

  

BARTIRA: empregada da casa. Companheira, cúmplice e detentora dos segredos  de Romieta. Pessoa simples mas (um pouco) instruída. Mediadora inconsciente dos acontecimentos da narrativa.

NÚCLEO BATISTAS FERREIRAS (TÍPICOS NORDESTINOS)

JULIÃO: chefe  da família, homem bastante trabalhador já cansado que está progredindo na vida, fazendo fortuna no cabo da enxada.  Um homem simples e humilde no modo de viver e falar (sem instrução), preocupado com o filho e logicamente com o seu futuro.

EULÁLIA: esposa de Julião, também humilde e sem instrução, e bastante protetora. Típica mulher do campo.

JULIEU: filho do casal JULIÃO e EULÁLIA, uma alusão “ROMEU”. (?)

SEBASTIÃO: empregado da fazenda. Companheiro, cúmplice e detentor de Julieu. Rapaz simples e de nenhuma instrução. Mediador inconsciente dos acontecimentos da narrativa.

PADRE NORMANDO: mediador consciente dos acontecimentos da narrativa, dividindo a atenção e a tensão entre as duas famílias. Tem características suspeitosas para um padre, é interesseiro e não sabe guardar o que ouve fazendo revelações “sutilmente”. Intermediário. Age por “algum” interesse. É uma figura pícara, ardiloso e esperto, “se faz de besta para melhor passar” – PICARESCO.
NÚCLEO DA TV MUNDIAL (REPÓRTERES)

CID MADEIRA: alusivo a Cid Moreira.

LUCIANO SAFIRA: alusivo a Luciano Zafir.
REGINA CAFÉ: alusivo à Regina Casé.
ANÁLISE DO LIVRO:

O NARRADOR:

O FOCO NARRATIVO:

A HISTÓRIA/ESTÓRIA:
- GG + B  X  BF + S -> R X J ->  (B+S)-> G+P+B = R+J ...

A EFABULAÇÃO:
- não é linear. Contem retrospectivas, mas não traz prejuízo/não compromete o entendimento da história.

O GÊNERO NARRATIVO:
- novela ou romance (?)

OS PERSONAGENS:
- apenas J. e R. são personagens esféricos (sofrem mudanças). Os demais são planos (não sofrem mudanças).

O ESPAÇO:

 

O TEMPO: DÉCADA DE 90
- cronológico de ritmo acelerado.

A LINGUAGEM NARRATIVA:

O LEITOR OU OUVINTE:
- De acordo com os estágios psicológicos da criança, podemos dizer que este livrinho é indicado para as crianças entre 10 e 13 anos, ou seja, abrange leitor fluente (10/11) e ou leitor crítico  (12/13), mas se a estória/história é simplesmente narrada e ou encenada  pode vir agradar crianças menores e até adultos. Tal experiência já foi feita e veio a comprovar a minha afirmação.





ANÁLISE DA HISTÓRIA/ESTÓRIA – TÓPICOS:


18.  História inspirada na obra de W. Shakespeare: Romeu e Julieta.
19.  Aplicação de linguagem coloquial: tal qual os personagens falam (reprodução).
20.  Aplicação de situações de oposição: ANTÍTESES.
21.  Me inspirei nos moldes da história do “Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna.
22.  Aplicação de alguns elementos simbólicos:
BALINHA DE MARACUJÁ: representação da figura de Romieta criança.
BOM-BOM DE CAFÉ: representa a figura de Julieu criança.
As crianças, em geral gostam de balinha/bom-bom.
MARACUJÁ (calmante)  está em oposição a CAFÉ (estimulante).
O comportamento de Romieta (agitada/ativa) está em oposição ao de Julieu (calmo/passivo). Uma forma simbólica de equilibrar os contrários.
ROMIETA + MARACUJÁ.
JULIEU + CAFÉ.
BALINHA: uso na linguagem culta.
BOM-BOM: uso na linguagem comum.
O fato de estes dois elementos reaparecerem no final da história simboliza o fato de eles conservarem ainda “algo” da infância.
MARACUJÁ = COMPRIMIDOS CALMANTES (adulto)
CAFÉ = A FORÇA FÍSICA/RAIVA/IMPACIÊNCIA (adulto)
Foi preciso que ela se acalmasse pelo uso excessivo de calmantes (desmaiasse) para refletir.
Foi preciso que ele usasse da força física gerada pela raiva e impaciência (jogou-se contra a porta e se machucado) para refletir.
23.  Inclusão o elemento infantil: mostrar o estado inicial de pureza.
24.  Nomes: costume bem comum no interior – a junção de parte do nome do pai com parte do nome da mãe – homenagem.
JULIEU = JULIÃO + EULÁLIA
ROMIETA = ROMÃO + ANTONIETA
25.  Obra: COMÉDIA ROMÂNTICA em oposição à TRAGÉDIA/DRAMA
de Shakespeare - (ROMEU E JULIETA).
26.   FERREIRA e GOMES : duas famílias típicas/oriundas de Sobral.
27.  Características da COMICIDADE/COMÉDIA: OBRA OU REPRESENTAÇÃO TEATRAL EM QUE PREDOMINAM A SÁTIRA E A GRAÇA: FATO RIDÍCULO + FINGIMENTO + SIMULAÇÃO PROVOCANDO O RISO.
28.   Nem todas as idéias são expressas de forma explícita, algumas são sugeridas e outras são simbólicas (como se pode notar pelo uso de elementos simbólicos).
29.  Nenhum dos personagens é mal: ou então têm uma maldade ingênua.
30.  Uso excessivo de sinais gráficos: não se resumem a pura ESTILÍSTICA. Tem um objetivo, a SUBJETIVIDADE. (...)/ (?)/ !!!/???/ ?!!/!??/ “” ...
31.   Há a presença de monólogo interior e não interior, embora mínimos e breves.
32.  Há a presença de FLASHES BACK (recordações) que quebram por duas vezes a linearidade da narrativa/da história.
33.  Há a mistura dos tempos: PRETÉRITO + PRESENTE.
34.  O texto contem NARRADOR: (?)
OBJETIVO/COMUM – narrador observador: a história parece se narrar sozinha.
IMPLÍCITO – narra em terceira pessoa
ONISCIENTE – vê e sabe tudo (comenta, analisa e critica)
35.  No início se pensa que a personagem Regina Café irá relatar/narrar a história, mas a autora toma a frente.
36.  “PRÍNSAPO” = PRÍNCIPE + SAPO : NEOLOGISMO e “BYE” Provas do conhecimento de linguagem de Romieta.
18. Capítulo: “NÃO FALO, NÃO OUÇO, NÃO VEJO” – clichê bastante conhecido representado pelos três macacos: mão na boca, mãos nos ouvidos e mãos nos olhos. Não encontrei expressão melhor para nomear/representar o capítulo “secreto”.
37.  Se uma pedra representa obstáculo, alguma coisa que nos impede de ir para a frente e nos faz parar, um padre bem que poderia ser exatamente o contrário, alguém que empurre para frente, dê um andamento às “coisas”. Daí: “TINHA UM PADRE NO MEIO DO CAMINHO” + LEVA-E-TRAZ... E O PADRE NO MEIO.
38.  SEMPRE AOS DOMINGOS: uma alusão a um filme com este mesmo nome.
39.  Passo a passo, no decorrer da história há uma aproximação (simbólica/ das situações) dos nomes: JULIEU e ROMIETA.
40.  Tipos de DISCURSO:
DIRETO:  APRESENTAÇÃO POR DIÁLOGOS. REPRESENTAÇÃO TEXTUAL DAS PALAVRAS DA PERSONAGEM. (MAX)
INDIRETO: O NARRADOR TRANSMITE, COM AS PRÓPRIAS PALAVRAS, O PENSAMENTO EXPRESSO PELOS PERSONAGENS (MED)
INDIRETO LIVRE: HÁ A IDENTIFICAÇÃO/COMPARTILHAMENO DE EXPRESSÕES DE SENTIMENTOS ENTRE PERSONAGENE E NARRADOR (ONISCIENTE) (MIN)
22. Os DIÁLOGOS revelam: os perfis dos personagens, retratam o modo de ser, o que pensam, o que desejam, como julgam a si e os outros, o que sabem, sua “fala”, seus costumes e o seus caráteres entre outras coisas.
41.  (+/-) uma PARÓDIA.
42.  Obra de REALISMO/REALISTA.
43.  ( +/-) Romance de TESE: DETERMINISTA a bondade natural acaba por se manifestar e se impor.
44.  REALISMO EMOTIVO OU HUMANITÁRIO
45.  INTECIONALIDADE: em primeiro lugar tive a intencionalidade de divertir, mas o livrinho também instrui, quando mostra as diferentes formas de falar dos personagens; educa, quando trata do assunto das relações entre pais e filhos, a fraternidade,  a solidariedade, e os relacionamentos de amizade; emociona no momentos de “revelação” e “resolução” e por fim acaba por conscientizar que devemos dar aos outros a chance de explicar-se/de defesa/ de contar a sua versão e não se deixar levar pelas aparências das coisas e pessoas.
29. (+/-) TEATRO





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